domingo, 25 de janeiro de 2015

PARABÉNS!

Fazer aniversário é bom porque mostra que estamos vivos, firmes e fortes – Alive And Kicking, como já cantava o Simple Minds.

Tem gente que não gosta de fazer aniversário, porque diz que isso lhes recorda que estão ficando velhos. Mas, tecnicamente falando, ficamos velhos a cada dia e o aniversário é só a oficilialização desse envelhecimento em um número definido de anos.

A primeira alternativa para não ficar velho é não ficar velho da cabeça: o mundo está cheio de velhos de vinte anos e de jovens de setenta anos. O corpo físico segue um ciclo natural de nascimento, crescimento, plenitude, decadência e final de ciclo – para algum dia começar de novo, numa infinita espiral ascendente.

A segunda alternativa para não ficar velho é, bem,  não viver. Mas aí não tem graça.

Quando eu era criança, fazer aniversário era sinônimo de ter bolo para comer, uma iguaria rara na vida simples da minha casa.

Na adolescência, fazer aniversário era legal porque ganhava algum presente, e assim me sentia menos distante do tipo de vida de meus colegas e conhecidos.

Adulto, ficava contente com os aniversários porque era dia de comemorar com os amigos, ver e ser visto.

Mas agora, mais maduro (e mais velho, claro!), aniversários são oportunidades preciosas em que chegam mensagens – pessoalmente, por telefone, por WhatsApp, e-mail, Facebook, sinal de fumaça – de pessoas com quem compartilhei algum momento de minha jornada e que a Vida, única como são os caminhos de cada pessoa, temporariamente afastou ou pelo menos diminuiu a convivência.

Mais importante que cada mensagem ou que cada ícone sorridente, é a recordação que vem associada à pessoa que fez o contato: romper o espaço-tempo e acessar novamente momentos valiosos, aquecer o coração ao lembrar-me de acontecimentos marcantes e de companhias queridas, não tem preço.

Por isso, por mais simples que seja um Parabéns!, e mesmo que não seja exatamente no mesmo dia do aniversário, ele é valiosíssimo.


Além disso, como ensinaram a Lebre Maluca e o Chapeleiro Louco a Alice, naquele Maravilhoso País distante, cada pessoa tem um aniversário por ano, e 364 desaniversários. Então, PARABÉNS pelo seu (nosso) Feliz Aniversário! Ou pelo Feliz Desaniversário! O importante é: seja FELIZ! (e com os amigos, fica mais fácil).

Os passeios do Luka: diálogos



Au!

Num dos últimos passeios em que levei meu humano para a rua, repetiu-se um acontecimento frequente: outros humanos que, normalmente, no máximo soltam um “Bom dia” quase inaudível – para os humanos, porque nós, cães, escutamos muito bem – se aproximam, atraídos pela minha presença, sorriem, conversam comigo, e a princípio para não ficar mal, e depois porque recuperam um pouco do seu traço social, conversam também com meu humano.

Os humanos andam cada vez mais ausentes de espírito, preocupados, sisudos, perdidos em pensamentos ou nas telas dos seus pequenos aparelhos sempre presentes, e cada vez mais eles se esquecem de que também são animais sociais.

Felizmente existo eu e meus irmãos caninos, para ajudar a reconectar esses bípedes pelados com um pouco da sua essência social; é irresistível ver um cachorro simpático e não sorrir ou puxar conversa, ficar indiferente.

Meus amigos gatos podem ser campeões de vídeos fofinhos no FaceBook, mas cachorros são imbatíveis para um bom diálogo em carne e osso.


Au!

As preces dos monges copistas

Semanas atrás, conversando com dois amigos – pai e filho – eles comentaram sobre uma das matérias da faculdade que estão fazendo juntos. O pai estava preocupado porque fez em três horas o trabalho que o resto da classe – o filho incluído – levou uma semana para fazer.

Ele estava preocupado porque fez o trabalho acadêmico baseado em sua experiência de mais de vinte anos de trabalho profissional naquele assunto, enquanto que os demais alunos fizeram baseados no procedimento cada vez mais comum de acessar várias fontes de pesquisa e basicamente copiar e colar... e não sabia se o professor apreciaria o valor vivencial que ele, aluno de maior idade e experiência, trazia ao trabalho.

Isso me fez pensar na maravilha do Copiar-e-Colar, ou Copy/Paste, ou Control-C/Control-V: em instantes podemos juntar várias fontes distintas de informação, numa velocidade que os cada vez mais potentes computadores aumentam sem parar.

Em suas entranhas eletrônicas, com os bits de informação fluindo quase à velocidade da luz, os computadores fazem apenas algumas funções básicas, como somar, comparar e duplicar dados, mas essas funções primordiais são combinadas em funções mais complexas e executadas a velocidades alucinantes. A z13,  modelo mais recente de mainframes comerciais da IBM, que mantêm funcionando o cerne das principais empresas da Economia mundial, chega a 141 processadores e executa 110 bilhões de instruções por segundo... e você achava que seu smartphone era poderoso, né?

Como chegamos a tanta velocidade e tanto poder de replicar informação? Eu acho que foi devido às preces dos monges copistas.

Por séculos, o conhecimento foi passado oralmente, de uma geração a outra. A escrita foi desenvolvida e ajudou a preservar e transmitir melhor esse conhecimento. Mesmo assim, a disponibilidade de material – pedra, argila, material feito a partir de fibras vegetais – para registrar as informações de forma a serem decodificadas e compreendidas, e a capacidade de registrar e depois recuperar a informação, levou ainda bastante tempo para se ampliar.

Saber ler e escrever foi, por séculos, assunto árduo e acessível a poucos. O conteúdo dos livros tinha de ser desenhado letra por letra, formando as palavras individuais que se juntavam em frases e assim estruturavam os temas registrados.

Livros – e toda forma de conhecimento escrito – era coisa preciosa e única. A divulgação de qualquer obra requeria o concurso deles, os monges copistas, que podiam levar anos para duplicar um livro.

Devem ter sido tantas as preces desses monges, que finalmente a imprensa foi inventada, e a duplicação dos textos passou a acontecer de forma cada vez mais abundante.

Mas foi no século XX, com a Informática, os computadores e os meios eletrônicos de armazenamento de dados, que duplicar e divulgar praticamente qualquer tipo de informação – escrita, sonora ou visual – se tornou possível. O Copy/Paste foi a resposta definitiva aos séculos de preces dos monges copistas.

Só que ficou tão fácil Copiar e Colar, que cada vez mais gente junta as informações, ajeita a apresentação (mesmo tipo e tamanho da fonte do texto), ou às vezes nem isso, e já passa o produto adiante, sem aproveitar o conteúdo ou nem mesmo se interessar pela consistência do que foi feito e da importância que aquilo poderia – ou deveria – ter.

Tomara que os monges copistas tenham orado também pelo amadurecimento e iluminação de seus sucessores, para não ficarmos apenas replicando as informações sem saber direito para que elas servem.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Os passeios do Luka: fogos, bah!



Au!

Nesse primeiro dia do novo ano, em meu passeio matinal as ruas estavam desertas. Só um ou outro humano surgia, de vez em quando, para provar que a cidade não fora evacuada durante a noite, após aquela barulheira infernal dos fogos.

Fogos, bah! Se esses humanos tivessem metade da capacidade auditiva que os cães têm, não estourariam essas coisas, nem ficariam festejando com o som tão alto que parece que não é o ano que está acabando, é o mundo!

Meus irmãos caninos ficam tão assustados, que o trauma é inevitável. Seus humanos, que realmente se importam com eles, ainda não conseguiram convencer os outros humanos sobre a necessidade da moderação.

Aliás, pelas discussões que dava para ouvir entre os alcoolizados ou os que queriam continuar a festança barulhenta madrugada a dentro, e os que pedem o respeito às leis e ao bom senso para poderem descansar, fico me perguntando como esses bípedes pelados querem que o Ano Novo seja realmente de paz, amor e coisas boas, se logo no primeiro instante já estão fora de si, querendo apenas o que julgam ser seus "direitos" e sem respeitar os dos outros humanos, que dizer então dos direitos dos animais?

E depois o irracional sou eu...

Au!