quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Coisas difíceis de entender (III): Trânsito selvagem

Nestes dias que antedecem o Natal, o trânsito paulistano consegue bater novos recordes de congestionamento, poluição sonora e do ar, estressamento de pessoas e grosserias gratuitas.

Gente que, a pé, seria incapaz de fazer mal a uma mosca, quando entra em seu veículo se transforma em um incrível Hulk com quatro pneus. Parece que pilotar um veículo é a fórmula do Dr. Jekyll para virar Mr. Hyde.

Observando e tentando entender essa patologia espalhada por centenas de kms pela Paulicéia desvairada (e congestionada), acabei concluindo que é uma selvageria - retomada de aspectos selvagens -, pois além de mostrar o retrocesso ao primitivismo, há o estabelecimento de tribos bem específicas:

1- os "praondeuvô?": lerdos, perdidos ou atrapalhados.
Fáceis de identificar, pois dão seta para a esquerda e entram à direita, andam a 30 km/h na faixa da esquerda em vias de 60 km/h, andam devagar na sua frente sem motivo aparente e, quando o farol amarela, aceleram e te deixam pegar o farol fechado...

2- os "saidafrente!": entre outras coisas, não dão passagem, ultrapassam pela direita e pelo  acostamento, fazem retorno e conversões proibidas e arriscadas, são mais rápidos que a luz (antes do farol abrir já estão buzinando), querem revolucionar a física (acreditam que o deslocamento de ar causada pelo som de suas buzinas vai fazer o congestionamento fluir), fecham os cruzamentos... e acham que civilidade, gentileza e respeito são palavras abolidas em alguma dessas reformas ortográficas por aí.

3- os "motomen": quando abre o farol, parecem uma nuvem de marimbondos zumbindo, buscando todos os espaços visíveis e possíveis entre os carros.
Com manobras ágeis, radicais e velozes, arriscam o pescoço com a mesma facilidade com que xingam e ameaçam quem não os viu sair da primeira para a quarta faixa em menos de um segundo.
Coisa interessante é que seu número aumentou tanto que o maior obstáculo ao seu deslocamento entre os carros parados são eles mesmos: hoje há congestionamento de motos, no meio do congestionamento dos carros...

4- os "taxidriver": premidos pelo tempo, fator básico para fazer mais corridas e faturar mais (ou ter menos prejuízo), acabam, por necessidade, se comportando como um misto dos "saidafrente!" com os "motomen", buscando sempre avançar mais depressa e realizando manobras aparentemente impossíveis.
É justo dizer que, mesmo com essa pressão, vários deles conseguem se lembrar da cordialidade e da civilidade.

5- os "somnacaxa!": pilotam uma (gigantesca) caixa acústica sobre rodas, compartilhando com o mundo suas músicas e sons favoritos.
Identificáveis a um quarteirão de distância.

6- os "cargapesada": conduzem ônibus e caminhões pequenos, médios, grandes e muito grandes.
Tem uma baita responsabilidade (e habilidade) para conduzir toda aquela tonelagem.
Vale a pena ficar esperto e facilitar o trabalho deles - e ficar fora do caminho, também.
Em caso de dúvida no trânsito, eles sempre estarão certos, pois são maiores e mais pesados que os demais.

7- os "newbikers" (os "oldbikers" hoje vão de carro): de mochila, capacete e luzes piscantes - mas até hoje só vi com máscara para a poluição que o esforço físico os faz respirar em maior quantidade - eles são a "alternativa verde" para quem quer se locomover sem se preocupar com o suor nem precisar participar de reuniões corporativas.
Pena que muitos andem na contra-mão ou em calçadas, varem os faróis vermelhos e travessias de pedestres,
e achem que sempre serão vistos e respeitados pelas pessoas nos outros veículos e a pé.

8- os "tôcerto": aqueles que, como eu, acham que fazem tudo certo e sempre estão com a razão :-)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Coisas difíceis de entender (II): Halloween brasileiro

Em 27 de setembro comemorava-se - aliás, ainda se comemora neste nosso Brasil, em lugares onde a globalização não se enfronhou - o Dia de Cosme e Damião: dia de "fazer um agrado" às crianças, principalmente dando-lhes doce, pipocas ou guloseimas.

Com o contato cada vez maior entre os países e as culturas, aportou por aqui o importado o Halloween: comemoração americana do "Dia das Bruxas" (31 de outubro), onde o mote é sair fantasiado de algo mórbido ou "do mal", dar sustos nos outros e "pedir" - se bem que isso me soa mais como ameaçar - "gostosuras ou travessuras".

Conheci um americano que está há 30 anos no Brasil e ele quis me convencer que uma das coisas mais legais de sua adolescência no Oregon era o Dia das Bruxas, quando ele e seus amigos se fantasiavam de fantasma, monstro, lobisomem, vampiro ou algo assim, e ficavam a noite toda acordados pregando sustos nas pessoas ou pedindo (extorquindo?) guloseimas.

"It was fun!" (era divertido!) foi o que ele me disse, com olhos sonhadores relembrando aquilo. Ele é um cara legal, mas meu conceito de diversão é diferente disso... difícil de entender. No comprendo...

Divulgado em filmes, desenhos, internet, etc., esse conceito foi adotado por cada vez mais crianças e adolescentes por aqui, principalmente nos prédios de cidades como São Paulo. Até parece que o Dia de Cosme e Damião ficou só para os "caipiras" ou "atrasados".

Aos bandos, essa garotada sai pelos corredores, levando algazarra, gritaria, bagunça, até vandalismo, e com a anuência complacente (às vezes constragida de alguns) dos pais. Quem sabe esses pais pensem "antes lá fora no corredor do que aqui dentro"?

O fato é que, após anos indo pela via mais fácil - comprar balas ou chocolates para despachar logo da minha campainha os pidões pedintes (e ter sossego: o problema passa a ser do próximo vizinho), neste ano fui surpreendido pela algazarra e disparo incessante da campainha no dia 30 de outubro! Sem doces - que só compramos no próprio dia 31 - minha esposa escutou das crianças que, como o dia 30 era domingo, elas aproveitaram para pedir antes, pegar mais gente em casa e "livrar" seu próprio dia 31...Halloween com "jeitinho" brasileiro, folgado e descarado!

Desta vez elas saíram do meu - e de vários outros apartamentos - de mãos vazias.

Pensei  em falar para elas voltarem em 27 de setembro, mas diante da tarefa de ensiná-las sobre Cosme e Damião e de uma forma menos agressiva de interagir e receber guloseimas, percebi que deveria poupar meu latim e deixar que seus pais, ao receber os "pimpolhos" de volta mais cedo e mais frustrados, tivessem a oportunidade de exercer seu papel (dever!) de educadores.

Coisas difíceis de entender (I): Futebol bestificante

Anteontem meu time - Santos - decidiu o Mundial Interclubes de Futebol (ou algo assim) contra o Barcelona, no Japão, logo pela manhã.

Passei o dia em aula e só fui saber o resultado à noite: 4 a 0 para o Barcelona. E me perguntei: em que a derrota do Santos, na final desse mundial de 2011, altera a minha vida?

Em nada.

E se tivesse ganhado - Santos, campeão mundial interclubes de futebol de 2011 - em que isso alteraria a minha vida?

Pagaria minhas contas, me deixaria mais bonito, me faria uma pessoa melhor?

Também não.

Então fica difícil entender a quantidade enorme de provocações de torcedores de outros times - que extrapolam muito a saudável gozação e caem na agressão - ou as críticas dos (antes do jogo) simpatizantes.

Da mesma forma, fica difícil eu entender por que tanta gente muda de religião - algo que deveria ser importante, por tratar literalmente de vida e morte -, mas não troca o time de futebol por nada neste mundo.

Pior ainda: briga, xinga, discute, bate e até mata em nome dessa "paixão" (com "p" tão minúsculo que não deveria nem dar para enxergar).

O futebol, pela dificuldade de se jogar - o sujeito não apenas tem de correr conduzindo a bola, mas para manter seu controle e criar as jogadas que atinjam o objetivo ("Goooooooolll!") deve fazer isso com os pés - e por ser um dos raros esportes onde a excelência técnica e domínio dos fundamentos não garante que o melhor time seja o vencedor, tem uma certa magia pela beleza que às vezes apresenta nas jogadas e pela imprevisibilidade.

Mas ainda é muito pouco para justificar tanto destranbelhamento que acomente as pessoas, sejam torcedores, jogadores de fim de semana, jornalistas, comentaristas, ou simplesmente pessoas como você ou eu.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Férias

Vou tirar férias daqui duas semanas e irei para a Índia; não é um dos 10 lugares no topo da minha lista de desejos, mas já que minha esposa vai e eu estou precisando de férias - e posso tirá-las - vou nessa!

Na última reunião do grupo que vai - alunos, professores, praticantes e aficionados de Yoga - ouvi comentários que me puseram a pensar: gente preocupada com a roupa que iria usar para os jantares, com a condição dos lugares onde seriam os estudos e retiros, com as compras a fazer, com o que levar para ficar mais confortável... e reparei que a ideia de férias, para muita gente, é continuar fazendo o que já faz normalmente, só que em outro lugar e sem a atividade de trabalho ou de estudo.

Férias - do latim feria, ou feriae - tem o significado de descanso do labor ou do estudo; feriado - um dia de descanso - vem da mesma origem.

Até aí, tudo bem; mas as pessoas se habituaram a pensar que para estar de férias (ou em férias?) é preciso estar em outro lugar, diferente do seu local habitual. E também se habituaram a querer ter, em suas férias (em outro local) as coisas do seu dia-a-dia: ter a televisão para continuarem assitindo aos mesmos programas - mesmo que só para falar mal deles, depois; ter seu jornal e sua revista - entregues em seu endereço de férias!; ter suas comidas conhecidas e preferidas; etc.

Ou seja, as pessoas se habituaram a pensar em férias como um lugar para onde se vai e se mantém a rotina... quando o objetivo das férias é dar descanso - ao corpo, mas principalmente à mente, ao espírito e às emoções.

Dessa forma, não é preciso ir para a ìndia, Disney ou Tahiti para estar de férias, mas sim estar dispostoa pensar diferente, sentir diferente, prestar atenção em coisas - sons, imagens, aromas, formas, etc. - diferentes daquelas que se repetem tanto no dia a dia que viram rotina e ficam familiares e dão o reconforto do conhecido e da comodidade (e do comodismo).

Ou seja, férias não é ONDE se está, mas sim COMO se está.

Eu já estou em espírito de férias - VER diferente, PENSAR diferente, SENTIR diferente - e vou me esforçar para continuar assim, mesmo quando trabalhando, estudando, ou fazendo qualquer outra atividade.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

As horas estão se esgotando

Dias atrás, no velório do pai de uma amigo, revi pessoas que há uns 20 anos não encontrava, e fui lembrado de como a vida continua, mesmo longe dos meus olhos e do meu pensamento, estampada em rugas, cabelos brancos (ou falta de cabelos), barriguinhas e gordurinhas, crianças que agora são adultos e têm suas próprias crianças...

Um colega, que também via isso, ilustrou bem esse (nosso) espanto:
_ Jesus! Onde eu estava que não vi nada disso acontecer?

O mesmo colega, sem perceber, deu uma dica da resposta, logo depois, quando falávamos dos nossos empregos:
_ No mundo corporativo, os dias demoram uma eternidade, e os anos passam num instante.

Pois é: reuniões, planilhas e relatórios consomem avidamente nossas horas cotidianas, e o trânsito irracional de São Paulo destrói mais um tanto dessas horas - preciosas, porque insubstituíveis - e assim, quando nos damos conta, não encontramos mais um monte de gente, simplesmente porque não trabalham mais conosco ou não estudam mais conosco: saíram do nosso trajeto social diário, ficaram fora do nosso raio deação, e assim a convivência fica para "quando der tempo".

Passam-se os anos, a vida segue impassível à velocidade de 24 horas por dia para cada um e para todos, e o reencontro fica para situações extremas, como um falecimento.

_ Culpa do mundo corporativo? - perguntei eu, e o colega me respondeu:
_ É, mas precisamos do mundo corporativo para ter dinheiro.

Verdade verdadeira; no atual paradigma da nossa sociedade capitalista, o dinheiro é a forma de eu trocar meu tempo e esforço (trabalho) por aquilo que preciso e pelos supérfluos - cada vez mais! - que não preciso.

Até aí, tudo como sempre foi: para ter alguma coisa, preciso fazer algo, pois as coisas - bens, comida, abrigo, roupas, etc. - não se produzem sozinhos.

A porca torce o rabo quando ficamos tão dependentes desse modelo de sociedade que, mesmo que não consumíssemos mais nada de supérfluos, ainda assim precisaríamos de algum trabalho para recebermos o dinheiro para comprar comida, roupas, remédios, ter abrigo, etc., porque hoje não somos mais capazes de fazer isso por nós mesmos, especialmente nas grandes metrópoles. A super-especialização aumenta a dependência do resto da sociedade.

E existe vida fora das corporações (cada vez maiores)? Existe, mas elas, com suas fusões, compras e aquisições, vão engolindo tudo. Estão conseguindo fazer o que o comunismo não conseguiu: caminhamos para ter o banco único, a cervejaria única, o supermercado único, a indústria farmacêutica única, e por aí vai.

O que precisa mudar é esse modelo em que os seres humanos são apenas mais um insumo no complexo processo que transforma tempo, matéria-prima, homens/hora, sonhos, etc., em bens cada vez menos necessários e mais rentáveis, para que o lucro dos acionistas continue a crescer.

É preciso restaurar a dignidade e o valor do indivíduo, e não enxerga-lo somente pelo que ele pode produzir dentro da disputa globalizada de ter ganhos cada vez maiores, a qualquer custo - antes que precisemos penhorar as horas dos nossos descendentes, pois as nossas, no ritmo e esquema atual, já estão se esgotando.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Namaskar!

(Texto inspirado pela convivência com minha turma em oito módulos do curso de Biopsicologia, no Instituto Visão Futuro, em 2011 - gente fantástica, num lugar especial)

Terei um universo inteiro de coisas a lamentar
se ao olhar para trás eu continuar
a somente ver os esqueletos e escombros que produzi
e as tempestades que semeei
enquanto aprendia com mais erros que acertos

Há momentos em que as tensões exteriores
fazem as sombras se agitar em minhas profundezas,
corroendo meu íntimo, trovejando,
como almas penadas sem descanso,
me forçando a fazer algo a respeito delas

Sozinho, às vezes tento fingir que não é comigo,
que se esperar bastante tudo vai se resolver;
outras vezes parto para o confronto total
e tento vencer as trevas que me assolam
sendo mais sombrio que elas próprias,
sem coragem de aceitar as sombras em mim
e trazê-las junto comigo para a luz,
sem conseguir entender o porquê
de ser tão difícil olhar a mim mesmo no fundo dos olhos

E quando parece não haver mais solução
o Universo envia alguém que me olha além do fundo dos olhos,
que vai até o fundo do coração
e que então ora pelos meus fantasmas,
limpa meus escombros e trata minhas dores,
pois enxergou que existe algo mais além da desolação,
e me ajuda a dar mais valor ao bem que poderei fazer
do que aos erros que um dia materializei
e redescobrir a fé em mim mesmo e no Universo

Namaskar!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Amor de Verdade

falar de amor
é uma bobagem tão deliciosa
quanto uma tarde ociosa
vendo o sol se por
por mais que se diga,
não se explica,
pois só quem sente
é que entende
que não é mágica, mas vida,
e quem ainda duvida
só adia a chance
de, ao menos por um instante
saborear anahata, samadhi,
de se expandir,
ser uno com o universo
e, complemento do inverso,
ter todo o universo em si
ao descobrir
que amor de verdade
nunca é restritivo,
que amor de verdade
sempre é multiplicativo

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Serenidade

Serenidade é mais do que uma situação momentânea. Ela é uma conquista da alma, por parte daquele que não apenas se empenha em conhecer-se e melhorar-se, mas que acima de tudo tem a humildade de reconhecer suas limitações, acatar a orientação dos que hoje têm maior sabedoria do que ele, ter a coragem de tentar novamente e de aceitar as consequências do que faz.

Serenidade é o caminho para dar menos atenção ao próprio ego, e mais ao divino que está em toda parte.

Serenidade é a chama que ilumina sem queimar, que aquece sem entorpecer, e que ao deixar de fazer força fica mais forte.

Serenidade é atributo do Infinito. Quando nos conscientizarmos que nosso caminho leva à Eternidade e ao Infinito, e aceitarmos nossas tarefas de auto-melhoria, começaremos a fluir com mais facilidade por essa senda da evolução.

Caminhos

As perguntas não deveriam ser "de onde viemos?" nem "para onde vamos?", mas sim "como estamos?".

Somos habitantes de todo o Universo, jornadeiros do Infinito através da Eternidade, então mais importante do que a nossa localização no Espaço-Tempo, é a nossa localização no campo emocional-moral/ético-espiritual, que abrange muito mais que nossa visão limitada do dia a dia, e onde nossa atuação ressoa fortemente à toda nossa volta e se propaga com a velocidade do pensamento, reverberando Universo a fora.

Como as posses, riquezas, cargos e status são transitórios, o valor maior reside em conhecermos a nós mesmos, pois esse é o ponto fundamental e insubstituível para nos aceitarmos, trabalharmos nossa sombra, e assim nos reconhecermos nas sombras alheias e dessa forma conseguirmos uma melhor postura e atitude, sem nos sentirmos obrigados nem diminuídos, pois teremos então a percepção de que este é o Caminho natural a seguir no processo da evolução.

Todos os Caminhos levam ao Pai/Mãe-Princípio de Tudo/Destino de Tudo.

Há Caminhos bons e Caminhos ruins.

O Caminho de cada um está dentro de si mesmo.

A cada um compete cuidar do seu Caminho.

Podemos caminhar ao lado de outros por algum tempo, mas cada um em seu próprio Caminho e ritmo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

44

Coma chocolate. Não coma chocolate.
Beba leite. Não beba leite.
Tome café. Não tome café.
Exponha-se ao sol. Não se exponha ao sol.

Já pensou em quantas informações binárias, isto é, do tipo sim/não, é/não é (mutuamente exclusivas e conflitantes) recebemos por dia?

A grande maioria apoiada em números, testes, experimentos, etc. Estão certas ou erradas?

A resposta é: estão certas E erradas... depende do contexto e de como são aplicadas e avaliadas.

A menos que você tenha constatado algum problema sério - ou tenha alguma restrição filosófica, religiosa ou coisa assim -, não tome uma atitude única e definitiva desse tipo citado acima.

Por exemplo: se você gosta de chocolate, não tem problema físico que seja agravado por ele (alergia, diabetes, obesidade, etc.), então coma chocolate - de vez em quando; não vá comer uma caixa de bombons por dia, ou uma barra de 200 g em lugar de uma refeição.

O Taoísmo há séculos e séculos recomenda o caminho do meio; a sabedoria popular também faz tempo que diz "nem 8, nem 80". Então, para facilitar nossa vida, vamos aplicar o 44 - o meio termo entre os extremos (o 8 e o 80) - e sermos menos estressados e mais contentes.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Não sou perfeito... ainda!

Estava relendo um texto meu e pensei - provavelmente pela centésima vez nesta semana e pela zilhonésima vez na vida - que "eu poderia ter feito melhor"; no piloto automático, lá veio a velha cobrança perfeccionista que aflige todo mundo que tem o signo solar, o Ascendente ou a Lua (eu!) em Virgem, ou Saturno em Casa angular, ou um stellium (um monte de planetas juntos) na Casa VI (eu, de novo!)...

Antes de me auto indicar um Crab Apple - um Floral de Bach recomendado para pessoas muito perfeccionistas e detalhistas, que cobram muito a si mesmos - acendeu-se a clássica lampadinha sobre a minha cabeça e complementei a minha crítica inicial:

Sim, eu PODERIA ter feito melhor SE naquele instante eu tivesse a experiência, o conhecimento, a intuição e o discernimento que tenho agora... como não tinha, fiz o melhor possível naquela ocasião.
Se eu ficar sempre me cobrando por não ter feito melhor tudo que já fiz na vida, repassando na minha mente o que poderia ou deveria ter sido, ficarei preso eternamente no mesmo lugar, patinando na minha falta de perfeição e falta de caridade com as minhas próprias deficiências.

Ao invés da cobrança desmesurada por não ter atingido a perfeição, o melhor - para mim e para o mundo que convive comigo - é manter meu empenho em sempre fazer o melhor possível nas circunstâncias existentes.

A Consciência Cósmica - um dos muitos nomes de Deus (ou será que Deus é um dos muitos nomes da Consciência Cósmica? Pensarei nisso depois) - em sua infinita sabedoria (muito maior que a minha ignorância) cuida, com suas leis universais, para que eu, um dia, chegue à máxima perfeição possível para uma criatura.

Então, quando vier aquela cobrança automática do "eu poderia ter feito melhor", vou responder a mim mesmo: "Não sou perfeito... ainda!".

Preciso de todos vocês

Passei uma semana cada vez mais pesada e estressante. Aí, tive um final de semana completamente oposto: um curso legal, num lugar agradável, com pessoas especiais.

Naturalmente, eu não queria voltar à rotina na segunda-feira; queria prolongar - eternizar, quem sabe - a situação boa, e jamais voltar para a situação mais desagradável.

Foi aí que o monte de coisas que tenho lido, estudado, pensado e tentado praticar sobre espiritualidade, finalmente fez brilhar uma luzinha na minha cabeça, e me levou a entender que ambos os extremos são ruins, tanto pelo excesso quanto pela ausência - sim, até mesmo coisa muito boa, em demasia, faz mal.

Explico: as coisas boas, sempre propiciadas por alguém ao nosso redor, são ótimas para massagear nosso ego, nos dar o alívio e a satisfação que precisamos, nos ajudar a nos recuperar das refregas diárias da vida, mas... se só tivermos coisas boas, ficamos mal-acostumados, indolentes, preguiçosos, folgados, molengas, auto-indulgentes, e por aí vai.

Por outro lado, as dificuldades, sempre causadas por alguém no trabalho, na família, na rua, no trânsito, na comunidade a que pertencemos - desde o bairro até o país todo - nos obrigam a lutar, a crescer, a aprender, a nos depurar, a nos fortalecer, mas... se só tivermos dissabores, ficaremos frustrados, revoltados, vingativos, etc.

Ou seja, no momento cósmico em que eu estou - e acho que a maioria do planeta, também - preciso das duas coisas. O Yin e o Yang nunca foram tão atuais.

Assim, preciso de todos vocês: meus amigos queridos, minhas pessoas amadas, meus desafetos, os desconhecidos por mim ou de mim, os indiferentes a mim.

Por isso, conte comigo; vai ter momentos em que serei legal, em outros serei um chato, posso ser insuportável, mas também surpreendentemente útil e agradável.

E posso contar com você, também?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pó de estrelas

Do céu viemos, pela terra passamos, e ao céu retornaremos.

Nessas passagens de um ambiente para outro modificamos o ambiente e por ele somos modificados.

Pó de estrelas, matéria-prima de anjos, componentes divinos: somos a vida, que sempre se transforma e é a única constante num universo de impermanências.

Quando vislumbramos isso fica mais fácil descartar o orgulho infantil, como quem deixa uma roupa rota e sem mais utilidade, e aceitar o manto luminoso e libertador da humildade.

E com esta, os próximos quesitos da escalada evolucionária ficam mais acessíveis: compreensão, abnegação, dedicação, confiança. O que antes parecia ser um fardo, vira incentivo: um evento a mais a ser apreciado pelo bem particular e para o bem comum.

Um fóton é emitido por uma estrela, viaja pelo espaço, é absorvido por uma planta, que realiza fotossíntese e que gera frutos, que alimentam animais, que alimentam outros animais... num ciclo de bilhões de anos essa energia continua a circular nesse mundo, até que esse mundo é transformado pela força titânica de seu sol que tornou-se uma supernova e assim emite energia que chega, como radiação e fótons, a novos lugares na galáxia, e continua a promover o processo de transformação da vida.

O próprio universo está vivo.

Qual é o tamanho e a importância de nossos problemas, posses, desafetos e mesquinharias, diante de tamanha grandiosidade, da qual fazemos parte?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Integral

Correr. Subir. Voar sobre o arco-íris.

Ir onde só chega a imaginação.

Saber sem perguntar.

Aprender nosso lugar junto às pedras, plantas, insetos, e a todos os animais que já se foram e aos que ainda virão.

Todos os átomos se parecem.

Ao perder o individualismo, ser um ser integral, integrado com o Tudo e o Todo, e ainda assim único.

Exercício de depuração, de crescimento para todos os lados, principalmente por dentro.

Sem lamento. Sem dor. Só consciência.

Vibrando em mais dimensões que a Matemática sabe ou que a Física especula.

Saber. Ser.

Sentimento com razão. Yin com Yang. Qualquer descrição que mostre a grandeza da simplicidade, a união das partes sendo maior que a simples soma aritmética.

Não é loucura, mas às vezes a lucidez extrema soa assim.

Quando não precisamos mais de palavras, mas apenas das sensações, teremos eliminado uma grande barreira ao entendimento.

Aprendamos a nos expressar integralmente. E busquemos também entender integralmente.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Medida do Mundo

Já reparou que tem gente que fala como se estivesse no boteco: diz tudo que lhe vem à cabeça, sem a menor preocupação com coerência, ou sem compromisso em mais tarde fazer o que falou - na verdade, sem sequer se lembrar do que falou? O importante é falar e chamar a atenção?

E que outras pessoas agem como se tudo que conversam com os outros fosse registrado numa ata de reunião, para ser cumprido com prazos e responsabilidades?

E que entre esses dois extremos, tem gente que fala palavras que interpretam de maneira diversa da que nós interpretamos?

Vemos que existe uma enorme variação de formas de expressão e interpretação; praticamente uma para cada pessoa. Só que a expectativa criada por nós tem por base a nossa própria interpretação, e é aí que começam os problemas de comunicação: nós somos a medida do mundo, perante os nossos próprios olhos, ainda que de forma inconsciente.

Assim, criamos expectativas, temos decepções, frustrações, revoltas, etc, pelo simples fato de termos projetado sobre as ações e principalmente sobre as palavras dos outros, a nossa própria interpretação, como se tudo que os outros fazem / dizem tivesse como diretriz o que nós fazemos / dizemos...

Uma pessoa diz "volto já!", e realmente busca retornar o mais rapidamente possível; outra, ao dizer a mesma coisa, vai voltar se e quando lhe for mais conveniente. Dependendo da nossa interpretação, vamos ficar irritados com ambas, pois pode ser que para nós, esse simples "volto já!" signifique "volto em até um minuto!" (senão deveríamos dizer "volto em alguns instantes").

Quando nossa medida do mundo é apenas nós mesmos, com nossos anseios, limitações e o restante de nossa bagagem intelectual, emocional e espiritual, estamos propensos a conflitos desnecessários, simplesmente por ignorar a variedade complexidade das outras pessoas com que interagimos constantemente, e às quais é necessário que busquemos compreender, para também sermos compreendidos, e gerar menos ruído nas nossas comunicações.

Ainda não sei qual seria a melhor - ou pelo menos uma boa - medida do mundo, mas estou procurando expandir e calibrar a minha medida atual ;-)

sábado, 1 de outubro de 2011

Faça a coisa certa, pelo motivo certo

Numa palestra que assisti, dias atrás, englobando Tantra, Yoga, etc., uma monja falava sobre Kundalini.
Disse que essa movimentação de energia, conseguida pela meditação, quando percorre os principais chakras e chega ao chakra do topo da cabeça, ocorre o Samadhi, ou o êxtase inexprimível, resultado da conexão da consciência individual à consciência universal, e que isso é a coisa mais maravilhosa que existe.

Quase todos presentes à palestra soltaram seus "oh!" e "ah!", e comentários cochichados do tipo "eu também quero!" - e eu me senti um ET ali no meio porque não senti a menor vontade de unir minha consciência - vá lá, pequena e com pouco brilho, mas é o que tenho - à Consciência Universal, que não deve sentir assim tanta falta da minha contribuição.

Dias depois, em outra palestra, desta vez numa casa espírita, a expositora narrava uma revisão da colônia espiritual "Nosso Lar", e comentou que uma das diretoras de lá, a ministra Veneranda, já acumulara mais de um milhão de bônus-hora - algo como um milhão de horas trabalhadas em benefício dos outros.
(Se considerarmos que ela trabalhe dez horas por dia, de segunda a domingo, dá 3650 horas por ano; assim, um milhão de horas dá cerca de 274 anos de trabalho, todos os dias, dez horas por dia.)

Novamente, me senti um estranho no ninho: as pessoas ao meu redor soltavam curtos comentários de admiração mesclados com certa inveja, pensando na "glória" de atingir tais números, e eu sem a menor vontade de ser nem um décimo altruísta e dedicado assim...

Com isso tudo, me lembrei de um episódio de Babylon 5, uma série de ficção científica da década de 1990 - e a melhor que já vi - onde a mensagem do episódio era: "faça a coisa certa, pelo motivo certo".

Será que todos os que querem o tipo de destaque que tiveram Gandhi, Chico Xavier e Madre Teresa, ou "apenas" atingir o Samadhi ou acumularem milhares de bônus-hora, estão mesmo conscientes do que querem e do que fazem, ou querem isso apenas para ter a fama que parece tão boa quando os outros a têm, mas que não temos ideia do que fizeram - e pelo que passaram - para ter essa fama ou essas "benesses"?

Não sei se tenho uma pequena noção do que isso implica, se estou ciente das minhas limitações
atuais, ou as duas coisas juntas; o fato é que me sinto ainda muuuuuuiiitooo longe desse caminho da santidade, ou da mera conexão a algo maior, e não tenho a menor vontade de forçar a barra.

Alguém a quem eu possa realmente ajudar, cada novo amigo que eu conquistar, ou cada velho inimigo com que eu conseguir me reconciliar, já estará de bom tamanho para mim.
Todas as filosofias e doutrinas espiritualistas me dizem que somos todos eternos, então não preciso apressar o curso da evolução; fazer a minha parte - e pelos motivos certos - é suficiente para que, quando eu tiver uma satisfação, ela seja pelo que eu tenha feito, de coração, e não como
um mero passo calculado para me levar em direção ao objetivo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Solto

Há momentos em que me sinto tão abrangente quanto uma onda de probabilidades quãnticas esperando a atenção de um observador para colapsar e se materializar.

(Isto é um ótimo jeito de dizer que estou tão perdido quanto o mítico cachorro que caiu do caminhão em dia de mudança, que Alá o proteja).

Confuso, difuso, não-presente, por causa de reflexos da interferência de alguma outra realidade que não é esta aqui.

Um instante de dessintonia com o pulsar do universo.

Um dia daqueles que só deveriam existir em livros (ou blogs, para ser mais atual), para as pessoas saberem o que não fazer ou que não deveriam estar ali.

Mas, como Alice seguindo o tal coelho branco, caio no buraco do improvável, sonho acordado - ou alucino dormindo - e o mundo fica mais estranho do que já é naturalmente.

Ou, pior ainda, fica muito mais sem-graça, justamente porque ficou banal.

Vou vagando como o perdido elétron que saiu da camada mais externa de um átomo.
Enquanto outro átomo não me puxa para sua esfera de influência, vou aproveitando a viagem :-))

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O cristal de inúmeras faces

Tenho à minha frente um imenso cristal, lapidado em incontáveis facetas.

Vejo a luz refletir-se em muitas delas, mas outras estão fora do meu campo de visão.

Quem está ao meu lado vê quase exatamente a mesma coisa que eu, com pequenas diferenças.

Quanto mais distante de mim, ao redor do cristal, para os lados, para cima e para baixo, mais diferente é a visão de quem estã nesses outros pontos.

E ainda assim, todas nossas visões são reais, corretas e concretas.

Esse cristal é a Verdade Absoluta, e as nossas visões parciais são nossas verdades particulares, relativas.

Para ver a Verdade Absoluta, preciso conseguir estar conectado e enxergar pelos olhos de todos os outros, ao mesmo tempo; seria estar em todos os lugares, ao mesmo tempo, e assim sempre ver a Verdade Absoluta, saber tudo.

Podemos até dar um nome específico para essa situação de conexão, onipresença e onisciência; pode ser Brahma/Vishnu/Shiva, Alá, Grande Arquiteto, Criador, Pai/Mãe Supremo, Deus...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O que é importante?

Fiquei dois dias sem acessar meu e-mail, e isso já foi o suficiente para quase 100 mensagens se empilharem, disputando meu tempo e minha atenção, com suas propagandas, powerpoints bonitinhos ou profundos ou descartáveis, avisos, recados, respostas...

Isso me lembrou de um estudo que dizia que atualmente uma edição do New York Times ou da Folha de São Paulo tem mais informação que uma pessoa comum do século XVII tinha durante sua vida inteira.

Some a isso os e-mails, facebook, tweeter, revistas, livros, sites, e tudo o mais que as pessoas têm para disputar sua atenção, e temos uma aceleração e sobrecarga dos processos mentais, sensoriais e cognitivos, como jamais houve na história do ser humano.

Assim como na minha pilha de e-mails, como se faz para distinguir o que é importante do que pode ficar para amanhã e do que amanhã já não terá sentido nem necessidade, sem precisar examinar item por item, gastando nesse processo as 24 horas do dia, a paciência, a energia e a sanidade?

Achei um indício de resposta no volume 4 de “Vagabond – A História de Musashi”, de Takehiko Inoue: num diálogo com o monge Takunen, este diz a Musashi:

“Se ficar apegado a uma folha, não enxergará a árvore.

Se ficar apegado à árvore, não enxergará a floresta.

Não deixar o espírito fixo sobre um único ponto.

Não ver o detalhe, para enxergar o todo.

Esse é o significado da verdadeira ‘visão’.”

Na minha interpretação, é parar de procurar quais são as coisas importantes e dar a elas a chance de se manifestarem, de serem sentidas. O que ainda não é importante terá o tempo certo de aparecer, e o que já não é mais importante, que siga para o arquivo morto do Tempo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Férias do mundo (uma estória de solitude e solidão)

Hoje vi Sitar-rok na rua. Ele também me viu. E fizemos o que fazem todos os que se conhecem há séculos: agimos como perfeitos estranhos e nos ignoramos completamente.

Claro que hoje ele não se chama Sitar-rok. Este é o nome pelo qual o identifico, entre os tantos nomes que ele já teve. Assim como eu: tantos nomes, tantos corpos, tantas vidas, uma só existência, perdendo-se nas brumas do tempo...

Somos conhecidos como “As-mentes-incandescentes”, “Os-olhos-que-não-se-fecham”, “Aqueles-que-se-lembram”... Somos especiais, mas não únicos; outros como nós vagam espalhados por este mundo, entre a enorme maioria que passa por cada vida como que mergulhados num sonho vago e agitado, sem lembrarem-se de tudo o que já foram, de todos quem já foram, sem noção do que podem ser; apenas fiapos desencontrados de memórias, vagas sombras de outros dias e tempos fluindo pelos tortuosos corredores de suas mentes ainda imaturas.

Nós somos abençoados – alguns dizem amaldiçoados – com a capacidade de recuperar nossas memórias anteriores a esta vida. Perdemos a conta dos séculos e dos lugares que já percorremos. Rever, reconhecer, reencontrar os outros que também se lembram, já ficou monótono demais; constrangedor, até. Se há pessoas que não agüentam conviver com os outros por alguns dias, que dizer então de milênios? Então, nos damos um pseudo-esquecimento, evitamos encontros desajeitados e desconfortáveis, e seguimos em frente.

Já conquistamos o mundo, apenas para nos cansarmos dele. Reis, mendigos, mercenários, meretrizes, gênios, generais, ermitões, santos, monges, magos, guerreiros; o que ainda não fomos? Destruímos, criamos, inventamos descobrimos, alteramos, melhoramos; o que ainda não fizemos? Não podemos fazer mais por nós mesmos, que ainda não tenha sido feito.

Às vezes me sinto como que mergulhado num silencioso poço de pesar – que chamo de “meia-noite no poço das almas” - enquanto outros gritam ao vento; ecos do nosso passado inolvidável, tentando me alcançar. Estremeço quando tais vozes trazem lembranças tão doces, que até o coração há muito calejado dói ao ignorá-las, mas é o que deve ser feito. A saudade não prospera em nós; precisamos todos crescer e nos libertar – de tudo.

Eu escuto, deixo que as lembranças passem por mim e se dissipem como lágrimas na chuva, e espero a tempestade emocional amainar e o novo dia surgir. Veterano de mil guerras psíquicas, eu não caio mais no torvelinho vibracional dos que ainda se debatem contra a Lei. Nós somos grandes, mas a Lei é a Lei, e ela se sobrepõe a todos nós; nosso orgulho que se curve. Um dia, todos aqui aprenderão.

E que aprendam, amadureçam e se lembrem também os “sonâmbulos” que perambulam pelo mundo e dividem conosco a vida diária. Não podemos aprender por eles, mas precisamos que progridam, pois só quando houver tantos esclarecidos no mundo, atingindo massa crítica suficiente para mudar a psicosfera do planeta a ponto de alterar suas características físicas, é que poderemos romper nossa conexão energética com este mundo e com esta gente, e alçar vôo para outras plagas, voltando a percorrer o universo.

E percorrê-lo irei eu. Não sei o que os outros farão, mas eu já tenho em meu roteiro um punhado de buracos negros, supernovas e estrelas de nêutrons, tão remotos que mesmo o pensamento demora para chegar lá, e viv’alma não pensa em por ali se demorar. Depois de tantos milênios por aqui, entre bilhões de seres, preciso de umas férias do mundo.

Ser, Não Ser

Ser OU Não Ser
Ser E Não Ser
Ser É Não Ser
Ser NO Não Ser

Eis as questões do Shakespeare Quântico-Zen, que nos levam a ser complementar, integral, universal, transcendente.

Assim, o antigo mandamento de Jesus, "amar o próximo como a si mesmo", quem diria, é quântico, ao nos levar a ver-nos no outro, não apenas em nossas igualdades, mas também em nossas diferenças, pois nossa fagulha divina é igual, e as semelhanças são as diferenças vistas sob a luz do Todo.

Se tememos o desconhecido e desconfiamos do que é diferente, é porque temos o desconhecido e o diferente também dentro de nós.

Fingimos não ver o interno, e assim o externo, que não conseguimos ignorar, nos incomoda.

Tentar suprimir a ambos (interno e externo) é igualmente imaturo, é uma tentativa de se refugiar em algo menor que o próprio Não-Ser.

Olhar para dentro, encontrar-se, aceitar-se e entender-se, traz a imediata integração com o externo; entedemos, então, que sempre Tudo foi uma Coisa Só - inclusive cada um de nós, com sua individualidade.

A Hora Certa

Quando vi que já passava de 10 de setembro de 2011, a divergência entre o calendário astronômico e o meu calendário psicológico interno chegou, no mínimo, a 10 dias e 20 anos.
Me senti, novamente, como se tivesse caído do bonde do tempo várias curvas atrás, quando ele acelerou loucamente para acompanhar um mundo cujos relógicos continuam a dizer que passam-se 24 horas por dia, mas que desconfio que, por fadiga do material, essas 24 horas estão valendo, na verdade, menos de 16...
Quero uma ampulheta aferida e certificada!

A letra de Time, do Pink Floyd - uma das minhas músicas favoritas - já dizia isso, na década de 1970:

"...And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines..."

("...Então um dia você se toca que já se passaram
ninguém lhe disse quando começar a correr, você perdeu a largada

E você corre e corre para alcançar o Sol, mas ele está se pondo
dando a volta para nascer novamente atrás de você
O Sol é o mesmo em seu caminho relativo, mas você está mais velho
com menos fôlego, e um dia mais perto da morte

Cada ano está ficando mais curto, parece nunca haver tempo
Planos que deram em nada ou meia página de linhas rabiscadas..."

Que o tempo passa e tudo muda, são verdades incontestáveis do Universo (ao menos deste). Por isso, todos nós já ouvimos que existe o tempo certo e a hora certa para tudo.

Mas como saber qual é o tempo certo para cada uma das coisas que fazemos, se nem ao menos percebemos o tempo passando na velocidade medida pelos relógios?

A dica é: estar presente naquilo que fazemos, ao invés de apenas reagirmos aos estímulos mentais e emocionais que nos bombardeiam continuamente.

Estando presente, agindo e não reagindo, começamos a calibrar nosso próprio mecanismo de tempo, e então faremos o que está em sintonia conosco, e não o que os estímulos nos empurram a fazer.

Claro que a teoria é mais fácil que a prática, mas se não praticarmos, até a teoria esqueceremos.

Nesses últimos dias, pude sentir na pele como é isso, graças ao meu próprio consumismo - que cria espaço no bolso, ao gastar mais do que preciso, e tira espaço da casa, ao empilhar coisas que me pediam para serem compradas, mesmo que eu não soubesse quando nem como aproveita-las.
No meu caso, gibis, revistas, livros, CDs e DVDs são meu calcanhar de Aquiles, e meu malabarismo é equlibrar os gastos e as pilhas de material que se acumulam (e acumulam pó!) à espera de serem lidos, escutados ou assistidos.

Revendo a pilha de coisas a ler, encontrei algumas raridades: um livro com uma estória de espionagem britânica da época da Guerra Fria, comprado em 1977 (!); outro de espionagem britânica no século XIX, comprado antes de 1980; outro com uma estória ligada ao projeto da bomba atômica americana na Segunda Guerra Mundial, que ganhei ainda nos anos 1970; e outro com a biografia de um imigrante italiano no início do século XX, comprado em 2000.

Raridades, interessantes, mas... que passaram da hora. Quando foram comprados, havia interesse por eles, mas hoje os tempos são outros, os interesses idem, e assim, num gesto difícil para quem adora livros e ler, dei liberdade a estes livros - que em algum sebo, alguém os aproveite - e a mim mesmo: continuo com as mesmas 24 horas por dia para fazer tudo, então a prioridade deve ser para o que HOJE me chame a atenção, me emocione, me atraia.

A hora certa de ler aquelas estórias já passou; da mesma forma, a hora certa de vivermos certos aspectos e acontecimentos das nossas vidas está sempre em movimento, num dado instante chegam, e noutro instante acabam.

Reconhecer isso é fundamental para não vivermos angustiados tanto pelo que não fizemos, quanto pelo que ainda faremos.

Estar presente, consciente e participativo, é libertar-se das amarras que aceitamos que nos coloquem, e das que nós mesmos criamos.

E também é ter todo o tempo do mundo, mesmo sendo "apenas" 24 horas a cada dia...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Trabalhadores invisíveis

Lendo a biografia de grandes nomes da história da Ciência, da Arte e da Filosofia, muitos deles aparecem como pessoas talentosas, dedicadas, e o que hoje se chama multidisciplinares; é comum ver que fulano era matemático, filósofo, astrônomo, astrólogo e poeta, por exemplo.

Fiquei me perguntando como o distinto podia ser tantas coisas ao mesmo tempo, enquanto eu, embora tente também, mal dou conta de uma função principal na minha vida.

Revendo minha labuta diária, vi quanto tempo gasto com coisas banais, mas que tem de ser feitas: arrumar a cama, preparar a refeição, lavar os pratos, lavar a louça, lavar a roupa, cuidar do carro, pagar as contas, etc.

Isso toma tempo e gasta energia.

E não me lembro de ter visto, em nenhuma biografia, alusão a que o biografado fizesse alguma dessas tarefas mundanas, nem cuidar dos filhos; nossos ilustres desbravadores da mente e da criatividade tinham empregados e esposa para cuidarem dessas tarefas menos nobres, e assim podiam usar seu intelecto e sensibilidade para descobertas e criações que faziam avançar toda a raça humana.

Dessa forma, quando rendemos homenagem de admiração e reconhecimento a um Newton, por exemplo, devemos fazer o mesmo a tantos anônimos que criaram as condições propícias a que os gênios da ocasião pudessem dedicar-se exclusivamente a suas tarefas mentais e sensoriais.

Parabéns, trabalhadores invisíveis de ontem e de hoje! Qualquer um de nós que encare a louça suja do jantar e o passeio do cachorro saberá o quanto vocês (nós?!) também são importantes.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Presente, consciente, responsável

Poucos dias atrás, tive um desarranjo estomacal que me fez sentir-me na realeza: a maior parte do tempo estava no "trono".

Assim, a agenda lotada com o trabalho e obrigações profissionais, o trabalho voluntário e todas as outras tarefas e estudos, foi completamente deixada de lado. A prioridade maior era recuperar um mínimo de condições físicas.

Com isso descobri, estupefato, que o Sol não parou no meio do céu, nem as estrelas caíram, nem qualquer outro cataclisma ocorreu porque eu parei as 5.589 coisas que faço diariamente... o mundo continuou a girar e a funcionar como sempre, as pessoas se viraram sem a minha presença, as tarefas realmente urgentes foram feitas por outros, as importantes estavam à minha espera quando tive condições de retomar as atividades, e o que não era importante dissolveu-se com o passar das horas.

O que aprendi com isso? Que além de não dever levar todas as tarefas e mesmo simples insinuações de obrigações a ferro e fogo, que preciso dedicar tempo a cuidar de mim mesmo, para um mínimo de manutenção / repouso / lazer / recuperação.

Também entendi que faço parte de um grupo que é oposto ao dos hipocondríacos, mas igualmente carente de equilíbrio: por orgulho, vaidade, ou algum outro tipo de miopia espiritual, achamos que somos insubstituíveis, indestrutíveis, e com nossa mente sempre acelerada forçamos nosso corpo físico continuamente além de seus limites.

Contamos nossos excessos como proezas, nossas disfunções como se fossem medalhas de honra na guerra diária para sempre fazer mais nas mesmas 24 horas, independente do preço que paguemos por isso.

Felizmente, quando estamos tão alienados que a simples dor não nos faz diminuir o ritmo ou parar, o corpo tem outros mecanismos que nos forçam a parar e assim examinarmos o que aconteceu... e descobrirmos como temos sido tolos.

A minha esperança é aprender com esses erros e não repeti-los. Para isso, como me disseram nas aulas de Yoga, é preciso estar sempre presente naquilo que fazemos, sentindo, percebendo, pensando; é praticando fazer as coisas corretamente, que conseguiremos sair do piloto automático das ações e atitudes equivocadas e impensadas.

Li num livro de Warren Buffet uma frase atribuída a Bertrand Russell que sintetiza bem isso:
"Os grilhões do hábito são leves demais para serem sentidos, até que se tornam pesados demais para serem quebrados".

É hora, então, de estar presente e consciente, pois sempre seremos responsáveis por tudo que fazemos, pela energia que movimentamos, e que o Universo simplesmente devolve a nós.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Por um sistema menos mesquinho

Hoje fiquei mais bravo com esse mundo corporativo capitalista selvagem em que vivemos, ao saber que houve demissões na última sexta-feira, em uma certa empresa - filial de uma multinacional americana - e que um conhecido meu estava entre os demitidos.

OK, demissões acontecem todos os dias, tem gente que não tem emprego, etc.; mas minha bronca é porque conheço o sujeito em questão: é muito competente, tem muito conhecimento e experiência, é extremamente correto, trabalha duro, cumpre horários, prazos e compromissos, há anos se dedicava ao trabalhar o mais corretamente possível naquela empresa, mas dentro da política vinda da matriz americana, para que os números da empresa fiquem mais atraentes perante os acionistas - estamos falando de ter MAIS LUCRO, não se trata sequer de evitar ou diminuir prejuízos - esse meu conhecido foi, junto com outros, colocado sumariamente na rua.

Eu mesmo passei por uma situação dessas, anos atrás, também em uma filial de outra multinacional americana, junto com dezenas de pessoas; é uma situação desagradável ser tratado como simples número que, num dado contexto, deixou de ser bonito para a empresa, então deve ser descartado, independente do que já realizou pela empresa, pela sua capacidade e potencial de realizar mais coisas.

Eu logo consegui recolocação, e o mesmo deve acontecer com esse meu conhecido. Mas até quando vamos ser objeto das manipulações de mesquinharias de quem só enxerga números e que deseja que esses números sejam cada vez melhores, onde só o lucro cada vez maior é que tem valor sobre os seres humanos usam os produtos e que criam esses lucros?

Depois do colapso da antiga URSS e de seu comunismo míope, parece que é a hora do colapso dos EUA-Europa e seu capitalismo selvagem; enquanto seres humanos colocarem instituições e posses acima dos outros seres humanos, não haverá sistema sócio-econômico que perdure.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Parteiro de palavras

Gosto muito de ler e de escrever, e dia desses estava pensando sobre aqueles textos que nos encantam, nos surpreendem ou nos colocam a pensar, e sobre o papel do Escritor - com "E" maiúsculo, pois só vale a pena falar dos que produzem algo positivo e construtivo - naquilo que foi produzido; qual Escritor - seja de blog ou de Prêmio Nobel - pode realmente reivindicar todos os créditos por aquilo que materializou no papel (ou na tela do computador)?

Pergunto isso porque, quando comparamos o que o Escritor fala ou escreve normalmente e aquele texto marcante, parece até que foi outra pessoa que escreveu... e acredito que foi mesmo!

Explicando melhor: através da inspiração, o Escritor acessa as ideias no insondável mundo de energias / pensamentos / emoções em que estamos imersos, e através do seu repertório, técnica e conhecimento, ele atua, na verdade, é como um parteiro de palavras, trazendo-as à luz do mundo quadridimensional e promovendo seu agrupamento em famílias - as frases - que por sua vez se unem em clãs - o texto, seja de uma estória, de um relato, de um blog...

Benditos, pois, esses parteiros, que se não trazem a vida, ajudam-na a ter mais brilho.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Máquinas?

Situação A: seis e meia da manhã; o despertador toca, e a vontade é de dar-lhe um murro para que fique quieto e me deixe dormir até um horário menos profano - algo como nove da manhã, quando ao menos haverá luz, menos frio, e meu corpo aceitará ao menos considerar a proposta de sair da cama quentinha, ainda que a contragosto.

Situação B: seis e meia da manhã: acordo antes do despertador, saio da cama disposto a aproveitar o máximo desse dia radiante, com pique para ginástica, as tarefas do dia e até para ir ao trabalho.

Não sou esquizofrênico; a Situação A é Inverno, onde às seis e meia da manhã é dia frio e escuro, e a Situação B é Verão, onde no mesmo horário é dia claro e o calorzinho já se espalha por todos os lados.
Meu corpo, herdeiro de milhares de anos de evolução e de adequação aos ciclos da natureza, trabalha uma gama complexa de hormônios e de neurotransmissores que me induzem a funcionar assim, porque esta é a maneira mais natural e prática de funcionar...

Quanto mais nos afastamos da linha do Equador, mais diferenciados são todos os dias do ano, pois a cada dia o Sol nasce num lugar diferente do dia anterior, por conta da inclinação de 23 graus do eixo da Terra em relação à eclíptica; nós, seres humanos ligados à automatização e à simplificação, é que teimamos em considerar que o Sol nasce sempre no Leste, e que devemos fazer tudo igual nas mesmas horas de cada dia.

Herança da Revolução Industrial, onde passamos a ser tratados como máquinas para poder lidar com as máquinas recém-produzidas em escala industrial (sic e argh!) e aumentar a produtividade, nos acostumamos a considerar que seis e meia da manhã é igual em todos os dias, independente da região, do clima, etc.
Mas esses poucos séculos de lavagem cerebral não enganam os milhares de anos que nosso corpo traz de conhecimento do ambiente ao seu redor.

É por isso que, por mais que nos digam e tentem nos convencer - e muitas vezes mesmo obrigar - a funcionar como máquinas, trabalhando das 9:00 às 18:00, fazendo treino na academia das 7:00 às 8:00, aula das 19:00 às 22:00, todos os dias, como se a mera posição dos ponteiros do relógio fosse suficiente para nos convencer que aquilo está certo, NÃO FUNCIONA!

E não funciona porque NÃO SOMOS MÁQUINAS; SOMOS ORGANISMOS, ou seja, muito mais complexos que a mais sofisticada máquina feita até hoje.
Aceitar esse reducionismo é literalmente nos diminuir física, mental e emocionalmente, e sofrer sérias conseqüências no médio e longo prazo, mesmo com possíveis ganhos no imediatismo.

Repetindo uma frase atribuída a Krishnamurti: "estar adaptado a uma sociedade doente não é saudável".

Está na Hora de Urano!



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Maldição do Sucesso

Sucesso é bom e todo mundo quer, certo?
A resposta imediata é "SIM!!!". Mas será que é a melhor resposta?

Sucesso, assim como fracasso e todas as gradações existentes entre eles, são processos cíclicos na vida, e cada um traz um aprendizado. Como o sucesso (geralmente) é mais agradável, é a ele que buscamos, muitas vezes a qualquer custo (infelizmente).

Mas mesmo quando atingimos o sucesso dignamente, nossa atual sociedade nos cobra que no mínimo mantenhamos aquele nível, mas que de preferência façamos ainda melhor da próxima vez.

Dessa forma, a cobrança externa e interna pode nos sufocar, deixar ansiosos e infelizes, ao nos repassar um modelo semelhante ao da cultura capitalista que prega que não basta ter lucro, é preciso que o lucro atual sempre seja maior que o anterior, caso contrário isso seria indicação de fraqueza, decadência, perda de status...

Ora, nada na Natureza se mantém sempre em expansão; tudo funciona em ciclos, e com o ser humano não é diferente. Aceitar a cobrança de ter sempre sucesso é ignorar toda a riqueza de experiências que os diferentes estágios da vida nos oferecem e sequer desfrutar do sucesso quando ele acontece.

E o que é sucesso? É conquistar fama, dinheiro, bens, saúde, realizações? Vejamos:

- sou famoso - isto é, conhecido e reconhecido - entre as pessoas que importam para mim: meus amigos e pessoas queridas;

- tenho dinheiro: o suficiente para as minhas necessidades; muitas vezes o que nos falta é para os desejos. Ser milionário não é meu objetivo de vida;

- tenho bens: o que preciso para manutenção, lazer, e acima de tudo para o aprendizado de valorizar o que tenho e batalhar dignamente para o que ainda preciso adquirir. E a partir de certa quantidade de dinheiro e de bens, nós deixamos de possuí-los e passamos a ser possuídos, preocupados em preservar essas posses ao custo do nosso tempo, saúde e tranquilidade;

- a saúde, e às vezes sua ausência temporária, está dentro do que a vida precisa me dizer para que eu não me aliene, e ainda trabalhe, aprenda e edifique;

- Minhas realizações são proporcionais à minha capacidade, não à minha imaginação. Entender e aceitar isso é parte do processo de amadurecimento.

Assim, minha conclusão é que já tenho todo o sucesso que preciso. E consciente disso tudo, ficará um pouco mais fácil evitar a maldição do sucesso.

domingo, 14 de agosto de 2011

Mudanças

Preferimos o conforto psicológico do que nos é conhecido ou familiar, mesmo que isso não seja bom, porque tememos o que ainda não vimos - ou que não queremos ver.

Isso nos deixa acomodados e resistentes a mudanças, até que aprendamos que isso é necessário, ou que as circunstâncias da vida - aqui ou em outra dimensão - nos mudem na marra.

A única forma de perder o medo do desconhecido e acabar com a resistência à mudança é conhecermos a nós mesmos; nosso íntimo, tão perto, mas por vezes tão inacessível, é a chave para o nosso fortalecimento, ao nos vermos por inteiro, nos aceitarmos e aceitarmos a necessidade da mudança interna.

A partir daí, estando de bem conosco mesmos, as mudanças exteriores - de casa, trabalho, relacionamentos, ou até de planeta - terão o seu devido peso, e não aquele que nossa fragilidade espiritual lhes atribui.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Fim do mundo!?

Lendo as notícias dos últimos dias, reparei em algumas coisas:

Em 1986, a banda The Smiths gravou Panic, que começa assim:
"Panic on the streets of London
Panic on the streets of Birmingham
I wonder to myself
Could life ever be sane again?"
(Pânico nas ruas de Londres
Pânico nas ruas de Birmingham
Eu me pergunto
Se a vida poderá ser sã novamente?)
e em agosto/2011, vemos a sucessão de saques, incêndios e violência em Londres, Birmingham, Tottenham...

Em 1986, Renato Russo e a Legião Urbana já diziam em Índios:
"E o futuro não é mais como era antigamente"
e em 2011 vemos a Europa enfrentando forte crise econômica e os EUA (USA, se você preferir), indo ladeira a baixo em estagnação, desemprego, crise econômica e outras crises, esfacelando algo que parecia mais sólido e mais eterno do que foram o Império Britânico e o Império Romano.

Junte-se a isso as diversas "profecias" de fim do mundo - 21/12/2012, 22/12/2012 ou 23/12/2012 (isso mesmo, tem gente que diz haver uma divergência no cálculo da data e que por isso o dia correto ainda não pode ser definido); também já ouvi falar que será em 2013, 2015, 2019...

Será que, como a banda R.E.M. gravou em 1987,
"It's the end of the world as we know it (and I feel fine)"?
[é o fim do mundo como o conhecemos (e eu me sinto bem)]

É interessante ver como a arte tantas vezes antecipa a realidade e reflete a vida. E essas "coincidências", o que são? Seriam profetas os artistas que escreveram essas músicas? Seriam todos descendentes de Nostradamus?

Na verdade, os artistas são pessoas com maior sensibilidade, sim, mas que têm outra grande diferença em relação às demais pessoas: eles ESCUTAM sua sensibilidade e procuram viver com ela (bem ou mal; isso é outra história), enquanto a maioria de nós tenta ignorar, esconder ou sufocar a própria sensibilidade, por isso ser coisa condenada neste mundo corporativo, competitivo e selvagem que modela a maior parte dos comportamentos atualmente.

O que a sensibilidade expressa pelos artistas nos confirma é que, sim, isto é o fim do mundo; que todos os dias é o fim do mundo como o conhecemos, pois é característica fundamental da Vida ser dinâmica e ter mudanças.
Acomodados ou alienados, nós é que não percebemos as inúmeras pequenas mudanças que ocorrem todos os dias, e só nos damos conta quando essas mudanças viram uma grande mudança que nos pega de surpresa.

É como os deslizamentos de terra nas encostas dos morros: a água penetra, penetra, penetra, vai deslocando a capa de terra sobre a pedra, até que atinge massa crítica e desliza, arrastando tudo em seu caminho, e nós achamos que esse clímax aconteceu "de repente", que foi falta de proteção divina, quando o ocorreu foi uma seqüência de fatos naturais, aplicação de leis da física, curso normal da natureza - tudo que funciona apesar de nossa ignorância, ingenuidade ou desconhecimento.

A crise econômica nos países do chamado Primeiro Mundo, por mais dolorida que pareça à primeira vista, não deixa de ser muito útil: no ritmo de consumo que essa sociedade impôs, precisaríamos de mais dois ou três planetas para produzir tudo que se poderia consumir (eletrônicos, carros, roupas, etc), muito mais por mero impulso dirigido (consumismo artificial estimulado) do que por real necessidade.
E mais um ou dois planetas só para colocar o lixo produzido por esse consumo desenfreado.
Com a crise, o foco sai do supérfluo e volta ao necessário.

Se lembrarmos que a população do mundo já está na casa de sete bilhões - tem mais gente viva hoje no mundo do que todas as pessoas que já morreram ao longo da história do ser humano - é mero exercício aritmético ver que o modelo de sociedade atual é inviável para a população atual - sem considerar os problemas morais, éticos, etc.

Então, é o fim do mundo? SEMPRE é. Mas, e se for mesmo o FIM DO MUNDO, APOCALIPSE, DIA DO JUÍZO FINAL, ARMAGEDON, RAGNAROK, O HADES SE ERGUER, ETC.? Ora, se é mesmo a época em que homens, anjos e deuses precisam colocar suas contas em dia, não serei eu que irei alterar o saldo desses bilhões de pessoas; se eu cumprir a minha parte, buscando ser uma pessoa melhor e colaborando para o mundo ser melhor, já terei feito muito, e me darei por satisfeito. Responsabilidade, comprometimento e consciência são artigos raros hoje em dia, e eu preciso fazer bom uso do que tenho.

Enquanto o Sol se erguer, eu seguirei em frente; quando o Sol não mais raiar, o resto é mera discussão acadêmica.

Está na Hora de Urano!

Vida

A alvorada não tarda.
Um novo dia, um novo ciclo, parte de outro ciclo maior; parecido, mas diferente.
Com novidades, surpresas e coisas comuns.
Tudo maravilhoso, mesmo quando não percebemos que é.

A Vida é assim: sempre flui, nos leva com ela, até nas vezes em que teimamos em ficar no mesmo lugar.

Viver melhor é fluir no ritmo dessa Vida - com "V" maiúsculo - aprendendo a aceitar o que é necessário e a modificar o que é preciso.
E descobrir que tão importante quanto o objetivo final, é como se chega a ele, e com quem vamos.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sorriso

o sorriso que cala a dor e espanta o pranto
não deve ser forte, mas sim suave
como a carícia da brisa nos cabelos
num entardecer de outono,
com a alegria dourada dos tons pastéis do ocaso
e a serenidade do anil ao índigo no lado oposto

Ah! Que gostoso reconectar-se com a terra
e lembrar que somos parte uns dos outros,
Gaia, mãe, morada e mundo,
estendendo suas benesses a todos seus filhos,
conscientes ou não,
em sua passagem por esta estação do saber e do crescer

Que aprendam o poder do sorriso
que é muito mais dos olhos que dos lábios
que aquece os corações de quem o recebe
e faz a transmutação das sombras plúmbeas internas
no brilho dourado universal

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Realidade

Na Aurora dos Tempos, a própria Realidade não sabia para que lado ir, então começou a duplicar-se a cada tomada de decisão; assim começou o Todo, que está presente em Tudo Que É e ao mesmo tempo em Tudo Que Não É.

Dessa forma, Tudo Que Pode Ser, É; Tudo Que Nunca Foi, também É. E todas as variações do É, São.

Teorias Quânticas, Filosofias Herméticas, Esotéricas, Ocultistas: tudo dizendo a mesma coisa. Mas são como o Som perante a Palavra, a Palavra perante o Símbolo, o Símbolo perante a Ideia, a Ideia perante a Realidade: adaptações, para que a falta de compreensão absoluta não nos desanime e não nos deixa ficar pelo caminho do aprendizado, e continuar a crescer e crescer.

Crescer é tornar-se cada vez mais consciente e integrado à Realidade.

domingo, 7 de agosto de 2011

Crescer

Lágrimas quentes, perdidas na chuva e com alguns respingos do mar para ajudar a disfarçar a dor do crescer - e nós sempre crescemos, ora para fora, ora para dentro.

Às vezes crescemos na direção dos outros, às vezes crescemos para outros mundos onde só nós estamos; não importa, pois a Vida é mais sábia que as nossas tolices, continua apesar de nós, e de alguma forma, mais cedo ou mais tarde, nos traz de volta ao palco onde temos nosso papel a desempenhar.

E o que somos nós, por trás dos papéis que a cada dia representamos? Quando tiramos as máscaras de pai-mãe/filho, chefe/empregado, mocinho/bandido, etc., ainda temos algo a mostrar, ou colocamos tanto empenho naquelas personagens, que toda nossa essência se foi nas máscaras, e aí precisamos delas para dar sentido a um vazio que ficou esperando desesperadamente ser preenchido?

Se for esse o caso, as lágrimas virão mais amargas que salgadas; se o vazio não existe, pro que foi plenificado, essas lágrimas serão mais doces que salgadas.

Mesmo assim, que venha a chuva às lágrimas, que o mar lave o rosto e a alma, e que o nosso crescer continue na direção do Infinito...

sábado, 6 de agosto de 2011

Evolução

Entra ano, sai ano,
caminha o Ser Humano
Tropeça, cambaleia, escorrega,
mas, teimoso, não se entrega
Segue em frente, busca atalho
tenta mesmo fugir do trabalho
Só que a sina é só sua
e por isso, continua
A jornada para ser menos animal
e tornar-se mais angelical

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ser

A existência é uma sucessão de etapas, desde a Inconsciência até a Plena Consciência.

A percepção de si mesmo, do ambiente ao seu redor, e das variadas interações com esse ambiente e com os outros seres - semelhantes a si, mas ao mesmo tempo diferentes de si - vai enriquecendo o repositório de informações emocionais e intelectuais do Ser.

À medida que o Ser aprende a a relacionar essas informações e a projetar novas informações a partir das que já tem - ou seja, a fazer extrapolações - acelera seu passo na senda evolutiva.

As experiências lhe mostram que cada acontecimento, fato ou conhecimento, tem no mínimo dois aspectos, conforme a atenção e o uso que se lhes dê.

Começa a vislumbrar que algo não é intrinsicamente mau ou bom; apenas É. A percepção e o uso desse fato/acontecimento/conhecimento é que será mau ou bom, ao ir contra - ou não - as leis que regem o Universo e que independem da vontade do Ser.

Também aprende que, quanto mais se afasta de si mesmo e de considerar-se o centro de tudo, mais se expande, mais se liga ao restante do Universo, e acaba retornando e estando mais presente e mais lúcido em si mesmo: um paradoxo para o pensamento linear, uma naturalidade para o pensamento cíclico - que se sintonizou com o funcionamento do Universo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Ora (direis) ouvir estrelas!

Evento no tempo: Astrológica 2011, de 15 a 17/julho/2011. Um punhado de astrólogos bons pacas, fazendo palestras para outros astrólogos, estudantes e simpatizantes.

Parafraseando um dos palestrantes, eu e meus amigos de curso de Astrologia cruzamos nosso próprio Rubicão, ainda estudando mas já fazendo nossos primeiros atendimentos, com interpretações e previsões honestas e esforçadas... e aí temos a oportunidade de ver o pessoal com 10, 20, 30, 40 anos de estrada, falando de Astrologia com Cabalá, com Feng Shui, Kármica, Horária, aprofundando e explorando aspectos e características dos planetas, coaching, eclipses, aplicações...

Confesso que me senti como um mágico amador, todo alegre por fazer o truque de tirar a moeda da orelha do sujeito, e que de repente vê os mágicos experientes cortando a mulher ao meio (e depois montando-a de novo, claro!), levitando, fazendo coisas e pessoas desaparecerem.

Com tanta opção e oportunidade de estudo e atuação, o astrólogo que anseia por saber tudo pode ficar apavorado ("Como tem coisa pra aprender!") enquanto que o que gosta do desafio e do aprendizado pode ficar entusiasmado ("Como tem coisa pra aprender!").

E ao terminar o evento, me dei conta, com a poesia presente em praticamente cada palestra - às vezes explicitamente nos poemas trazidos, às vezes implicitamente nas estórias, casos e estímulos apresentados - que, se os astrólogos lêem os astros, os poetas ouvem as estrelas. Assim, não é de estranhar que haja tamanha proximidade entre Astrologia e Poesia, como já mostrou há tanto tempo Olavo Bilac, no poema Via Láctea:


Via Láctea


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Olavo Bilac

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ladrões de Tempo

Metade do ano já passou; bom momento para reflexão - antes que a outra metade acabe!

O tempo é uma coisa interessante: todo mundo tem alguma noção do que seja, mas ninguém tem uma definição universal para ele, muito menos uma compreensão que justifique por que o tempo do relógio é tão diferente do tempo quando se está numa situação ruim/chata ou em algo agradável.

Já vi definições de "tempo físico" - aquele que compõe o universo quadridimensional (comprimento, largura, altura, e tempo), marcado pelo relógio e que "passa à velocidade de 60 minutos por hora" (como disse uma personagem de José Saramago) - e de "tempo psicológico", ou de quinta dimensão, que é o que nossa percepção encurta ou alonga, dependendo da situação e de onde estava nosso pensamento e nossa atenção. E continuei na mesma falta de compreensão...

Mas acabei fazendo uma analogia entre o tempo e os talentos da parábola onde três servos receberam, cada um, um talento (moeda) de seu senhor exigente, para cuidarem desse talento durante a ausência do senhor.

O primeiro servo investiu bem e transformou seu talento em cinco; o segundo teve mais dificuldades, mas se estorçou e conseguiu ter dois talentos; e o terceiro, com medo de perder o único talento e ser punido pelo amo, enterrou seu talento e deixou-o escondido.

No retorno do amo, foram os três servos prestar contas do que tinham feito com os talentos recebidos.

Os dois primeiros, que conseguiram multiplicar os talentos, foram reconhecidos e recompensados; o que teve medo, escondendo o talento e devolvendo-o ao amo do mesmo jeito que o recebera, foi punido por sua falta de iniciativa.

Na questão do tempo, todos nós somos os servos, a vida é o amo, e as 24 horas que temos por dia são os nossos talentos. Tem gente que consegue fazer uma grande quantidade de atividades ou de realizações, outros nem tanto, e tem gente que vê as 24 horas passarem sem lograr realizar algo, ficando angustiadas, ansiosas, revoltadas, e por aí vai...

Qual a solução? Usar nosso talento (capacidade) próprio para enfrentar as tarefas e incidentes cotidianos e tirar o máximo de proveito (positivo) e de realização desse talento (24 horas) que todos recebemos igualmente.

E para isso, uma das coisas que precisamos fazer é mudar a forma como permitimos que grandes Ladrões de Tempo nos espoliem:
- Reuniões inúteis ou improdutivas: que tal pararmos de comparecer a reuniões que sabemos que serão pouco (ou nada) produtivas? Se não for possível evitar a todas, façamos nossa preparação para que tal reunião seja produtiva ou útil - nem que seja apenas para nós mesmos;
- Filas: um planejamento prévio nos ajuda a evitar uma porção de filas - pagamentos eletrônicos agendados, escolha de melhor horário para ir a lojas, bancos e supermercados, etc. Se a fila for inevitável, um livro ou revista, smartphone ou mp3 player, são bons recursos para ajudar a aliviar a tensão. Os mais disciplinados podem até levar trabalho para adiantar enquanto estão na fila...
- Congestionamentos no trânsito: planeje rota e horário. Se for inevitável, vale a dica acima, sobre música e leitura.
E ter lanche e água no carro - e ter passado no banheiro, antes de pegar o carro/ônibus, também é fundamental para reduzir o desconforto e o stress;
- Pessoas carentes e sugadoras de energia: OK, seja civilizado, bom samaritano, etc e tal, mas tenha bom senso, e estabeleça limites! Senão, teu tempo e energia serão consumidos, e o carente inconsciente continuará igualzinho, pronto para continuar vampirizando você e os outros.

Em resumo: esteja presente, seja consciente, posicione-se, e tenha coragem de tentar mudar o que não está legal.

Está na Hora de Urano!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Astrólogo não é adivinho. Ou é?

Depois de muitos anos como ignorante e preconceituoso descrente da Astrologia, passei a estudante sério e fui virando astrólogo, fazendo e lendo mapas natais com o mesmo encantamento com que via as imagens se formarem no papel fotográfico, no processo de revelação dentro da sala escura, nos meus tempos iniciais de fotógrafo.

Uma das primeiras coisas que meu professor de astrologia ensinou é que "astrólogo não é adivinho", porque nós, leitores e interpretadores daquelas "luzinhas" que caminham pelo céu, trabalhamos sobre o conhecimento legado por séculos e séculos (milênios, na verdade) de
estudos, observações e análises.

Assim, Astrologia é ciência, e não oráculo (adivinhação).

Mas, na minha condição de Bruxo Junior - ou Astrólogo Iniciante - foram várias as vezes em que falei coisas a meus clientes, que extrapolavam a mera configuração do céu natal, ou onde os planetas estavam estacionados.

E imediatamente eu suava frio, pensava "Ih! Falei bobagem!", e me preparava para a contestação do cliente... e era surpreendido pela confirmação do que a princípio achei que fora um disparate impensado da minha parte.

Intuição, percepção extra-sensorial (ainda se usa esse termo?), sei lá qual é o nome correto a aplicar; o fato é que o astrólogo é, sim, também um adivinho, no sentido que, sobre o conhecimento técnico e correto que adquire com estudo sério, ele pode - e deve - enriquecer a leitura do mapa do cliente com seus insights. Caso contrário, seria suficiente fazer um programa de computador bom em fazer a interpretação e previsão apenas com os dados técnicos do mapa.

Assim, como em qualquer profissão, o bom astrólogo faz a diferença quando, sobre a excelência técnica da sua profissão, mantém a ética e acrescenta seu quinhão de humanidade (sensibilidade, percepção, empatia, etc) e assim cumpre sua função (missão?) de auxiliar outro ser humano a se enxergar melhor e começar a se compreender melhor.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Hora de Urano

Profissional ou Mercenário?

Atire a primeira planilha quem nunca passou por isso, no mundo corporativo cada vez mais globalizado e competitivo: para cumprir sua função e as normas da empresa, deixou de atender aquele cliente legal, mas que não tem mais contrato para ser atendido, e teve de atender aquele outro cliente chaaaato à beça, mas que está com o contrato ($$$) em dia... e assim chegou ao final da tarde (ou mais provavelmente ao início da noite) cheio de angústia e insatisfação, e também uma sensação de dever cumprido, porém vazio.

Esse sujeito (não tão) hipotético foi profissional, ao cumprir as determinações com que se comprometeu quando aceitou o contrato e os termos de trabalho, ou foi somente mercenário, ao fazer o que foi pedido em troca do dinheiro que receberá?

É natural que cada um procure receber o melhor possível por seu trabalho. Mas até que ponto devemos - ou podemos - nos transformar em meros agentes mecânicos, "paus-mandados", por termos um contrato que nos compromete a obedecer normas, ordens e regras que nos deixam desconfortáveis e insatisfeitos?

A estrutura hierárquica, remanescente do militarismo dos séculos passados parece anacrônica, mas ainda é, neste início da segunda década do século XXI, muito utilizada nas empresas, o que leva a distorções da corporação - "se o cliente pagou, faça!" - ou dos gestores - "estou mandando, faça!". E por medo, necessidade ou qualquer outro motivo, muita gente não gosta, mas engole os sapos, suporta tal situação, e segue fazendo.

Em bom astrologuês, eu diria que está na Hora de Urano: se libertar, chutar o balde, romper as amarras, se livrar do que não faz mais sentido.

Quem vai ser o primeiro?

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Alma Gêmea e Alma Complementar

Josh chegou em casa cansado pela batalha profissional diária na megacorporação, pelo trânsito alucinado, comida sintética com gosto de plástico reciclado - qualquer que seja o sabor-fantasia que você escolha - e todos os demais "confortos" da vida naquela segunda metade do século XXI, que estendia a vida das pessoas mas lhes tirava a qualidade...

Ah, mas em casa ele tinha sua Alma Gêmea, que o recebeu com a voz maviosa e melíflua que fazia sua tensão começar a diminuir, lhe dava as últimas notícias esportivas enquanto lhe lembrava o quanto ele era especial porém incompreendido e menos ainda reconhecido, lhe entregava sua cerveja favorita, estupidamente gelada, e começava a massagear seus ombros e costas, com suas mãos suaves, firmes e cálidas...

Sua Alma Gêmea - nome completo: TwinSoul 4.1 Turbo Plus - era o modelo mais popular de IA (Inteligência Artificial), com um repertório amplo e certeiro de expressões e assuntos, baseado no perfil psicológico do cliente, para agradar a 95% da clientela de solteiros, solteirões, solitários, separados, divorciados, viúvos, estressados, alucinados e desajustados de modo geral; só os esquizofrênicos ainda davam algum trabalho, mas em uma ou duas novas versões da IA, isso também seria corrigido...

TwinSoul tinha uma série de acessórios e periféricos muito úteis, entre os quais estavam mãos robóticas perfeitamente articuladas, recobertas de um polímero semelhante a silicone e aquecidas a 36,5º C, reproduzindo com fidelidade a sensação de mãos humanas... muito útil para massagens, cafunés e outros agrados.

TwinSoul era perfeita, misto de mãezona, companheira (submissa), parceira, governanta, etc, tinha também sua versão masculina: paizão, companheiro (banana), parceiro, tutor, etc, perfeitamente customizável para o gosto do cliente.

Nessa sociedade dominada pelas grandes corporações e extremamente competitiva, era a solução adequada, pelo preço certo, para atender o antigo sonho, talvez do inconsciente coletivo, da alma gêmea: aquele ser perfeito, o par ideal, que quando pensamos que encontramos sempre teima em desaparecer com o passar do tempo, transformando o príncipe encantado novamente no sapo...

Esse microconto "brotou" na minha cabeça porque lembrei que, dia desses, uma conhecida reclamou que ia ficar para titia, pois já passara dos 40 e não encontrava sua alma gêmea.

Fiquei pensando a respeito, e reparei que existe esse mito de que todos possuem - e precisam - encontrar sua "alma gêmea", o que quer isso signifique. Geralmente as pessoas idealizam essa figura irreal como sendo aquela pessoa que vai compreendê-las, apoiá-las, amá-las, fazer tudo por elas, sempre com um sorriso nos lábios e sem esperar nada em troca. Para mim, isso está mais para escravo sem vontade - ou robô bem programado, como no conto acima - do que para um ser humano de verdade.

Continuando a matutar, conclui que vi raríssimos casos desses, em que as duas pessoas realmente se dão tão bem assim, e geralmente isso acontece porque elas têm algum compromisso - família, trabalho, missão - que exige tanto delas, que elas não tem tempo a gastar com os desacertos e complicações que a maioria de nós enfrenta.

O mais comum é duas pessoas terem alguma coisa em comum, e muuuuuuuiiiiitas diferenças. São o que eu chamo de Almas Complementares; uma é boa em algumas coisas, outra é boa em outras coisas. Quando sincronizam seus pontos fortes, conseguem fazer quase qualquer coisa.
O problema é que ambas se acham certas, e querem que a outra se comporte, aja, pense, etc, do seu jeito... aí, saí faísca, confronto, ressentimento, pancadaria, a coisa fica feia, explode, depois melhora, volta a piorar... tudo isso porque poucas pessoas percebem que justamente as diferenças entre ela e sua Alma Complementar devem ser aproveitadas, e não confrontadas; o que uma tem de bom, complementa o que a outra tem de bom, e as duas tem de chegar a um acordo, cedendo e ajustando, aprendendo uma com a outra.
Quando conseguem fazer isso - conviver e crescer com as suas diferenças - aí, então, elas começam o processo que as levará, algum dia e não sei quantas vidas adiante, a serem Almas Gêmeas.