sábado, 1 de junho de 2013

77. FILLER.

Quem já programou em COBOL (COmmon Business Oriented Language), nos antigos mainframes - que continuam cada vez mais atuais - deve se lembrar desse velho truque para reservar espaço em registros de tamanho fixo: ao definir todos os campos necessários, deixar um (ou mais) campos adicionais, definidos como 77. FILLER. para futuro uso, como a o aumento do tamanho dos registros pela inclusão de novos campos.

Dessa forma, evitava-se a manutenção em JCLs (o stream de dados para processar o programa) e também evitava-se usar registros de tamanho variável, coisa que, quando a arquitetura /360 dos mainframes foi desenvolvida, na década de 1960, custava algum espaço e tempo adicional de processamento.

Qual o conteúdo desses campos FILLER? Era qualquer coisa, eles existiam apenas para ocupar espaço, independente do conteúdo, que quase sempre era sujeira (dados sem significado).

E é isso que já faz tempo, e cada vez mais, que muita gente anda fazendo com os seus momentos: transformou-os em FILLERs, ou seja, preenchem os seus instantes com qualquer coisa, sem valor, sentido ou significado, apenas para passar o tempo e não viver o presente até que chegue um evento significativo - uma balada, um show, um jogo, uma viagem, as férias, a aposentadoria... e assim que chega o evento, ele já virou um FILLER para que o sujeito aguente até algo mais legal surgir, porque tudo se gasta rapidamente, a atenção viaja, o melhor ainda está por vir.

Um post, um twit, uma música do último sucesso na mídia, uma fofoca sobre a novela ou sobre o vizinho, e assim, sem perceber, lá vai o sujeito rifando, ou dando de graça, um dos seus bens mais preciosos: seu momento atual, sua vida presente, e assim vai acontecendo a maldição dos zumbis neo-contemporâneos pós-tudo, onde a presença de corpo e ausência de espírito é cada vez mais comum.

Nada contra a salutar distração, mas tudo contra a alienação.

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