sábado, 23 de fevereiro de 2013

A Yoga de Jesus

Paramahansa Yogananda (1893-1952) foi um dos maiores, se não o maior, divulgador da Yoga e de sabedoria espiritual oriental no Ocidente, principalmente por seu livro Autobiografia de Um Iogue.

A Yoga de Jesus é um livro a partir de outro livro; contém excertos de The Second Coming of Christ: The Ressurrection of the Christ Within You. Nessa obra, Yogananda se propõe a analisar Jesus como um Oriental - que, por seu nascimento e pela sociedade (e localização geográfica) em que viveu, Jesus foi - e não como um Ocidental, como foi sendo adaptado pela visão da nossa sociedade Ocidental...

Mais do analisar a figura de Jesus, Yogananda analisa seus ensinamentos, com uma lucidez e bom-senso que mostram sua (Yogananda) grande estatura espiritual: sem se prender a rótulos, ele analisa o conteúdo do que Jesus trouxe, dá-lhe o devido valor, traça paralelo entre as informações das escrituras cristãs/bíblicas e as escrituras indianas, e nos lembra que a espiritualidade se eleva acima de qualquer separação de religiões.

Eis alguns trechos dessa obra pouco conhecida de Yogananda, mas digna de ser lida e ponderada:



Os salvadores do mundo não vêm alimentar divisões doutrinárias hostis, e seus ensinamentos não devem ser utilizados para esse fim. Chega a ser impróprio referir-se ao Novo Testamento como a Bíblia ‘Cristã’, pois ele não pertence exclusivamente a nenhuma seita.

A verdade destina-se a promover a benção e a elevação espiritual de toda a raça humana. Assim como a Consciência Crística é universal, Jesus Cristo também pertence a todos.


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_ O senhor crê na divindade do Cristo? – perguntou um visitante.
Paramahansa Yogananda respondeu:
_ Sim. Gosto de falar dele porque foi um homem de perfeita Autorrealização. Entretanto, ele não foi o único filho de Deus, nem afirmou que o fosse. Em vez disso, ensinou claramente que aqueles que cumprem a vontade do Senhor tornam-se, como ele, um com Deus. Acaso não foi a missão de Jesus na Terra lembrar aos homens que Deus é o Pai Celestial de todos e mostrar o caminho de volta a Ele?
Assim Falava Paramahansa Yogananda
 

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Jesus foi precedido por Gautama Buda, o “Iluminado”, cuja encarnação relembrou a uma geração negligente o Dharma Chakra ou a roda do karma em constante rotação – ações iniciadas pela própria pessoa e os efeitos dessas ações, que fazem com que cada homem, e não um Ditador Cósmico, seja responsável por suas condições atuais. Buda trouxe vida nova a uma teologia árida e a rituais mecânicos – a que decaíra a antiga religião védica da Índia ao findar uma idade superior em que Bhagavan Krishna, o mais amado de seus avatares, pregara o caminho do amor a Deus e da realização divina por meio da suprema ciência espiritual da yoga, união com Deus.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Tempo (de novo - ou ainda)

Divagações de uma segunda-feira (04/fevereiro/2013) à tarde, no meio de um retiro espiritual:

Meia hora para ficar na mata, em silêncio. Meia hora inteirinha sem obrigação de fazer nada, nem pensar - ou talvez pensar já seja uma grande coisa, algo raro numa sociedade que exige cada vez mais velocidade e onde o raciocínio é opcional ou até indesejado.

A mata fechada tem pouca luz e está toda úmida por causa das fortes chuvas diárias.

Aqui, só o barulho do vento, de uma moça comendo maçã, do pássaro eventual ou de um carro, mais eventual ainda, passando pela estradinha próxima. Tarde de segunda-feira para fazer o que quiser, em silêncio, no meio da mata; quem tem meia hora livre, na grande cidade com suas muitas obrigações, e nas empresas?

Neste solo úmido e abençoado com sol e vento - e uma temperatura nem congelante nem escaldante -, a vida brota em todos os cantos, sem preocupação com relógio, mas sempre no tempo certo. Nós, seres humanos, perdemos essa conexão visceral com o tempo, quando passamos a medi-lo e assim querer controla-lo, ao invés de fluir com ele no ritmo da Natureza.

No ritmo artificial que criamos, nós nos desconectamos da Natureza e nos perdemos de nós mesmos; adoecemos e não admitimos nossa auto-enfermidade, e buscamos alívio nos aprofundando mais nas criações do nosso ritmo artificial. 

Evoluir sem devastar, criar sem estagnar; desafios para cada um e para a sociedade.

Ah, o tempo! Dizem que só temos o presente, pois o passado é lembrança e o futuro ainda não aconteceu. Mas o presente é efêmero e escorregadio, sempre se desfazendo ante nossos olhos e escapando entre pelos dedos, instantaneamente virando lembrança e se tornando passado, na mesma velocidade com que o futuro vira o agora e já passa para o passado... 

Assim, atuamos sobre o passado, em cima de nossas projeções para o futuro.

O presente é tudo que temos, mas só o conseguimos utilizar como ligação entre o que já foi e o que está por vir. No grande oceano do tempo, sua correnteza nos leva sempre, e só com nossa mente, associada às emoções, é que temos a autonomia para voltar ou avançar.

Como passageiros da astronave Terra, ela nos leva em SEU caminho pelo espaço; e como criaturas no mar infinito temporal, seguimos aonde suas ondas nos impulsionam. Que grande ilusão a nossa de querermos controlar alguma coisa!

E para que controlar? Para, no suposto poder conquistado, termos a "segurança" de estarmos protegidos de outros como nós, que também têm seus medos, e a quem buscamos apequenar, para nos sentirmos maiores e assim a salvo? Controlar a todos, ao mundo inteiro, para assim nada temer? Não seria mais fácil nos entregarmos, abrir mão de qualquer ideia de controle, e sermos integrados ao Todo, e assim não precisar temê-lo?

Ah, mas isso demanda uma confrontação ainda maior do que enfrentar o mundo todo; isso requer que olhemos para nós mesmos, inclusive aquelas partes que procuramos esconder ou fingir que não existem, e nos reconhecermos, aceitarmos e assim, conscientes, evoluirmos, cada um respeitando a si mesmo, e aos outros como extensões de si mesmo.