domingo, 25 de janeiro de 2009

Luzes! Câmera! Ação!

Luzes! Câmera! Ação!

Aproveitando uma sugestão que recebi, e como de médico, de louco, de técnico da seleção brasileira e de crítico de cinema todo mundo tem um pouco, vou escrever sobre filmes que valem a pena.

Não sou cinéfilo nem crítico profissional, e esta avaliação será incompleta e firmemente influenciada por meu conhecimento (ou falta de), gostos, preferências e preconceitos pessoais - ei, pensando bem, qual não é?

Primeira coisa: gosto de filmes que me distraiam do dia-a-dia ou que me façam pensar. Assim, logo de cara descarto filmes de terror ou horror, dramas, dramalhões e associados: para isso, os noticiários e telejornais têm bastante notícias de catástrofes e de acidentes, e reality shows e novela é que não faltam.

Outros que dispenso são aqueles filmes de ação 100% e coerência 0% (aqueles que você tem de desligar teu cérebro para poder assistir, senão não aguenta ver até o fim, de tão ruim ou absurdo que o enredo é).

Para mim, o filme tem de ser agradável, me acrescentar algo, ou no mínimo me distrair; não gosto de chegar ao final do filme com a sensação que simplesmente peguei um atalho num buraco negro (ou worm hole, ou numa dobra espacial) que me levou duas horas para o futuro sem ter me acrescentado nada que valha a pena recordar - ou pior ainda, que tenha acrescentado algo que eu tenha de me esforçar para esquecer!

Segunda coisa: não considero nomes famosos - atuando, produzindo ou dirigindo - sinônimo de filme bom. Já fiquei decepcionado com filmes "condecorados" de medalhões, e fui agradavelmente surpreendido com desconhecidos.

Dá para classificar os filmes por vários critérios: por gênero, por época de produção, por tema, etc. Para facilitar minha vida, classifico-os em
A) diversão honesta, isto é, que valeu o preço do ingresso do cinema ou do aluguel do DVD e me deu as duas horas de distração e divertimento, e
B) filmes inesquecíveis, por causa do enredo/mensagem/inovação/etc.

Outra observação: geralmente - mas com exceções - filmes americanos são diferentes de filmes do resto do mundo: Hollywood produz filmes legais, mas usa e abusa de clichês e de exploração de fórmulas que deram certo uma vez - não significa que o filme tenha sido bom, basta que tenha dado o lucro mínimo que os produtores esperavam. São os filmes-cana-de-açúcar: a primeira vez deu caldo doce, então eles reaproveitam o bagaço outra vez, mais outra, e outra, até que não dê mais nada exceto raiva em quem teima em ir assistir...

No início dos anos 1990, acontecia uma semana de mostra de filmes internacionais em São Paulo, muito menor que a verdadeira maratona que virou de uns anos para cá. Vi muitos filmes europeus interessantes - franceses,italianos, até tcheco, que tinham em comum a ausência de nomes famosos, e dos $dólares$ e efeitos especiais hollywoodianos, e assim precisavam da atuação competente dos atores e de um roteiro bem-feito para se sustentarem.

Isso posto, vamos à MINHA lista de filmes que valem a pena ver algum dia. Eu Rrrrrrrreeeecomendoooo.

Então, vou começar com algumas indicações desses filmes vistos nos anos 90: os franceses A Glória de Meu Pai (La Gloire de Mon Père) e o Castelo de Minha Mãe (Le Château de Ma Mére); o italiano Mediterrâneo; e o tcheco Um Dia, Um Gato (em inglês, The Cassandra Cat ou When The Cat Comes, ou o título original Az prijde kocour).

Um parênteses aqui: filmes franceses são gostosos e geniais, ou simplesmente estranhos... filmes argentinos também. Dos filmes espanhóis só me lembro de ter visto alguns de Almodóvar, e encaixo-os também nessa situação.

Bangue-bangue italianos: os de Clint Eastwood são os melhores, e entre eles, Três Homens em Conflito (The Good,The Bad and The Ugly, ou no título original Il buono, il brutto, il cattivo), com o Lee Van Cleef fazendo talvez seu vilão mais perfeito, e Eli Wallach como um Tuco impagável.

Outro bangue-bangue, não-italiano mas bom pacas, é Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), com Yul Brynner, Steve McQueen, Charles Bronson, James Coburn e, ei, Elli Wallach de novo.

Fechando os bangue-bangues, de novo Clint Eastwood, com Os Imperdoáveis (Unforgiven), ao lado do quase-sempre-vilão Gene Hackman e do pau-pra-toda-obra Morgan Freeman - não, 'peraí, o pau-pra-toda-obra é o outro cara, o Samuel L. Jackson, mas o tio Freeman trabalha um bocado também...

Já que as balas estão voando, vamos a filmes de guerra: Os Doze Condenados (The Dirty Dozen), com Lee Marvin, Ernest sempre-vilão Borgnine, Charles Bronson, e mais um punhado de caras bons.

Outro de guerra que vale a pena: O Desafio das Águias (Where Eagles Dare), com Clint Eastwood, e baseado na novela homônima do escocês Alistair MacLean. Aliás, os livros do velho MacLean são boa dica para quem gosta de estórias de ação, suspense, espionagem, reviravoltas, etc. Mas só em inglês, e são textos (como os da tia Agatha Christie) com ótimas construções gramaticais e vocabulário mais sofisticado que o me-Tarzan-you-Jane que muita gente escreve; ótima opção para aprimorar os conhecimentos do idioma bretão...

OK, vamos às comédias: primeiro, para quem curte as tortas nas cara e gags físicas e visuais, tem montes de filmes mudos de Buster Keaton, Komedy Kapers, Carlitos, O Gordo e O Magro... e fimes sonoros do Gordo e do Magro, a série dos Três Patetas (TheThree Stooges), vários bons filmes de Jerry Lewis... e de seu herdeiro cômico-careteiro Jim Carrey (quem não viu O Máskara [The Mask], vá ver já!). Dos filmes menos preto-e-branco, Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu, Corra que a Polícia Vem Aí, e Loucademia de Polícia merecem ser vistos; quase tudo que veio depois é reciclagem disso - lembra da cana-de-açúcar?

Hum, Quem Vai Ficar Com Mary (There's Something About Mary) também é bom.

Quem esqueceu os filmes nonsense do grupo Monty Python? Incluam também A Família Addams 2 (Addams Family Values); A Múmia (The Mummy - 1999), com sua narrativa irreverente e as próprias personagens se divertindo com sua atuação claramente de paródia dos filmes clássicos de terror, também é diversão garantida; A Pantera Cor-de-Rosa (The Pink Panther), com Peter Sellers, é duca! Outra comédia com roteiro esmerado é Assassinato por Morte (Murder by Death), excelente sátira aos filmes de detetives que resolvem todos os mistérios.

Uma comédia divertida e pouco conhecida é A Princesa Prometida (The Princess Bride). Outra divertida, mas bem conhecida, é Homens de Preto (Men In Black). Mais uma? Comédia + artes marciais + roteiro inteligente = Zatoichi. Veja, curta, divirta-se.

Artes marciais lembram oriente, e de lá tem os filmes de Akira Kurosawa. Dersu Uzala (Derusu Uzara) é campeão. E dos filmes mais recentes com chineses literalmente subindo pelas paredes, o Tigre e o Dragão (Crouching Tiger, Hidden Dragono, ouo título original Wo hu cang long), Herói (Hero, ou o título original Ying Xiong), O Clã das Adagas Voadoras (House of Flying Daggers, ou o título original Shi mian muai fu)...

Próximo: filmes de super-heróis. Homem-Aranha 2 (Spiderman 2) traz o herói vivendo na tela os melhores momentos que teve nos quadrinhos, inclusive com um vilão (Octopus) que é mais perdido que ruim. X-Men 2 (X2), com a abertura do Noturno (Nightcrawler) fedendo enxofre e se teleportando dentro da Casa Branca, e mais tarde o Wolverine fazendo aquilo em que é melhor - com as garras desembainhadas (Snickt!) pulando em cima dos caras malvados e acabando com eles - são apenas alguns dos muitos bons momentos do filme. Superman, Batman Begins, Homem de Ferro (Iron Man), só comprovam que é possível fazer bons filmes a partir de boas idéias dos quadrinhos. V de Vingança (V for Vendetta) é outro que foi bem transposto dos quadrinhos para a tela. E Hellboy ("Oh, crap!") é pura diversão.

Ficção científica? Star Wars - Uma Nova Esperança (Star Wars - A New Hope), também conhecido como episódio IV (ou o primeiro da primeira trilogia) é indispensável. O primeiro Matriz (The Matrix) também é fundamental de se ver. Por falar nele, o menos conhecido O Décimo-Terceiro Andar (The Thirteen Floor) tem idéia parecida e é tão bom quanto, ou até melhor, com muito menos orçamento e menos efeitos especiais. Dos filmes antigos, O Dia em que Terra Parou (The Day The Earth Stood Still) e A Guerra dos Mundos (The War of The Worlds) continuam fundamentais e melhores que suas refilmagens modernas.

Já meio antigos: O Enigma de Andrômeda (The Andromeda Strain); A Última Esperança da Terra (The Omega Man); Planeta dos Macacos (Planet Of The Apes - o original, não a refilmagem).
Mais coisa boa: ET; 2001 - Uma Odisséia no Espaço; Blade Runner - O Caçador de Andróides; e dêem uma olhada em Minority Report. O obscuro Cidade das Sombras (Dark City) também é bom. E o primeiro Alien é assustador, mas é bom.
Hum, Os 12 Macacos (Twelve Monkeys) é outro que merece ser visto.

Meio ficção, meio aventura: O Exterminador do Futuro (Terminator) e Predador (Predator) são filmes honestos, com boas idéias e que divertem bem, onde o Schwazenegger está bem em sua pouca expressividade. Fazendo um parenteses para falar por similaridade: Sylvester Stallone fez dois bons filmes, Rocky - Um Lutador (Rocky), e Rambo - Programado para Matar (First Blood). Como deu grana, ele refilmou até esgotar a cana-de-açúcar...

Captain Sky e o Mundo do Amanhã (Sky Captain and the World of Tommorrow) não é ficção científica, mas é uma bela paródia de filmes antigos, com ótimos efeitos especiais e roteiro legal. Outro não exatamente ficção científica, mas muito bom, é O Sexto Sentido (The Sixth Sense). Bom pacas! Na mesma situação entra Os Piratas do Caribe (Pirates of the Caribbean): mucho bom. Assim como O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park). Já ia me esquecendo: Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark) e Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade).

Fantasia? O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel (The Lord Of the Rings - The Fellowship of The Ring) para mim teve o maior impacto, por dar forma ao que até então só existia na imaginação (minha e de milhões de leitores), como os Orcs em perseguição dentro de Minas Tirit, ou o duelo de Gandalf com o Balrog. Simplesmente espetacular! Stardust - O Segredo da Estrela (Stardust) também deve constar da lista dos 500 filmes para ver algum dia desses.

Nas animações/desenhos/desenhos+gente, tem um punhado de coisa boa para ver: Uma Cilada para Roger Rabbit (Who Frammed Roger Rabbit?) e Mundo Proibido (Cool World); Akira; Toy Story; Formiguinhaz (Antz); Vida de Inseto (A Bug's Life); Monstros S.A. (Monsters, Inc.); Lilo & Stitch (ótimo quando fica contrariado, enfia os pés na boca e sai rolando, ou imita Elvis...); Mulan; os pinguins aloprados de Madagascar; A Era do Gelo (The Ice Age); Robôs (Robots); A Fuga das Galinhas (Chicken Run); os vários de Wallace & Gromit (A Close Shave; The Wrong Trousers; The Curse of the Were-Rabbit); Asterix e os Vikings (Astérix et les Vikings). E os campeoníssimos Fantasia (com aquelas vassouras enfeitiçadas enchendo o poço já transbordado); Shrek; Os Incríveis (The Incredibles), Era do Gelo 2 (Ice Age: The Meltdown). E as obras-primas de Hayao Miyazaki: Totoro (Tonari no Totoro), A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi), O Castelo Animado (Hauru no ugoku shiro).

Filmes brasileiros? Também temos, quer dizer, vimos: assista O Auto da Compadecida; Central do Brasil; Lisbela e o Prisioneiro; e um Antonio Fagundes nada poderoso mas muito mal-humorado no impagável Deus é Brasileiro.

OK, o que não se encaixou em nenhuma categoria?
- velharia legal: O Incrível Exército de Brancaleone (L'armatta Brancaleone);
- roteiros absurdos mas filmes divertidos: Armageddon; Sr. & Sra. Smith (Mr. & Mrs. Smith);
- espionagem, roubos e coisas assim: Uma Saída de Mestre (The Italian Job); Onze Homens e um Segredo (Ocean's Eleven); Thomas Crown - A Arte do Crime (Thomas Crown); os filmes de 007 quando Sean Connery era o James Bond, ou o filme com Daniel Craig (Casino Royale), que resgatou os bons roteiros e retirou o excesso de marmelada que tinha virado a franquia 007 [abre + um parenteses: o Casino Royale de 1967, com Peter Sellers, Ursula Andress e David Niven também é bom - fecha parenteses]; e a trilogia de Jason Bourne (A Identidade Bourne - The Bourne Idendity; O Últimato Bourne - The Bourne Ultimatum; e A Supremacia Burne - The Bourne Supremacy);
- filmes-legais-que-não-sei-como-classificar: Asas do Desejo (Der Hümmel Under Berlin); Fitzcarraldo; Uma Noite sobre a Terra (Night On Earth); Morto ao Chegar (Dead On Arrival); Expresso para o Inferno (Runaway Train); Susie e os Baker Boys (The Fabulous Baker Boys); The Commitments;
- filmes violentos pacas mas bons: os do Tarantino (Pulp Fiction, Kill Bill) e Mad Max;
- filmes policiais: Los Angeles - Cidade Proibida (LA Confidential); os filmes noir das décadas de 30 a 50, em particular dois com Humphrey Boggart: Relíquia Macabra (The Maltese Falcon) e À Beira do Abismo (The Big Sleep).

É claro que tem mais algum filme legal de que eu esqueci ou que não assisti, e mais coisa para escrever. Cada filme desses dá bastante pano pra manga. Fica para alguma próxima postagem.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Por que escrever um blog???

Shazam!
2008 já acabou, com os dias passando como a paisagem vista pela janela de um trem em alta velocidade: basta se distrair um pouco, que os detalhes mudam e logo a vista toda já é outra.

Começo 2009 respondendo a uma pergunta do meu amigo Valmir: por que fazer este blog? Por que assumir mais uma tarefa, além das outras 5459 que tenho (e que nem sempre atendo), e cuja lista cresce mais que mato depois da chuva?

Vamos por partes, como já dizia o Wolverine: a primeira e mais óbvia razão é que sou sem noção. Platão acreditava que existe um mundo das idéias, que precede a existência do mundo físico que nossos cinco sentidos (seis para as mulheres?) percebem: por exemplo, é necessário que exista a idéia de uma árvore, para que tal árvore exista de fato.
Eu passo boa parte do tempo nesse mundo das idéias, onde criar, planejar e executar acontece literalmente com a velocidade do pensamento. Quando "salto" para nosso universo quadridimensional convencional, a implementação dos projetos mentais é absurdamente retardada, tal como o ângulo e a velocidade da luz que variam ao mudar de um meio físico para outro.
Imprevistos, incidentes, detalhes que não existiam de repente se materializam, falta de consideração do universo em invadir meus tão-bem elaborados planos, etc., tudo isso contribui para que algo que deveria levar alguns minutos acabe levando dias, ou jamais sendo realizado. É muito mais fácil imaginar do que realizar algo - mas se não houver a idealização, a materialização dificilmente acontecerá.

A segunda razão é que explorar um novo meio de comunicação e compartilhar o que penso pareceu ser uma boa idéia, pois acho praticamente tudo interessante (até contabilidade tem lá sua graça...).
Dizem as filosofias e religiões espiritualistas reencarnacionistas - nas quais acredito, até que tenha melhor opção - que vivemos sucessivas vidas aqui na Terra para aprendermos, evoluirmos, e consertarmos as bobagens que já fizemos. Pois do jeito que acho este planetinha interessante, quando eu zerar minha cota de asneiras, acho que ainda vou voltar outras vezes, pois este mundo, apesar dos pesares, é cheio de maravilhas e de gente legal. Ah, e quem quiser ver uma abordagem mais científica para essa história de algo sobreviver ao fim do corpo de carne-e-osso, leia A Física da Alma, do físico indiano Amit Goswami - esse é um dos próximos 50 livros que estão na minha fila de leitura para 2009...

A terceira razão é mostrar meus arroubos (pretensamente) literários, como fazia na década passada ao imprimir as poesias e very short stories que eu produzia após algumas tempestades mentais. Isso até rendeu um livro artesanal, que 97 felizardos possuem. Desta vez resolvi democratizar o acesso a quem quiser ler essas mal-traçadas linhas...

A quarta, e creio que mais importante razão, é compensar a impossível vontade de viajar de volta no tempo e reencontrar as centenas (milhares?) de pessoas que conheci ao longo da vida: gente com quem trabalhei, com quem estudei, com quem batalhei, com quem convivi, gente que foi amiga, que me prestou bons serviços, que me ensinou coisas, que fez a diferença em pequenos detalhes ou em grandes momentos. Qual cometas com órbitas excêntricas, que ora ficam próximas e ora se afastam até sumir de vista, sei que todos têm de levar e compartilhar sua luz a outros lugares e outras pessoas, mas a saudade é movimento que não dá sossego ao peito, então para mandar meus sinais - de fumaça e de luzes - aos que ainda consigo alcançar, coloco as idéias, novidades e mensagens onde eles e elas podem ver, se assim o quiserem.

Não soou lógico o bastante para convencê-lo? Sinto muito, Sr. Spock, mas o Dr. MacCoy concordaria comigo. Enquanto isso, continuarei escrendo.