quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Caminhos

Outro texto meu resgatado da bagulhoteca, rascunhado em 06/janeiro/1999!

Sendo meio máquina, meio predador
mal entendo a sua dor
e com a minha já me acostumei;
as coisas que eu sei,
para mim são automáticas,
para você, talvez, traumáticas.
Juntos, podemos ser menos que um
por pouco termos em comum
além da distância que nos separa.
Por que, então, ela nos abala?
Sigo minha órbita quântica irregular
e você, sua ordenada maré lunar,
mas tais caminhos parecem conspirar
em tornar nossas diferenças complementos
que nos unem por momentos
efêmeros no tempo real,
eternos no campo emocional,
benesses preciosas a cada um de nós
a nos aquecer e animar
por nos ensinar
que por maior que seja o vazio
juntos ali já estivemos
e por lá ainda andaremos
e assim nunca estaremos
realmente isolados e sós.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Fahrenheit 451


Fahrenheit 451 é a temperatura em que o papel pega fogo, na estória em um futuro indeterminado em que possuir livros ou, pior ainda, ler livros, é crime gravíssimo, se bem que a maioria da população se entregou às pilulas de prazer imediato e às atividades fúteis e superficiais...

Publicado em 1953, esse livro de Ray Bradbury tornou-se um dos clássicos de ficção científica e que, como toda boa estória de ficção científica, usa uma ambientação "científica" de outro tempo/lugar, para fazer críticas e contestações do mundo real.

Assim como Admirável Mundo Novo e 1984, é uma distopia, onde um futuro sombrio e opressor pesa sobre quem ouse ser diferente do que a ditadura da maioria (mesmo que inconsciente) determina.

Considero essa obra precursora de outras histórias de distopia mais recentes, que vimos nos cinemas: Exterminador do Futuro e Matrix - onde ao invés do homem oprimir o homem, são as máquinas, criadas pelo homem e que fogem ao seu controle, que fazem a opressão.

Também como quase meio século mais tarde vamos ver Neo fazer em Matrix, vemos Montag, o personagem principal, começar a despertar de seu torpor mental ao ver, com o auxílio de sua jovem vizinha Clarisse, coisas a que jamais dera atenção, e assim o mundo, e seu papel nele, começa a ter outras cores e significados.

Isso o fascina e assusta. Do mesmo modo como Neo tem de optar entre a pílula azul e a vermelha - despertar de vez ou voltar a dormir - Montag se vê entre o questionamento sobre seu trabalho de bombeiro, que nessa época é responsável por atear fogo nos livros das pessoas, ou voltar à vida vazia com sua esposa alienada e os demais que abdicaram de preocupar-se (e de pensar), acatando o socialmente aceito e os divertimentos superficiais.

Na estória, as pessoas entram nas casas dos outros, através das televisões gigantes que cobrem todas as paredes e ali falam sem parar, se expondo a todos e não ouvindo o que os outros falam; seria um pré-Facebook ou pré-Twitter?

Montag, sem conseguir aguentar essa situação e confrontado por seu superior, o surpreendentemente culto (já que LIA os livros que queimava!) e cínico capitão Beatty, toma uma atitude extrema e impensável numa sociedade de zumbis mentais, provocando uma série de acontecimentos que afetarão definitivamente sua vida.

Apesar do tom pessimista, a história caminha para um desfecho de alguma esperança. Como todo texto de Bradbury, é menos científico e mais filosófico, poético até, e estranho, ao mesmo tempo e em quantidades diferentes. Traz crítica, faz pensar, e vale a pena ser lido, conhecido e discutido.

Minha única dúvida: ninguém nunca pensou em traduzir/converter Fahrenheit 451 para Celsius 233?

sábado, 26 de janeiro de 2013

Main Brain Overdrive

Mais uma ideia que rabisquei não sei mais quando, num papel de rascunho recém-descoberto na minha bagulhoteca:


main brain overdrive
oops! that's what I like
just four silly dimensions
is too few for me
so, let me be
let me fire my neurons
faster than light
rush through realms
you can barely conceive
thoughts you'll be dead-old
before you can start in their path
so that's why 
  I leave my heart behind
so it won't hinder my 
  ever-increasing speed of mind
don't you worry about me
'cause even incomplete
  I'm still free
and I'll accelerate 
  through eternity
till the end of time
  and then the beginning
    again
and in the next lap
I'll get my heart 
  again
and all that comes with it
but for now, just let me run
I faced fear, 
  and saw myself
I faced rage,
  and there I was,
     again
when I accpet my whole self
I won't see  just other faces
  in happiness
but I'll see mine, too.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Guardas! Guardas!

Guardas! Guardas! (Guards! Guards!, no original), do inglês Terry Pratchett, o livro que acabei de ler ontem, tem mais uma estória que acontece em Discworld, um mundo redondo e achatado, com as águas do Mar Círculo desaguando eternamente pela Borda do Mundo e magicamente sendo repostas... e mágica é a tônica desse mundo em forma de disco, apoiado sobre as costas de quatro elefantes gigantescos, que ficam em pé nas costas da Grande A'Tuin, a Tartaruga Estelar que nada pela noite cósmica.

Em Discworld, numa sociedade com conhecimento e ética (ou falta de) semelhantes às da Idade Média, a Magia é que é real, e Ciência é algo de que pouca gente ouviu falar, menos gente ainda acredita, e quase ninguém consegue colocar em prática - afinal, é muito mais fácil usar os serviços de um feiticeiro, mago, bruxa ou qualquer outro ser com poderes mágicos, do que observar algo, analisar, pensar, concluir e construir em cima disso...

A série de estórias de Discworld nos faz lembrar de Monty Python, ou das estórias do Guia do Mochileiro das Galáxias (de Douglas Adams), por seu humor baseado em nonsense, ironia, crítica mordaz e sutil (e às vezes nem tanto), e boa dose de sarcasmo. Os dois primeiros livros da série - A Cor da Magia e A Luz Fantástica - são os mais engraçados, dentro daquele estilo de humor inglês que se ama ou se odeia.

Os demais livros, até chegar a Guardas! Guardas!, foram: Direitos Iguais, Rituais Iguais; O Aprendiz de Morte; O Oitavo Mago; Estranhas Irmãs; e Pirâmides. Todas essas estórias alternam trechos divertidos e outros nem tanto.

Em Guardas! Guardas!, os Irmãos Esclarecidos, uma minúscula sociedade secreta obscura, inescrupulosa e não muito inteligente (exceto por seu ambicioso Grande Mestre Supremo) resolve tomar o poder em Ankh-Morpork - as cidades gêmeas onde o resto da população também é, bem, obscura, inescrupulosa e não muito inteligente. Para isso, a sociedade secreta conta com um plano mirabolante: com o uso (não-autorizado) de magia (claro!) evocar um dragão - tipo de ser há muito tempo desaparecido em Discworld - e armar uma farsa onde um suposto descendente dos reis do passado, fantoche do Grande Mestre Supremo, enfrenta e elimina o dragão e assim, conforme a tradição, pode tomar o comando da cidade das mãos do patrício Lorde Vetinari, que é quem controla o Grêmio dos Ladrões, O Grêmio dos Assassinos, o Grêmio dos Mendigos e todas as outras instituições respeitáveis de Ankh-Morpork.

O plano vai bem, até o instante em que o dragão, que fora evocado contra sua vontade, e devolvido ao limbo mágico em que estava mais contra sua vontade ainda, consegue voltar a Ankh-Morpork por conta própria, e aí faz o que todo dragão inteligente e furioso faz: voa, queima, destrói, e é coroado rei...

Para enfrentar o novo soberano (que, conforme a tradição, quer devorar pelo menos uma donzela por mês) e impedir que Lady Ramkin - imensa, enérgica e aristocrática - seja devorada, entra em ação o pessoal da decadente e desacreditada Vigilância Noturna: capitão Vimes, sargento Colon, Nobby e policial-lanceiro Cenoura (um "anão" adotado, de 2m de altura); um verdadeiro Exército de Brancaleone. O problema é que o dragão voa, pesa 20 toneladas, tem pele encouraçada, já destruiu vários quarteirões da cidade e reduziu a cinzas todos que o enfrentaram, enquanto nossos herois (?) contam é com suas espadas, flechas e imensa falta de noção...

Com trechos cínicos  e divertidos, como "conhecimento é igual a poder; poder é igual a energia; energia é igual a massa; e a massa distorce o espaço. Assim, não só a biblioteca mágica da Universidade Invisível, mas toda biblioteca em geral, pode ser considerada como um buraco negro educado que sabe ler", a estória tem altos e baixos, mas cumpre seu papel de divertir e de não ser muito previsível.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

As Pessoas Físicas por trás da Pessoa Jurídica

"Pessoa Jurídica não tem coração", foi o que uma amiga minha colocou no e-mail em que me contava que seu marido, após treze anos de dedicação à empresa multinacional em que trabalhava e recém-operado de cálculo renal, fora demitido por torpedo no celular.

Dias atrás, outra amiga fora demitida do banco multinacional em que trabalhara e se dedicara por anos; ela teve trigêmeos, gravidez complicada, pós-parto idem, e depois do longo afastamento e a volta ao trabalho, sem equipe e sem lugar, em poucos meses foi descartada.

Caso parecido com o de outro amigo com quem almocei na semana passada: fraturou o pé num evento de fim-de-semana do banco - este, nacional - em que trabalhava, teve recuperação lenta e afastamento longo, e quando retornou ao serviço, já fora substituído e imediatamente demitido. Acabou aposentado precocemente por invalidez, em função das sequelas dessa fratura.

Ontem à noite, a notícia de que um conhecido, na casa dos sessenta anos, ex-gerente de TI em banco, multinacional e grandes empresas - e que há tempos parecia estar sem emprego - se suicidou.

Empresas - as Pessoas Jurídicas - sempre quiseram lucro; este é seu objetivo primordial e principal. Muitas delas forçam a barra, exageram na pressão, mas de anos para cá isso tem ficado insuportável, dando ao já desagradável termo "Capitalismo selvagem" uma dimensão imoral e uma falta de escrúpulos digna da Idade da Pedra e não do século XXI.

Colocar a culpa na falta de coração da Pessoa Jurídica - ela é fria, impessoal, etc. - é a reação natural, mas observando com atenção, Pessoa Jurídica é uma entidade abstrata; quem estabelece metas, cobra e toma decisões são as Pessoas Físicas que estão por trás, ou dentro, da Pessoa Jurídica, e que fazem o que ACHAM que a Pessoa Jurídica quer/precisa, ou usam essa desculpa para fazerem o que querem por si mesmas.

Um levantamento feito anos atrás mostra que cerca de 18% da população mundial é de psicopatas - por causas genéticas, psicológicas ou doenças. Um psicopata tem charme, ousadia, grande capacidade de observação e de empatia - e usa isso para manipular as outras pessoas - e absoluta falta de remorso. Com isso, tem o perfil ideal para assumir cargos de mando (e poder), bajulando quem está acima (e preparando-se para tomar-lhe o lugar), disputando (veladamente) o poder com seus pares e explorando quem está abaixo, dentro de estruturas hierárquicas como são as empresas (multinacionais ou nacionais) e os órgãos governamentais...

Dessa forma, os psicopatas conseguem apresentar os resultados que se enquadram dentro da lógica imediatista do Capitalismo selvagem que diz que todo resultado (lucro!) tem de ser melhor (maior!) que o anterior, mesmo que a empresa já esteja com lucros suficientes para manter-se por anos.

Mas talvez a parte mais perversa dessa situação seja que, pela impunidade desses exploradores na grande maioria dos casos, os 82% restantes da população, os não-psicopatas, fiquem acanhados, quietos e passivos. Pior ainda: começam a aparecer os que se acham espertos, a turma do "pra que eu vou ser certinho, se tá todo mundo aproveitando e não acontece nada com eles?", e mesmo sem ser psicopata, o sujeito começa a copiar o que é errado, incivilizado e imoral, desde as pequenas coisas como ultrapassar pelo acostamento ou fechar o cruzamento, até as falcatruas, desfalques e traições maiores, e acha que quem não aproveita também, é trouxa - e o faz de trouxa.

A diferença entre os "espertos" e os "trouxas" é simplesmente a atuação da Consciência - que os 18% psicopatas não tem, e neste caso este post não serve para você.

Einstein dizia que o Universo é como uma parede que devolve o que você lhe manda: se você joga uma bola com força, ela volta com força; se joga uma bola fraca, ela volta fraca; se joga uma bola verde, ela volta verde. Antes que a sua Consciência comece a lhe cutucar, pense em como você tem jogado a bola para o Universo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

The Right To Arm Bears

Começo aqui a análise/comentário/resumo dos livros lidos em 2013. Chamar de resenha literária é muito chique; pitacos de leitura, é estranho. Fica sem nome, mesmo, mas - assim espero! - com bom conteúdo :-)

The Right To Arm Bears (algo como "O Direito de Armar Ursos", referindo-se a levar ferramentas, utensílios e conhecimento aos alienígenas semelhantes a ursos), ficção científica em pocket book escrita por Gordon R. Dickson, foi impressa em 2000 e contém três estórias - de 1961, 1969 e 1971 - que se passam no planeta Dilbia, semelhante à Terra, mas cujos nativos parecem ursos bípedes de 2,70 m de altura e quase meia tonelada de peso, inteligentes, com um nível tecnológico equivalente ao da Idade Média da Terra, e que dão muito valor às proezas físicas e desprezam as máquinas, ferramentas e geringonças dos Shorties ("baixinhos"), como chamam os terrestres.

Dilbia está numa posição estratégica para os terrestres e para seus adversários, os Hemnoids - alienígenas que parecem grandes (2,40 m de altura) Budas gordos e bonachões, mas que, por constituição genética, são incapazes de sentir empatia ou compaixão e assim a crueldade é parte de sua cultura e modo de ser. Apesar dos tratados de não-agressão e não-interferência entre terrestres e Hemnoids, as armadilhas se sucedem e o personagem principal terrestre de cada uma das estórias se vê envolvido numa situação em que terá de enfrentar um Dilbian, sem ferramentas nem qualquer recurso tecnológico - ou seja, enfrentar 2,70 m e 1/2 tonelada de fúria peluda, inteligente e cheia de dentes e garras...

Apesar de seu desprezo pela tecnologia e ferramentas, os Dilbians apreciam o pensamento rápido e inteligente, que é a única esperança dos Shorties de ganhar seu respeito, conseguir a preferência deles em relação aos Hemnoids e, o mais importante, manterem-se vivos...

Com reviravoltas inesperadas e humor - o ambiente alienígena permite cutucões psicológicos que seriam politicamente incorretos se todos os personagens fossem humanos - esse livro distrai e diverte, de forma gostosa, despretenciosa, mas nem por isso superficial.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

2013!!!

Já se foi uma semana de 2013; vou falar dele antes que as outras 51 semanas também se passem e eu tenha de falar é de 2014 :-P

2013 é um ano "patinho feio": não me lembro de ninguém ter falado dele, pensado nele, planejado algo para ele - nem eu!

Isso é fácil de entender: em 2012 tivemos os Jogos Olímpicos, eleições, e a grande expectativa do fim do mundo, naquele mix Calendário Maia-Planeta X/Nibiru/Hercolubus-inversão dos polos magnéticos-desinclinação do eixo da Terra-profecias de Nostradamus...

Mas as coisas inéditas foram, por exemplo, uma final de mundial de futebol Corinthians X Chelsea, uma medalha de ouro em ginástica olímpica para o Brasil nos Jogos Olímpicos...

Políticos se esforçaram em promessas e esquivas, um bocado de gente fez festa, empurrou com a barriga, ou enfiou o pé na jaca com o cartão de crédito, financiamento e cheque especial, mas como o mundo não acabou, e 2014 - com a promessa de Copa do Mundo e mais eleições - ainda não chegou, aqui estamos com esse 2013 para limpar a bagunça, pagar as contas e colocar a casa em ordem para o próximo ano.

Antes de falar de 2013, como foi meu 2012?
- (novamente) comprei e ganhei mais livros do que consegui ler - e olha que li pelo menos uns 40, fora montes de jornais, sites, revistas e gibis...
- em 2012 não assisti nem metade dos filmes que gostaria;
- não escrevi todos os poemas que me passaram velozmente pela mente, deixando apenas impressões fugazes;
- não voltei a correr maratona, São Silvestre nem corridas de 10 km;
- não voltei a subir montanhas, escalar despenhadeiros, entrar em cavernas, remar, nem alucinar em downhills tentando não tomar um capote da minha bike;
- fui quase até o outro lado do mundo (Índia e rápido pit-stop na Turquia) para ver lugares, coisas e pessoas que mostram como as diversidades nos aproximam ainda mais do que as semelhanças;
- participei de mais cursos, palestras e workshops do que em todos os anos anteriores; tenho notas de aula e material para pesquisar por alguns meses;
- com um empurrãozinho do universo, deixei um emprego oficioso como PJ e pude testar minha versatilidade profissional: dei consultoria de TI, aula de Reiki, palestra de Astrologia, preparei florais de Bach, fui motorista off-road, apliquei Reiki, entrei em licitações, fiz traduções técnicas, fiz mapas astrais...
- conheci gente legal, fui reencontrado por amigos (Santo Facebook, Batman!) e outros se distanciaram.

Ou seja, a vida foi intensa, rica e proveitosa em 2012; para 2013, então, eu só alteraria algumas coisas:
- estudar menos e trabalhar menos: assim sobrará o tempo necessário para apreciar a criatividade e a beleza, da natureza e dos seres humanos, nas paisagens, músicas, filmes, textos, espetáculos, ou simplesmente numa conversa gostosa em boa companhia;
- continuar sonhador, porém mais realista do que idealista e achar que farei em 24 hs o que demanda 48 hs - minha saúde agradecerá e as frustrações serão menores;
- tentar ficar um pouco mais esperto e aprender mais rápido, para não precisar que o universo me dê tantas oportunidades para eu ser mais humilde, sensato,
realizador;
- prestar atenção e acreditar mais no coração do que nas palavras das pessoas, começando comigo mesmo.