quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Depois que o mundo não acabou


Depois que o mundo não acabou, as contas continuaram chegando e os sistemas informatizados dos bancos não perderam o fôlego para calcular e cobrar juros e multas por atraso.

Sem vulcões, terremotos, tsunamis, inversão dos polos magnéticos ou desinclinação do eixo da Terra, o jeito foi pegar a moto ou o carro, ou tomar o ônibus, trem ou metrô, e ir para aquele trabalho que muita gente comemorava que não veria mais.

Os times que foram campeões continuaram campeões, e os demais continuaram desejando que o ano fosse esquecido logo - alguns querendo até que a História fosse esquecida ou reescrita.

As desigualdades sociais e todos os demais problemas continuaram onde estavam: nenhuma nave apareceu com ETs para nos salvar, independentemente da nossa cor, classe social, credo, sexo ou culpas passadas. A responsabilidade e o trabalho para melhorar continuam por conta de cada um.

O mundo, que não acabou, continua não sendo justo, mas apenas um componente do processo de materialização da justiça, que se estende pelo tempo e pelo espaço.

Será que agora vai ser mais fácil aprender a fazer as coisas certas, sem precisar da ameaça do fim do mundo - ou sem precisar que o mundo acabe de verdade?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Vivendo em sobrecarga

Pouco mais de um mês atrás, quando dava consultoria de TI em uma grande empresa de tecnologia, uma coisa me chamou a atenção: a analista de sistemas, a quem eu estava atendendo, estava dispersa e até sua digitação, normalmente rápida, estava errática e cheia de erros.

Numa pausa das atividades, perguntei a ela se estava tudo bem, e veio a explicação: com sintomas de gripe, resfriado ou "virose" - termo muito recorrente ultimamente -, a moça estava tomando remédios para combater os sintomas; a contrapartida é que ela estava com o raciocínio mais lento e a coordenação motora prejudicada, os famosos efeitos colaterais dos remédios alopáticos.

Quando estamos com uma doença, o corpo reage com uma série de sintomas para nos avisar que algo não está bem, e geralmente requer que a energia gasta em tarefas cotidianas seja redirecionada para o sistema imunológico combater as causas da doença, daí a necessidade de repouso.

Mas o que 99,99999 % das pessoas faz é tomar algum remédio para combater os sintomas, e não cuidar da causa. Muitas vezes o médico recomenda, sim, o repouso, mas uma vez eliminado o desconforto dos sintomas, a pessoa procura seguir em frente como se não estivesse doente, colocando seu organismo em sobrecarga.

E por que fazemos isso? Porque nos habituamos a viver em sobrecarga: a demanda pelos nossos serviços, seja no âmbito profissional, familiar, escolar ou social, não para de crescer, e poucos de nós tem a percepção e a coragem de admitir que a partir de um dado limite, somos incompetentes, por pura razão física - falta de tempo e de recursos suficientes -, para dar conta de tudo que nos é solicitado.

No caso da moça citada anteriormente, apesar de apenas ela realizar aqueles serviços, o receio das (imaginadas) implicações - avaliação ruim por parte da sua chefia, com baixa nos bônus anual (PLR, PPR, etc) e até possível demissão futura em tempos de corte de gastos - da sua ausência por alguns dias  para se recuperar adequadamente, era maior que a percepção que se estiver saudável e equilibrada ela produz melhor...

Nas grandes corporações - e nas médias e pequenas também, pois elas atendem às grandes - tratar as pessoas como recursos substituíveis e intercambiáveis, como se fossem peças de máquinas, tem sido cada vez mais frequente, indo na contramão das campanhas de marketing das próprias grandes empresas, onde se valoriza a diferença, a criatividade e a liberdade. Pense em quantas propagandas vemos na TV, internet, cinema, etc, mostrando jovens pulando, dançando, rindo, fazendo coisas diferentes e criativas - propagandas quase sempre patrocinadas por grandes empresas - e como isso contrasta com o ambiente dentro dessas mesmas empresas, onde uma hierarquia rígida e normas conservadoras de vestimenta, conduta e comunicação dão uma cara mais de século XIX do que de Era de Aquário.

O medo da perda - perda do emprego e assim do status, da segurança, do leite das crianças e da cerveja dos marmanjos - impede que as pessoas admitam que são competentes até determinado ponto, que a velocidade de assimilação e produção é limitada por fatores biológicos e psicológicos e não por cronogramas cujo único objetivo é um aumento de produtividade para maior lucro dos acionistas.

Assim, vivemos em sobrecarga, e ao invés de parar, analisar, ponderar e então agir, passamos apenas a reagir. Fica mais fácil para quem quer nos direcionar a consumir, votar e realizar aquilo que é mais adequado a eles, e não a nós.

Para aumentar nossa eficiência, é preciso fazer MENOS, para fazer MELHOR; admitir nossa incompetência a partir de certo nível; e parar de deixar o nosso destino nas mãos dos acionistas e seus inúmeros capatazes.

Entre as inúmeras coisas que não podem ser terceirizadas nesta vida, VIVER A NOSSA PRÓPRIA VIDA é uma delas, e com certeza a mais importante.

Viver em sobrecarga eventualmente, por determinada circunstância, é compreensível; viver assim todos os dias, não é admissível.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Solidão

Solidão é a multidão
de rostos sem face
e sem amor no coração

Solidão é a ilusão
dos sentidos finitos
perante a imensidão

Solidão é a tentação
de olhar só para fora
e ignorar a própria pulsação

Solidão é a decepção
de tentar só caminhos fáceis
em busca da iluminação

Solidão é a contração
da mente, sentimento e razão,
e esquecer que a vida é expansão

Solidão é a negação
de que somos todos um
desde a aurora da Criação

Solidão, teu antídoto é a Conexão:
é estar num deserto
ou em qualquer ponto do universo
e nunca deixar de sentir a ligação
com todos que já se foram, estão ou virão.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Signos em números


_ A pessoa não é um signo só, ela tem todos.
A frase foi dita pela minha amiga Jerusa, astróloga como eu, respondendo a uma das várias perguntas após a palestra que demos na loja Vila Zen de Moema, no início de abril/2012.

Lembrei disso numa madrugada insone e quase febril, quando não conseguia dormir e entre tantas coisas na cabeça passou meu projeto de pesquisa em astrologia na Gaia, envolvendo consultas astrológicas. Pensando nos mapas que já li nos atendimentos, concordei com aquela frase: ninguém que eu já tenha visto (o mapa) é 100% um signo, não vi ainda um Capricorniano puro-sangue ou algo assim; sempre tem umas tintas de outros signos.

Aprendemos que o Ascendente e a Lua influenciam nessa composição. Mas a composição por elementos e modos também fazem essa definição ficar mais complexa.

Comecei, então, a brincar com a ideia de quantificar a participação de todos os signos no mapa natal das pessoas, sofisticando esse sistema de pontos de elementos e modos que são usados hoje em dia.

Achei que isso me ajudaria a dormir, mas fiquei mais acordado ainda! E acabei me saindo com esta fórmula para quantificar os signos de uma pessoa:

I- Pontuar os planetas nos signos, seguindo os valores-padrão do software Pegasus: 1 ponto para cada planeta, 2 pontos para os luminares;

II- Pontuar os planetas nas Casas, com os mesmos valores do item I, e fazer a equivalência Casa-signo;

III- Atribuir 3 pontos a cada signo em Casa Cardinal, 2 em Casa Sucedente, e 1 em Casa Cadente;

IV- Atribuir 2 pontos a cada signo cujo regente esteja em Casa Cardinal;

V- Considerar a dignidade planetária: 2 pontos a mais para signo cujo regente esteja em domicílio e em queda (está reprimido, mas está forte), 1 para os que estejam em exaltação e em exílio (idem), 0 para os neutros.

VI- considerar os planetas sem aspecto: +2 pontos.

Vamos a um exemplo prático com este mapa:




I- planetas nos signos:
Leão: Urano = 1 ponto
Virgem: Lua, Plutão = 3 pontos
Escorpião: Netuno = 1 ponto
Capricórnio: Marte = 1 ponto
Aquário: Sol, Mercúrio, Vênus, Júpiter, Saturno = 6 pontos


II - planetas nas Casas:
Casa 1 <=> Áries: Urano, Plutão, Lua = 4 pontos
Casa 3 <=> Gêmeos: Netuno = 1 ponto
Casa 6 <=> Virgem: Marte, Sol, Vênus, Júpiter, Saturno = 6 pontos
Casa 7 <=> Libra: Mercúrio = 1 ponto 


III - signos nas Casas:
- Cardinais:
Casa 1: Leão = 3 pontos; Virgem (interceptada) = 3 pontos
Casa 4: Sagitário = 3 pontos
Casa 7: Aquário = 3 pontos; Peixes (interceptado) = 3 pontos
Casa 10: Gêmeos = 3 pontos
- Sucedentes:
Casa 2: Libra = 2 pontos
Casa 5: Sagitário = 2 pontos
Casa 8: Áries = 2 pontos
Casa 11: Gêmeos = 2 pontos
- Cadentes:
Casa 3: Escorpião = 1 ponto
Casa 6: Capricórnio = 1 ponto
Casa 9: Touro = 1 ponto
Casa 12: Câncer = 1 ponto


IV - regentes em Casas Cardinais:
Casa 1: Urano (rege Aquário) = 2 pontos, Plutão (rege Escorpião) = 2 pontos,
  Lua (rege Câncer) = 2 pontos
Casa 7: Mercúrio (rege Gêmeos e Virgem) = 2 pontos (para cada signo)


V - Dignidades:
Sol em Aquário - em exílio = 1 ponto (regente de Leão) 
Mercúrio em Aquário - em exaltação = 1 ponto (regente de Virgem e Gêmeos) 
Marte em Capricórnio - em exaltação = 1 ponto (regente de Áries e Escorpião) 
Saturno em Aquário - em domicílio = 2 pontos (regente de Capricórnio e Aquário)
Urano em Leão - em exílio = 1 ponto (regente de Aquário)


VI - Planeta sem aspecto:
Marte - regente de Áries e Escorpião = +2 pontos

Para facilitar conta, coloquemos isso tudo numa planilha:

Signo Item I Item II Item III Item IV Item V  Item VI Pontos
Áries 4 2 1 2 9 11%
Touro 1 1 1%
Gêmeos 3 5 2 1 11 14%
Câncer 1 2 3 4%
Leão 1 3 1 5 6%
Virgem 3 6 3 2 1 15 19%
Libra 1 2 3 4%
Escorpião 1 1 2 1 2 7 9%
Sagitário 5 5 6%
Capricórnio 1 1 2 4 5%
Aquário 6 3 2 3 14 18%
Peixes 3 3 4%
Total 80 100%

Ou seja, esta pessoa que estamos acostumados a pensar apenas como (Sol em) Aquário, ou no máximo também com Ascendente em Leão e Lua em Virgem, é assim:

19% Virgem
18% Aquário
14% Gêmeos
11% Áries
9% Escorpião
6% Sagitário, Leão
4% Câncer, Libra, Peixes
1% Touro

Essa composição é bem parecida com o que essa pessoa é. 

Hm, será que foi coincidência, ou sorte de astrólogo-matemático principiante? Se você é astrólogo e estiver com paciência, aplique essa contaiada nos mapas de algumas pessoas e veja se os resultados batem com o perfil dela - e me conte ;-)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Lá vem o Sol

Anteontem estava em Brasília e acordei bem cedinho, para fazer Yoga e meditar, e vi o Sol nascer como há muito tempo não o via: com os olhos da alma.

À beira do lago, sem obstáculos que atrapalhassem a visão do nascente, a janela do quarto em que eu estava no hotel permitiu a visão completa do céu e assim pude apreciar toda a palheta de cores que pintava o céu antes, durante e depois do nascer do Sol.

Resisti ao reflexo condicionado que hoje praticamente todos nós temos, de correr para a máquina fotográfica, ou para a câmera do celular e registrar o momento em milhões de pixels e de cores para depois postar no Facebook, Instagram, Flickr ou outro meio social onde mostramos algo e logo em seguida esquecemos daquilo porque já estamos dando atenção a outra coisa...

Assim, apreciei de forma incompartilhável, mas imprescindível, apenas com os olhos, curtindo cada nuance de cor, de detalhe, de energia, coisas que só quem vivencia - vive ao vivo, como o nome diz - consegue sentir; o resto, é descrição metafórica.

Pela astronomia - cujos conceitos ainda tenho, mas cujos detalhes estão soterrados por milhões de detalhes de outros assuntos - nosso Sol é uma estrela medíocre entre trilhões de trilhões de trilhões de zilhões de estrelas pelo universo a fora, uma enorme fornalha atômica convertendo hidrogênio em hélio e gerando as radiações - entre elas o calor e a luz que permitem a vida como a conhecemos na Terra. Ele também mantém todo o sistema solar coeso, pela força de sua gravidade.

Na astrologia, esse Sol representa nossa essência, nossa luz, aquilo que somos e colocamos na vida cotidiana.

Pela razão materialista científica, tanto o Sol quanto nós, somos apenas uma complexa interação de partículas subatômicas e ondas de probabilidade quântica.

Pela compreensão que o sentimento traz, o Sol é peça fundamental para vida, sim, mas acima de tudo é a luz que nos inspira, aquece e orienta.

De beleza ímpar, o Sol faz o mesmo belo espetáculo, mas sempre com alguma variação no céu, 7 dias por semana, 365 dias por ano... dê a si mesmo a oportunidade de (re)descobrir o nascer (ou o pôr) do Sol: é lindo, é grátis, e faz muito bem à alma.

E para você não achar que sou só eu que acho isso, nem precisa ver o que incas, egípcios e tantas outras culturas já diziam há milhares de anos; apenas curta o que os Beatles registraram em sua canção Here Comes The Sun (no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=U6tV11acSRk) e veja a letra + tradução (http://letras.mus.br/the-beatles/179/traducao.html):

Here Comes The Sun

Here comes the sun
Here comes the sun
And I say
It's all right

Little darling
It's been a long cold lonely winter
Little darling
It feels like years since it's been here
Here comes the sun
Here comes the sun
And I say
It's all right

Little darling
The smiles returning to the faces
Little darling
It seems like years since it's been here
Here comes the sun
Here comes the sun
And I say
It's all right

Sun, sun, sun, here it comes...
Sun, sun, sun, here it comes...
Sun, sun, sun, here it comes...
Sun, sun, sun, here it comes...
Sun, sun, sun, here it comes...

Little darling
I feel that ice is slowly melting
Little darling
It seems like years since it's been clear
Here comes the sun
Here comes the sun
And I say
It's all right
Here comes the sun
Here comes the sun
It's all right
It's all right

Lá Vem o Sol

Lá vem o sol,
Lá vem o sol
E eu digo
Que está tudo bem

Queridinha,
Tem sido um inverno longo, frio e solitário
Queridinha,
Parece que fazem muitos anos desde que ele esteve aqui
Lá vem o sol,
Lá vem o sol
E eu digo
Que está tudo bem

Queridinha,
Os sorrisos voltaram aos rostos,
Queridinha,
Parece que fazem muitos anos desde que ele esteve aqui
Lá vem o sol,
Lá vem o sol
E eu digo
Que está tudo bem

Sol, sol, sol, aqui vem ele ...
Sol, sol, sol, aí vem ele ...
Sol, sol, sol, aí vem ele ...
Sol, sol, sol, aí vem ele ...
Sol, sol, sol, aí vem ele ...

Queridinha,
Eu sinto que o gelo está derretendo lentamente
Queridinha,
Parece que fazem muitos anos desde que ficou claro
Lá vem o sol,
Lá vem o sol
E eu digo
Que está tudo bem
Lá vem o sol,
Lá vem o sol
Está tudo bem
Está tudo bem

sábado, 11 de agosto de 2012

Espírito olímpico, atualizado

Nesses últimos dias dos Jogos Olímpicos em Londres-2012 relembro o que assisti em várias modalidades e li na cobertura dos eventos, e o tão divulgado "espírito olímpico" - simplificação da frase atribuída ao Barão Pierre de Coubertin, "o importante é competir" - me parece ter sido reduzido a mero artifício de marketing.

Como assim? Em primeiro lugar, vi americano naturalizado brasileiro, ucraniano naturalizado espanhol, técnico argentino comandando time brasileiro, uma ginasta em sua quinta olimpíada e pelo terceiro país, e por ai vai... efeitos da globalização, ou da profissionalização também na prática esportiva, onde o atleta-técnico-trabalhador vai exercer sua função onde tem melhor remuneração?

Nada contra o sujeito buscar a melhor remuneração para seu trabalho; só não dá para engolir o discurso de patriotismo de políticos, dirigentes e parte da imprensa. Me lembra da famosa legião estrangeira, onde soldados de qualquer nacionalidade lutavam, por dinheiro, pela França (existem inúmeros outros exemplos na história, mas este talvez seja o mais conhecido).

Há muito tempo não se luta pela vitória do país, mas sim do empregador - seja ele um banco, fabricante de eletrônicos, cerveja, refrigerante, ou governo de país. O conceito de país ou de nação foi sendo minado pelo conceito da corporação que dá trabalho e gera recursos e riquezas? Hum, coisa para se pensar...

A segunda contradição a "o importante é competir" é ver as tantas críticas a quem não chega ao topo do pódio, principalmente aqueles que estavam com resultados vitoriosos ou considerados em boa fase. A crítica é ácida, implacável, e ignora no mínimo duas coisas muito básicas: assim como o Highlander, primeiro colocado só pode ter um; e a outra coisa é que retrospecto só cria expectativa, não ganha nada por antecipação.

E a pá de cal nesse conceito de que competir é mais importante que ganhar, vem nos muitos casos de doping e a busca constante de produtos e substâncias que aumentem o desempenho e não sejam (ainda) considerados ilegais, ou não possam ser detectados em exames.

Ah, e sem esquecer que outra frase muito divulgada - "esporte é saúde" - também é enganadora: esporte de alto nível, competitivo e contínuo faz mal à saúde, pelas lesões que causa e o custo ao organismo e ao equilíbrio (físico, emocional, psicológico, mental, espiritual, social) da pessoa.

 Como não vejo uma volta aos tempos mais românticos e patrióticos nos Jogos Olímpicos - e nos demais esportes, também - proponho parar com os eufemismos e discursos hipócritas/vazios, e criar outras categorias de disputa:

- Jogos Olímpicos Profissionais: para os atletas profissionais, os que hoje disputam as diversas modalidades dos Jogos Olímpicos. Essa categoria manteria as disputas de alto nível que hoje existem e os "empregos" desses atletas;

- Jogos Olímpicos Vale-Tudo: sem exame antidoping, sem controle de substâncias, uso de próteses e equipamentos adicionais liberados... já que na prática é "o importante é competir, desde que o vencedor seja eu". Produto direto da cultura de videogames e da mentalidade de querer vencer a qualquer custo;

- Jogos Olímpicos Amadores: só para atletas amadores, aqueles que trabalham em outra profissão e praticam algum esporte por hobby. Uma recompensa ao sujeito que realmente pratica esporte por gostar e sem necessidade de atropelar a ética. Tais atletas seriam cadastrados em seus países e escolhidos por sorteio do COI poucos meses antes dos jogos, para evitar que esses amadores ficassem com as mesmas condições dos atletas profissionais;

- Jogos Olímpicos do Povão (ou "Pelada Olímpica"): só para pessoas comuns, não-atletas, como aqueles que trabalham a semana toda e batem uma bolinha no domingo. Essas pessoas também seriam escolhidas por sorteio poucos meses antes dos jogos.
Essa categoria seria o maior incentivo a que os governos.desenvolvessem e mantivessem programas para cuidar da saúde da população e de desenvolver atividades esportivas e de lazer, pois qualquer pessoa poderia ser chamada a representar a pátria e mostrar a verdadeira cara do país, e não apenas os poucos profissionais patrocinados como acontece hoje.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sonoridade da alma


Que o som é fundamental para a vida, está descrito em textos religiosos, como na Bíblia:

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens."

ou em religiões orientais:

'O Om (ॐ) é o mantra mais importante do hinduísmo e outras religiões. Diz-se que ele contém o conhecimento dos Vedas e é considerado o corpo sonoro do Absoluto, Shabda Brahman. O Om é o som do universo e a semente que "fecunda" os outros mantras. O som é formado pelo ditongo das vogais a e u, e a nasalização, representada pela letra m. Por isso é que, às vezes, aparece grafado Aum. Estas três letras correspondem, segundo a Maitrí Upanishad, aos três estados de consciência: vigília, sono e sonho. 


"Este Átman é o mantra eterno Om, os seus três sons, a, u e m, são os três primeiros estados de consciência, e estes três estados são os três sons" (VIII).


O pranava — o mantra Om — é a jóia principal entre os outros mantras; o pranava é a ponte para atingir os outros mantras; todos os mantras recebem seu poder do pranava; a natureza do pranava é o Shabda Brahman (o Absoluto). 


Escutar o mantra Om é como escutar o próprio Brahman, o Ser. Pronunciar o mantra Om é como transportar-se à residência do Brahman. A visão do mantra Om é como a visão da própria forma. A contemplação do mantra Om é como atingir a forma de Brahman" Mantra Yoga Samhitá, 73.'

Os nativos de todas as Américas, da África, ilhas do Pacífico e Oceania, tem um repertório riquíssimo e variado de sons e cantos para as mais diversas situações de seu cotidiano, guiados por seus homens santos/sábios, os xamãs.

Hinos, mantras, cantos, musicalidade, música: o processo de ressonância de ondas sonoras com o íntimo do ser humano. Difícil encontrar quem seja indiferente a essa manifestação vibracional que fala a áreas do cérebro que precedem o processo racional e se conectam rapidamente com o lado emocional.

Mexe com a alma.

Identifiquei em mim algumas formas pelas quais os sons mexem comigo, nesta ordem:
1- pela sonoridade dos instrumentos;
2- pelo ritmo da manifestação sonora;
3- pelo timbre de voz de quem canta;
4- pelo conteúdo do que é cantado;
5- pela combinação de dois ou mais desses elementos.

Assim, há uma quantidade enorme de sons, nas suas mais diversas manifestações, que mexem comigo.
Por exemplo, o som agudo e arrepiante das naves Shadow, na série de ficção científica Babylon 5, me transmite sensação de energia, força, mas com um peso (negativo) igualmente grande; o som de um gongo me faz vibrar em sintonia com ele, e sinos me fazem viajar astralmente com os olhos físicos abertos.

Mas vamos às músicas - às 5.549 (mais ou menos) que mexem comigo; vou começar pela que ouvi pouco antes de escrever isto, e que motivou escrever este post: GIMME SHELTER, dos Rolling Stones.

A sonoridade e ritmo de vozes e instrumentos é instigante, e a letra cala fundo; escrita em 1969, as frases têm tom áspero, inquieto, angustiante. Refere-se à Guerra do Vietnã, às agitações sociais que o mundo enfrentava na época, e nos faz pensar que infelizmente continua atual, e que também serve a épocas anteriores da história da humanidade... e felizmente conclui com a esperança do "amor apenas a um beijo de distância".

Confira a música no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=WJDnJ0vXUgw

e veja a letra a seguir:
GIMME SHELTER - The Rolling Stones


Oh, a storm is threat'ning
My very life today
If I don't get some shelter
Oh yeah, I'm gonna fade away


War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away


Ooh, see the fire is sweepin'
Our very street today
Burns like a red coal carpet
Mad bull lost its way


War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
War, children, it's just a shot away
It's just a shot away


Rape, murder!
It's just a shot away
It's just a shot away


Rape, murder!
It's just a shot away
It's just a shot away


Rape, murder!
It's just a shot away
It's just a shot away


The floods is threat'ning
My very life today
Gimme, gimme shelter
Or I'm gonna fade away


War, children, it's just a shot away
It's just a shot away
It's just a shot away
It's just a shot away
It's just a shot away


I tell you love, sister, it's just a kiss away
It's just a kiss away
It's just a kiss away
It's just a kiss away
It's just a kiss away
Kiss away, kiss away


A tradução é algo assim:
Me dê abrigo


Oh, uma tempestade está ameaçando 
minha vida hoje
Se eu não conseguir abrigo 
Oh, sim, eu vou desaparecer


A guerra, crianças, está apenas a um tiro de distância


Oh, eu vejo o fogo varrendo as ruas hoje
Queimando como um tapete de brasas vermelhas
O touro ensandecido perdeu o rumo


A guerra, crianças, está apenas a um tiro de distância


Estupro, assassinato!
Estão apenas a um tiro de distância


A inundação está ameaçando
minha vida hoje
Me dê abrigo
ou eu irei desaparecer


A guerra, crianças, está apenas a um tiro de distância


Eu te digo, irmã, o amor está apenas a um beijo de distância
apenas a um beijo de distância

E você? Qual música / mantra / cantiga / canto / som ressoa com sua alma e mexe com você - e por que?

terça-feira, 10 de julho de 2012

Os Princípios e os Para

Praticamente todo mundo precisa de princípios para se encontrar, se posicionar no mundo, achar seu caminho na vida, viver em sociedade, conseguir conviver com os outros e consigo mesmo.

Também toda organização social tem seus princípios; os das empresas costumam ser para conseguir lucro de modo socialmente aceito, os dos países procuram (ou deveriam) ser para o bem-estar de seus cidadãos... e para viver bem - entenda-se estar física, emocional, espiritual e socialmente bem - os princípios religiosos deveriam servir.

Dadas as inúmeras diferenças culturais, etnogeográficas e históricas envolvidas, deixemos os princípios das religiões de lado, e olhemos algo mais simples, como alguns princípios filosóficos do Reiki:
1- Somente por hoje, não se zangue;
2- Somente por hoje, não se preocupe;
3- Somente por hoje, expresse sua gratidão;
4- Somente por hoje, seja aplicado e honesto em seu trabalho;
5- Somente por hoje, seja gentil com os outros.

ou do Yoga:
- Yama ==> cinco princípios de harmonia com os outros:
1- Satya --> benevolência
2- Ahimsa --> não-ferir
3- Asteya --> não-roubar
4- Aparigraha --> simplicidade
5- Brahmacarya --> consciência universal
-Nyama ==> cinco princípios de harmonia consigo mesmo:
6- Shaoca --> pureza
7- Santos'a --> contentamento
8 - Tapah --> serviço
9 - Svadhyáya --> leitura espiritual
10 - Iishvara pran'idhána --> busca da consciência da unidade

Mesmo parecendo mais simples que os dogmas e mandamentos religiosos, esses princípios não são fáceis de entender, aceitar e aplicar.
Essa constante luta cotidiana de todos nós com os princípios para nortear nossa vida nos leva a alguns comportamentos esquizofrênicos, quase sempre inconscientes, e é aí que surgem os três Para:

O primeiro é o Paradigma; para ajudar a entendê-lo, vou usar algumas definições que estão no livro "Quem somos nós?" (What the bleep we know?), de William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente:

"Um paradigma é como uma teoria, mas um pouco diferente. Uma teoria, como a de Darwin sobre a evolução, é uma ideia que procura explicar alguma coisa. Ela deve ser testada, provada ou negada, apoiada ou contestada por meio de experimentação e reflexão.
Um paradigma, por outro lado, é um conjunto de premissas implícitas que não se pretende testar; na verdade, são essencialmente inconsistentes. São parte do nosso modus operandi como indivíduos, como cientistas ou sociedade...
... Um paradigma jamais é questionado, porque ninguém pensa sobre ele.
O paradigma também pode ser visto como um sistema de crenças.
Um paradigma é como o sistema inconsciente de crenças de uma cultura. Vivemos e respiramos essas crenças; pensamos e interagimos de acordo com elas...
... Mudança de paradigma: novos olhos enxergando uma situação antiga...
... Quando é pessoal, nós chamamos de atitude; se é cultural, chamamos de paradigma; se é universal, chamamos de lei. 'Como é dentro, é fora'."

Com isso, os princípios - ou a ausência deles - que elegemos, mesmo que inconscientemente, para guiar nossa vida, podem ser enquadrados como paradigmas. E geralmente funcionam bem, na maioria das vezes, até que então nos defrontamos com algo que nos faz querer ignorar, pois caso contrário ficamos muito desconfortáveis e podemos entrar em parafuso: Paradoxo, o segundo Para.

Paradoxo --> no dicionário Houaiss, tem uma porção de definições legais sobre ele:

1 proposição ou opinião contrária à comum
Ex.: o discurso despertou curiosidade pelos p. apresentados
2 aparente falta de nexo ou de lógica; contradição
Ex.: ter um romance platônico numa época de amor livre é um tremendo p.
3 Rubrica: filosofia.
pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, ou desafia a opinião consabida, a crença ordinária e compartilhada pela maioria
3.1 Rubrica: lógica.
no sentido lógico, raciocínio aparentemente bem fundamentado e coerente, embora esconda contradições decorrentes de uma análise insatisfatória de sua estrutura interna
3.2 Rubrica: filosofia.
no sentido existencial, presente em autores como Pascal (1623-1662) ou Kierkegaard (1813-1855), argumento chocante e inusitado por refletir o absurdo em que está imersa a existência humana

Resumindo todas essas definições: atitudes / ações / circunstâncias contraditórias, que não fazem sentido, apesar da base aparentemente coerente.
E assim chegamos ao terceiro Para: o Para-com-isso!

Para-com-isso é o resultado praticamente invariável de se aferrar a alguns paradigmas (princípios), segui-los sem questionar, sem racionar ou sem fazer as adaptações que a vida, sempre dinâmica, requer, e dar de cara com o paradoxo que nos chama à responsabilidade de sermos conscientes e assumirmos a responsabilidade por nós mesmos e pelo que fazemos.

Exemplo prático:
1- Paradigma: gosto dos animais, sou contra sua matança, então sou vegetariano - assim não é preciso abater animais para me alimentar. Gosto tanto de animais, que tenho gatos e cachorro - animais de estimação.
2- Paradoxo: eu não como carne, mas tenho de comprar carne e alimentos à base de carne, para alimentar os meus animais de estimação, que são carnívoros, e assim outros animais têm de ser abatidos para alimentar os meus bichinhos. Já me falaram de vegetarianos que passaram a dar ração exclusivamente vegetal aos seus cães e gatos, tentando assim fugir desse paradoxo. Funciona?
3- Para-com-isso: se levar o paradigma ao pé da letra, tenho de parar até de respirar, pois a cada inalação milhares de organismos unicelulares são mortos pelos processos de defesa e proteção do meu corpo. Como disse um conhecido meu, só falta os donos dos cães que recebem ração vegetariana quererem também que os totós parem de fazer au-au! e passem a fazer om-om!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Dias de jogos


Hoje é quarta-feira, e como tem acontecido nas últimas semanas, tem jogo de futebol na TV, após a novela das 8 que começa às 9 e termina às 10.

Os fogos, comemorações e provocações começam antes do jogo, e se animam e crescem com o decorrer da partida.

Quando sai um gol, é possível ouvir na vizinhança, dos prédios mais estilosos até as casas mais simples, os gritos e palavrões que fazem mais barulho que os fogos - e, claro, muitos fogos, que assustam e traumatizam os cães e gatos, e não deixam ninguém dormir, inclusive quem não é fã ou fanático do glorioso esporte bretão que nas bandas tupiniquins os lusófonos tentaram chamar de ludopédio.

Gosto de futebol, assim como gosto de vários outros esportes - assisto jogo da segunda divisão da liga inglesa, rúgbi, futsal, não perco vôlei, etc. - mas o futebol é o mais emblemático do que vejo e não entendo: como tanta gente coloca num evento externo - o jogo de futebol - a responsabilidade por estar feliz ou não? 


Quando sai gol do seu time, o sujeito solta fogos - é barulhento, chato, assusta meus gatos e cachorro, mas ainda é razoavelmente aceito socialmente e "inofensivo". Só que junto com os gols, o dito cujo grita como um primata pré-Homo Sapiens, xinga qualquer um que não seja da sua tribo (torcedor do seu time) e provoca grosseiramente até a mãe.

Quando sai gol do time adversário, a coisa se repete, desta vez com os torcedores do time contrário e com os torcedores de qualquer outro time que foram xingados e ofendidos pelo primeiro torcedor...

Parece coisa de criança birrenta, mas são marmanjos que fazem isso.

O noticiário esportivo, muitas vezes pela falta de assunto enquanto não chega o dia dos jogos, incentiva rivalidades que acabam saindo do controle; as bebidas alcoólicas também incentivam a "paixão" e dão um bico, daqueles de beque de fazenda, na razão; dentro da lógica capitalista e consumista atual, torcedor bom é aquele que compra bastante - o jogo no pay-per-view, a camisa do clube (que muda regularmente e ainda tem o terceiro uniforme), cerveja, e várias outras coisas associadas ao time/esporte/jogo. Se começar a pensar, o sujeito não vai comprar tanto, então o estímulo constante, tanto explícito quanto sub-liminar, é levar o gajo a pensar cada vez menos, e reagir cada vez mais, e consumir, consumir, consumir...

E com isso, só reagindo, saem os palavrões, provocações, baderna, vandalismo, agressão gratuita...

Não sou contra a rivalidade; tirar sarro do adversário, fazer uma brincadeira, é parte da interação saudável, desde que se mantenha o respeito e a dignidade, e não ser mera desculpa para agressões verbais e físicas.

Em 1972, aos meus 10 anos e na minha primeira vez num estádio de futebol, meu pai me levou ao Pacaembu numa noite de rodada dupla, para ver Corinthians X Atlético Paranaense e Santos X Grêmio. Torcedores rivais se respeitavam, dividiam o mesmo espaço e aproveitavam o espetáculo que acontecia no gramado.

Sei que os tempos são outros, tanto dentro do estádio quanto no mundo todo, mas num planeta cada vez mais cheio (lotado) e globalizado, com interação cada vez maior das pessoas e a mesma quantidade de mesmos recursos naturais, se não nos esforçarmos em conviver melhor, com civilidade, respeito, dignidade, consciência e responsabilidade, que mundo deixaremos - inclusive com nossos exemplos - para as próximas gerações?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Aprendendo


De vez em quando sou surpreendido pelas pessoas por tenho afeição: de repente elas têm atitudes que não são condizentes com aquelas que aprendi a apreciar e que me cativaram, apresentam fraquezas que costumo atribuir somente aos desconhecidos ou aos chatos, e desfazem a imagem idealizada (por mim) ao se mostrarem tão distantes da perfeição como eu mesmo.

Passado o choque - que acaba por se repetir a intervalos irregulares e inesperados - vem o questionamento sobre as atitudes alheias e as minhas próprias, tentar entender o porquê da dificuldade em manter um nível elevado de pensamentos, palavras, sentimentos e atitudes; buscar o porquê da nossa imensa facilidade em derrapar e enfiar as quatro patas na jaca.

A resposta - que não chega nem facilmente, nem é definitiva - é a nossa IMATURIDADE: ainda estamos mais preocupados em ter logo uma RESPOSTA ou SOLUÇÃO aos nossos problemas, ao invés de prestarmos atenção ao APRENDIZADO que leva à resposta ou solução.

Compreendendo isso, vejo que meu enfoque deve ser diferente: ao invés de questionar "puxa, como essa pessoa tão legal pode dizer/fazer/pensar isso???", passa a ser "puxa, que legal que essa pessoa, mesmo com esses problemas/fraquezas/dificuldades consegue fazer/falar/ser tão bacana!". Ao valorizar o que a pessoa tem de bom, seu potencial em crescer e fazer melhor ainda, coloco intenções e energias positivas no processo, no relacionamento, no envolvimento, e com certeza todos seremos beneficiados.

Isso não significa ser polianamente ingênuo; não confundir que, ao ser bonzinho, eu seja bobinho; não deixar a minha firmeza se transformar em frieza e dureza; não deixar minha compaixão se transformar em condescendência e conivência; usar a experiência adquirida pela vivência para colocar um pé no realismo, sem deixar de sonhar; cuidar igualmente das naus do pessimismo e do otimismo para que ambas mantenham a disputa equilibrada, sem nenhuma se desgarrar e me levar a naufragar. E acima de tudo, abrir meu coração individual ao grande Coração Universal, retribuindo o carinho e atenção que tantas pessoas me dão, para que elas, estejam em outro trabalho, outra escola, outra cidade, outro país ou mesmo outra vida, possam se lembrar de mim com um sorriso nos lábios e um calor gostoso no lado esquerdo do peito - como eu me lembro delas.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Netunão Quadrado no meio da testa


Pelas brumas de Netuno!

Netuno é o regente de Peixes; é quem nos conduz - ou nos leva a perder-nos pelo caminho - aos dons artísticos, ao altruísmo, ao escapismo, ao vício, à alienação, à criatividade não-racional, à percepção extra-sensorial e parapsíquica.

Eu o chamo de Senhor das Brumas, pois quando outro planeta recebe um bom aspecto seu - Sêxtil ou Trígono - é Netuno quem, sem sabermos como nem porquê, nos dá o caminho seguro através da névoa mais espessa, por meio de uma intuição que funciona, mas não se explica.
E em mau aspecto - Oposição ou Quadratura - ele coloca um nevoeiro nos nossos olhos e no nosso cérebro de tal forma que, mesmo ao sol do meio dia, estamos perdidinhos da Silva, tropeçando nas próprias pernas como se estivéssemos bêbados e sem ter noção disso.
(quando está em Conjunção, pode tanto ser uma coisa ou outra, ou - mais difícil ainda de se lidar! - ser as duas ao mesmo tempo, o que dá uma baita confusão na nossa pobre cabecinha...)

Das situações difíceis de Netuno, prefiro a Oposição: dá um trabalhão lidar com ela, mas é algo mais cartesiano - o que quer que isso signifique nas dimensões extras onde Netuno atua - pois parece que não nos tira a capacidade de pensar e estruturar; o cuidado que precisamos ter é sempre fazer um cheklist, ou sanity check, pois é quase certo que a nossa construção mental esteja correta, mas a direção que tomamos esteja equivocada.

Já a Quadratura, mesmo não sendo tão intensa quanto a Oposição, faz com que o sujeito fique completamente perdido, sem saber se está indo ou vindo e nem pra que lado quer ir ou sequer se quer ir a algum lugar. É o nevoeiro completo nos pensamentos, nas emoções e nas ações.

Quando encontrar alguém assim perdidão, é muito provável que o sujeito esteja com um Netunão Quadrado no meio da testa, fazendo seu Sol, Lua ou Ascendente correrem atrás do próprio rabo pelos anos que dura a Quadratura - e deixando o sujeito tontinho enquanto isso. Ah, e tem gente que nasce com isso no mapa, o que significa passar a vida toda navegando pela névoa...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Primeiro eu

Estava eu na rua, levando o cachorro em seu passeio matinal, quando um fusquinha velho - tem fusca novo em algum lugar do mundo, hoje? - e um pouco judiado, com uma escada sobre o teto e dois senhorzinhos dentro, parou ao meu lado, e o passageiro me perguntou:
_ Moço, tem como a gente pegar a Bandeirantes e o túnel?
Todo solícito, respondi:
_ O senhor desce a rua até o final, vira à esquerda, e entra na primeira à direita - é uma transversal - que vai sair na Bandeirantes, na direção do túnel.
_ Ah, desce e pega a direita, né?
_ Primeiro o senhor desce a rua, vira à esquerda, e então a primeira à direita - expliquei de novo, querendo ajudar a dupla grisalha a encontrar seu caminho.

Agradeceram, seguiram em frente, e viraram na primeira rua à esquerda, ao invés de descer a rua até o final para então virar à esquerda conforme eu dissera.

Assobiei, acenei, mas não me ouviram nem me viram; arrastei o cachorro - coitado, que queria cheirar um muro promissor - até a esquina em que o fusquinha tinha virado e o avistei parado na próxima esquina, pedindo informações a outra pessoa, e depois descendo a outra rua, um pouco mais na direção correta.

Com o coração mais aliviado, me acalmei e comecei a me perguntar o porquê da ansiedade, da sensação de culpa por aqueles dois terem entendido errado minha informação, do porquê eu me sentir responsável pelos erros dos outros quando tinha feito a minha parte da melhor maneira possível... e o que consegui atinar foi a mania de querer salvar o mundo e todo mundo, consertar as coisas, por mais absurdo que isso pareça ou incapaz de tanto que eu seja - resultado de tendências naturais minhas (e de muita gente também), mas agravado por condicionamentos desde criança para cuidar do mundo lá fora em detrimento do eu daqui de dentro (claro que tem gente na situação contrária, mas isso é tema para outro dia).

Qual é a solução para sair desse condicionamento? É cuidar primeiro do meu interior, para então atuar no exterior de maneira consciente, equilibrada e eficaz - e não tomar para mim o que é dos outros, seja a compreensão da situação ou a consequência das suas ações.

Antes de cuidar do mundo, primeiro eu, senão nem chego no mundo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

DIA DA MULHER?

Na semana passada teve o DIA DA MULHER. E mesmo com algum atraso, me pus a pensar: Mulheres, bah!

Há momentos em que elas me tiram do sério, e me pergunto como Deus foi criar seres tão, tão... ilógicos! Tirando as exceções que confirmam a regra, são voláteis, não-cartesianas, teimosas, emotivas, sentimentais, inseguras... um pesadelo para quem acredita que o caminho mais curto entre dois pontos é uma reta, que estamos num universo de causa e efeito, e mais cores que azul, verde e vermelho é desperdício de onda eletromagnética e de pixels..

E quando menos se espera, elas me surpreendem com apoio, carinho, atenção, ideias que dificilmente me passariam pela cabeça... e fico aliviado que Deus as tenha criado, apesar da minha ignorância não me permitir enxergar sempre a grandeza delas.

A Astrologia vem me salvar da confusão inicial, mostrando que Vênus e Lua, planetas ligados às mulheres, têm tudo a ver com relacionamento, gosto pela estética e beleza (e compras, compras, compras!), mudanças, instabilidade, emotividade, sensibilidade, cuidar dos outros... enquanto que Sol, Marte e Júpiter ajudam a entender porque marmanjo gosta tanto de se exibir, curtir, exagerar, não pensar no amanhã pois tudo sempre (sempre?) dá certo, e por aí vai.

Se dependesse só dos homens, a espécie humana teria tido uma farra só, curtido de montão, feito tudo que desse na cabeça, e teria acabado muuuuuuuito tempo atrás.
Fomos salvos, mesmo que a contragosto ou sem ter noção, pelas mulheres. E assim continuamos sendo salvos, dia após dia, embora às vezes a conta pareça ser alta.

E depois dessa elocubração toda, me pergunto: por que só DIA DA MULHER? Devia ser o ano todo!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Agora que o Carnaval passou, Feliz Ano Novo! Mas qual é o ano, mesmo?

Já que no Brasil o ano só começa de verdade após o Carnaval, hoje (quarta-feira de Cinzas) é o melhor dia para desejar FELIZ ANO NOVO!

Mas qual é esse Ano Novo? O calendário que eu olho, e que boa parte do mundo ocidental utiliza, diz que é o ano 2012 "após o nascimento de Cristo" e que começou em primeiro de janeiro. Só que muita gente neste mundo de sete bilhões de pessoas não segue esse calendário, e ainda há outros calendários que divergem dessa quantidade de anos.

Por exemplo, em 23 de janeiro foi FELIZ ANO NOVO para os 1,4 bilhão de chineses: começou o Ano do Dragão. Quem vai falar para esse povo todo mudar as folhinhas? Tem previsão de fim do mundo para este Ano do Dragão?

Em outros calendários, este Ano Novo seria algo assim:
2009 - da data real do nascimento de Cristo em 4 A.C.
2765 - no calendário romano antigo
2761 - no calendário babilônico antigo
6248 - no primeiro calendário egípcio
5772 - no calendário judaico
1432 - no calendário muçulmano
1390 - no calendário persa
1728 - no calendário copta
2556 - no calendário budista
5131 - no atual grande ciclo maia
 220 - no calendário da Revolução Francesa

E se dizem que 21/12/12 é uma data numerologicamente cabalística e por isso pode haver o fim do mundo, como fica essa conta, se 21/12/12 na verdade é 21/12/2012? Como foram as coisas em 21/12/1012? E no verdadeiro 21/12/12? E nos 21/12/2012 de dos calendários que estão mais à frente? Vamos pegar apenas os chineses, judeus e budistas, para facilitar ;-)

Confuso, né?

Talvez a melhor coisa seja aquela velha, mas ainda válida receita de viver conscientemente o presente, aprender com o passado, e cuidar do futuro - tudo sem exagero, nem para mais, nem para menos.
Afinal, sempre é AGORA.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Complexo de Superman


No extremo oposto ao da vitimização (ou terceirização de responsabilidade), há aquelas pessoas que parecem se considerar o próprio Homem de Aço kryptoniano: ultrapassam seus limites repetidamente e agem como isso fosse normal, tendento a bancar os heróis - ou se superar - mesmo quando não há necessidade para isso.

As causas são várias; pode ser orgulho ("Eu consigo o que os outros não conseguem!", "eu faço mais que os outros!"), pode ser medo ou insegurança ("eu TENHO de fazer isso, não posso não fazer!"), ou simples falta de noção ("era pra ter parado antes?", "não precisava tudo isso?").
Qualquer coisa que não seja difícil, suada e disputada, é moleza - e isso não é para eles.

É preciso um bocado de jeito para cuidar desses Supermen e Superwomen, para não aumentar ainda mais sua tendência à super-superação. Mas continuarei este assunto mais tarde, pois minha visão de raio-X acaba de mostrar um assunto do outro lado de Metrópolis que requer minha presença.
Onde está a cabine telefônica desocupada mais próxima?



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Terceirização de responsabilidade

Numa discussão num grupo de estudos, na semana passada, tocamos num assunto que tem sido cada vez mais comum: as pessoas só assumirem as coisas boas ou vantajosas para elas - "eu sou o cara!", "mandei bem!", "eu sou bom, mesmo!", "que sorte eu tenho!" - e tirando o corpo fora de qualquer problema que aconteça, colocando a culpa no chefe que não reconhece seu trabalho, no subordinado que é incompetente e folgado, no professor que é chato, na cara metade que não o compreende, no sujeito que não prestou no trânsito... e por aí vai.

Também se omitem no cuidade de si mesmos: por exemplo, passam a responsabilidade de perder peso para a academia, para o personal trainner, para a dieta milagrosa, para o remedinho esperto, para a cirurgia de redução de estômago... mas nada de assumir que a situação foi criada por si mesmos e que a solução - nem rápida nem fácil - é se reeducar, se controlar e estar conscientes de tudo que fazem.

Ou seja, caímos no vício da vitimização: somos apenas vítimas das circunstância e o culpado está sempre lá fora, seja o universo desconhecido e mau, as teorias de conspiração, o aquecimento global, o governo corrupto, o vizinho invejoso... "A culpa não é minha!", em suas diversas variantes, é o que se ouve com frequência assustadora.

Nestes tempos globalizados, em que preconiza terceirizar tudo que não seja essencial ao negócio, passamos a acreditar que nosso core business é curtir e levar vantagem sem se preocupar com o custo disso. Estabelecemos a terceirização da responsabilidade dos nossos atos.

Que tal voltarmos a sermos responsáveis pelo que fazemos (e por suas consequências), antes que a conta dessa terceirização fique alta demais?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O brilho das estrelas

A exploração arqueológica na minha bagulhoteca encontrou outro poema perdido de 28/janeiro/1998 - a produção foi boa naquele dia ;-)

O Brilho das Estrelas (ou "a busca frenética por algo que estava tão perto")

Estrelas
tão brilhantes
qual pontas de diamantes
me encantando
me enganando
com seu fulgor
que empalidece tudo o mais...

Estrelas
tão brilhantes
ainda mais que antes
me atraindo
me conduzindo
sem temor
por entre escarpas abissais...

Pelo brilho das estrelas -
atravesso desertos infernais
Pelo brilho das estrelas -
supero gelos continentais
Pelo brilho das estrelas -
calo dúvidas existenciais
Pelo brilho das estrelas -
perambulo pelo perigo
Pelo brilho das estrelas -
destruo quem seja inimigo
Pelo brilho das estrelas -
ignoro quem tente ser amigo

Porque o brilho das estrelas
ofusca o amor
suplanta a dor
tão belo que dói
tão intenso que destrói
tanto a confusão
quanto a razão

brilho mágico
brilho sádico
me levou a galgar
cada colina, morro, montanha
até o fim do mundo
apenas para constatar
que sempre estava
um pouco mais alto
do que meus dedos estendidos
conseguiam alcançar

brilho trágico
desvaneceu-se em minhas lágrimas
de frustração
de desilusão.
Mas quando a visão
a mim retornou
estava de volta
em toda a minha volta
onde alguém tolo como eu
jamais olhou:
nos olhos dos amigos, amantes, parentes
pessoas tão diferentes
que compartilham um brilho de carinho
ainda mais potente
que o brilho das estrelas.

Atordoado, maravilhado,
realizado enfim,
só posso sussurrar, encabulado:
Obrigado!
Por trazer esse brilho
de volta para mim.

A Dark Ghost

Encontrei um poema perdido que escrevi em 28/janeiro/1998. Para comemorar a descoberta após quase 14 anos, aqui vai ele - com uma tradução livre incluída:

A Dark Ghost


A dark ghost froze
in the middle of nowhere
I know, I was there
riding a pale nightmare
chasing him and his brethren
time and again
to take their hearts of stone
from their cages of bones
to my collection of dry tears
and unspoken fears
trying to understand
this wasted land
where the colors of music
and the music of thoughts
are at a loss
to bring any light
to this long night
when classic ways of living
both sides of life
are lost in time
drawn by numbers
scattered in tribes
expecting no mercy
and dancing in chaos
so damned a place
so far from grace
warm as an empty smile
and as much worthwhile
making a cynic of every saint
making a philosopher of every man
writing words in the sand
that'll be wiped by next rain...

Um Fantasma Escuro

Um fantasma escuro
congelou no meio de lugar nenhum
eu sei, eu estava lá
cavalgando um pesadelo pálido
caçando a ele e aos seus irmãos
de novo e de novo
para tomar-lhes seus corações de pedra
de suas jaulas de ossos
para minha coleção de lágrimas secas
e de temores impronunciados
tentando entender
esta terra devastada
onde as cores da música
e a música dos pensamentos
estão perdidos
para trazer alguma luz
para esta noite longa
quando as formas clássicas de viver
os dois lados da vida
estão perdidas no tempo
afogadas em números
espalhadas em tribos
sem perdão
e dançando no caos
um lugar tão desgraçado
tão distante do encanto
cálido e valioso
como um sorriso vazio
tornando todo santo um cínico
tornando todo homem um filósofo
escrevendo palavras na areia
que serão apagadas pela próxima chuva...