terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Tempo (de novo - ou ainda)

Divagações de uma segunda-feira (04/fevereiro/2013) à tarde, no meio de um retiro espiritual:

Meia hora para ficar na mata, em silêncio. Meia hora inteirinha sem obrigação de fazer nada, nem pensar - ou talvez pensar já seja uma grande coisa, algo raro numa sociedade que exige cada vez mais velocidade e onde o raciocínio é opcional ou até indesejado.

A mata fechada tem pouca luz e está toda úmida por causa das fortes chuvas diárias.

Aqui, só o barulho do vento, de uma moça comendo maçã, do pássaro eventual ou de um carro, mais eventual ainda, passando pela estradinha próxima. Tarde de segunda-feira para fazer o que quiser, em silêncio, no meio da mata; quem tem meia hora livre, na grande cidade com suas muitas obrigações, e nas empresas?

Neste solo úmido e abençoado com sol e vento - e uma temperatura nem congelante nem escaldante -, a vida brota em todos os cantos, sem preocupação com relógio, mas sempre no tempo certo. Nós, seres humanos, perdemos essa conexão visceral com o tempo, quando passamos a medi-lo e assim querer controla-lo, ao invés de fluir com ele no ritmo da Natureza.

No ritmo artificial que criamos, nós nos desconectamos da Natureza e nos perdemos de nós mesmos; adoecemos e não admitimos nossa auto-enfermidade, e buscamos alívio nos aprofundando mais nas criações do nosso ritmo artificial. 

Evoluir sem devastar, criar sem estagnar; desafios para cada um e para a sociedade.

Ah, o tempo! Dizem que só temos o presente, pois o passado é lembrança e o futuro ainda não aconteceu. Mas o presente é efêmero e escorregadio, sempre se desfazendo ante nossos olhos e escapando entre pelos dedos, instantaneamente virando lembrança e se tornando passado, na mesma velocidade com que o futuro vira o agora e já passa para o passado... 

Assim, atuamos sobre o passado, em cima de nossas projeções para o futuro.

O presente é tudo que temos, mas só o conseguimos utilizar como ligação entre o que já foi e o que está por vir. No grande oceano do tempo, sua correnteza nos leva sempre, e só com nossa mente, associada às emoções, é que temos a autonomia para voltar ou avançar.

Como passageiros da astronave Terra, ela nos leva em SEU caminho pelo espaço; e como criaturas no mar infinito temporal, seguimos aonde suas ondas nos impulsionam. Que grande ilusão a nossa de querermos controlar alguma coisa!

E para que controlar? Para, no suposto poder conquistado, termos a "segurança" de estarmos protegidos de outros como nós, que também têm seus medos, e a quem buscamos apequenar, para nos sentirmos maiores e assim a salvo? Controlar a todos, ao mundo inteiro, para assim nada temer? Não seria mais fácil nos entregarmos, abrir mão de qualquer ideia de controle, e sermos integrados ao Todo, e assim não precisar temê-lo?

Ah, mas isso demanda uma confrontação ainda maior do que enfrentar o mundo todo; isso requer que olhemos para nós mesmos, inclusive aquelas partes que procuramos esconder ou fingir que não existem, e nos reconhecermos, aceitarmos e assim, conscientes, evoluirmos, cada um respeitando a si mesmo, e aos outros como extensões de si mesmo.

2 comentários:

Valéria Pagliacci disse...

ADOREI!!!! Beijos...

Anônimo disse...

Muito legal! É o aqui e agora!
Trabalhemos a evolução sem cessar.
Julio Vigorito