segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Reflexões pela janela do meu carro

Por motivos diversos, deixei de ir ao trabalho em pé no metrô lotado e passei a ir sentado em meu carro no trânsito congestionado.
Dia desses, em que deve ter tido algum congresso de congestionamentos na cidade - tudo parado em todos os lugares, inclusive no meu caminho - aproveitei para ouvir um bom e velho rock'n'roll no rádio e prestar atenção no mundo à minha volta.
Primeiro prestei atenção aos ciclistas: tinha um bocado de gente pedalando e chegando aos lugares muito mais depressa do que os carros encalacrados no congestionamento a perder de vista. Todos de capacete, nem todos de luvas, mas nenhum com máscaras - não por causa da gripe suína, mas sim da quantidade de partículas sólidas emitidas pelos escapamentos dos ônibus, caminhões e carros como o meu - ei, estou de vidro aberto, deixa fechar o vidro pra diminuir a quantidade que EU mesmo estou mandando para os meus pulmões! Se estivesse chovendo essas partículas seriam literalmente varridas mais rapidamente do ar, mas os ciclistas não gostariam muito de pedalar molhados - EU com certeza não gosto!
A seguir reparei nos motociclistas: são muitos, muuuuiiiitos, MUITOS, trabalhando ou indo para o trabalho. Às vezes surgem em grupos como um enxame de marimbondos nervosos, ocupando todos os mínimos espaços disponíveis, com uma agilidade e um sangue-frio de artista de circo. E como esses artistas, se houver uma falha, as conseqüências são sérias. Ser motociclista em Sampa não é fácil - nem para as motos, nem para os carros. Será que o risco vale tanto a pena?
Por fim, meus confrades motoristas: não tabulei os dados, mas parece haver uma relação diretamente proporcional entre o aumento da quantidade de veículos e do tamanho dos congestionamentos, com a perda do raciocínio e da civilidade por parte dos motoristas. Pessoas começam a ignorar as leis da boa educação e da física - "dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo" - e, para avançarem alguns metros, que logo adiante serão ultrapassados pela outra fila de carros, dão fechadas, buzinam, xingam, fingem não ver os outros... enfim, fazem o tipo de coisa que dizem aos filhos que não deve ser feito e que se revoltam quando alguém as faz com eles. Triste, triste.
E de vez em quando aparece uma ambulância tentando deseperadamente avançar, com sua sirene empurrando os carros para fora do seu caminho. Quando consigo finalmente arrumar algum espaço e dar passagem, lá vem a nuvem de motocicletas atrás da ambulância, e a seguir alguém com mais pressa ainda, aproveitando a pequena brecha que liberei e me impedindo de voltar de cima da calçada ou do meio-fio em que me enfiei para liberar a passagem...
O mais estranho é que esses problemas - congestionamentos, poluição, barbárie causada pelo stress - são causados por já haver veículos demais nas ruas, e quando as montadoras passam a vender menos é sinal de crise, com intervenção dos governos para manter as vendas elevadas, entupindo as ruas e avenidas, sujando o ar e produzindo mais desequilibrados sobre rodas.
Curioso também é eu ter refletido sobre isso DENTRO DE UM CARRO, NO MEIO DO TRÂNSITO. E isso só foi possível porque o trânsito estava parado e eu, ao invés de querer sair andando carregando meu carro e toda aquela neura junto para chegar de qualquer maneira ao meu destino, resolvi esperar que, como a vida, o trânsito voltasse a fluir conforme fosse possível.
Parafraseando um ditado, "Se não podemos controlar o vento, ajustemos as nossas velas".