segunda-feira, 19 de março de 2012

Primeiro eu

Estava eu na rua, levando o cachorro em seu passeio matinal, quando um fusquinha velho - tem fusca novo em algum lugar do mundo, hoje? - e um pouco judiado, com uma escada sobre o teto e dois senhorzinhos dentro, parou ao meu lado, e o passageiro me perguntou:
_ Moço, tem como a gente pegar a Bandeirantes e o túnel?
Todo solícito, respondi:
_ O senhor desce a rua até o final, vira à esquerda, e entra na primeira à direita - é uma transversal - que vai sair na Bandeirantes, na direção do túnel.
_ Ah, desce e pega a direita, né?
_ Primeiro o senhor desce a rua, vira à esquerda, e então a primeira à direita - expliquei de novo, querendo ajudar a dupla grisalha a encontrar seu caminho.

Agradeceram, seguiram em frente, e viraram na primeira rua à esquerda, ao invés de descer a rua até o final para então virar à esquerda conforme eu dissera.

Assobiei, acenei, mas não me ouviram nem me viram; arrastei o cachorro - coitado, que queria cheirar um muro promissor - até a esquina em que o fusquinha tinha virado e o avistei parado na próxima esquina, pedindo informações a outra pessoa, e depois descendo a outra rua, um pouco mais na direção correta.

Com o coração mais aliviado, me acalmei e comecei a me perguntar o porquê da ansiedade, da sensação de culpa por aqueles dois terem entendido errado minha informação, do porquê eu me sentir responsável pelos erros dos outros quando tinha feito a minha parte da melhor maneira possível... e o que consegui atinar foi a mania de querer salvar o mundo e todo mundo, consertar as coisas, por mais absurdo que isso pareça ou incapaz de tanto que eu seja - resultado de tendências naturais minhas (e de muita gente também), mas agravado por condicionamentos desde criança para cuidar do mundo lá fora em detrimento do eu daqui de dentro (claro que tem gente na situação contrária, mas isso é tema para outro dia).

Qual é a solução para sair desse condicionamento? É cuidar primeiro do meu interior, para então atuar no exterior de maneira consciente, equilibrada e eficaz - e não tomar para mim o que é dos outros, seja a compreensão da situação ou a consequência das suas ações.

Antes de cuidar do mundo, primeiro eu, senão nem chego no mundo.

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