Semanas atrás, conversando com dois amigos – pai e filho –
eles comentaram sobre uma das matérias da faculdade que estão fazendo juntos. O
pai estava preocupado porque fez em três horas o trabalho que o resto da classe
– o filho incluído – levou uma semana para fazer.
Ele estava preocupado porque fez o trabalho acadêmico baseado
em sua experiência de mais de vinte anos de trabalho profissional naquele
assunto, enquanto que os demais alunos fizeram baseados no procedimento cada
vez mais comum de acessar várias fontes de pesquisa e basicamente copiar e
colar... e não sabia se o professor apreciaria o valor vivencial que ele, aluno
de maior idade e experiência, trazia ao trabalho.
Isso me fez pensar na maravilha do Copiar-e-Colar, ou Copy/Paste, ou Control-C/Control-V: em instantes podemos juntar várias fontes
distintas de informação, numa velocidade que os cada vez mais potentes
computadores aumentam sem parar.
Em suas entranhas eletrônicas, com os bits de informação
fluindo quase à velocidade da luz, os computadores fazem apenas algumas funções
básicas, como somar, comparar e duplicar dados, mas essas funções primordiais são
combinadas em funções mais complexas e executadas a velocidades alucinantes. A
z13, modelo mais recente de mainframes comerciais
da IBM, que mantêm funcionando o cerne das principais empresas da Economia mundial,
chega a 141 processadores e executa 110 bilhões de instruções por segundo... e
você achava que seu smartphone era
poderoso, né?
Como chegamos a tanta velocidade e tanto poder de replicar
informação? Eu acho que foi devido às preces dos monges copistas.
Por séculos, o conhecimento foi passado oralmente, de uma
geração a outra. A escrita foi desenvolvida e ajudou a preservar e transmitir melhor
esse conhecimento. Mesmo assim, a disponibilidade de material – pedra, argila,
material feito a partir de fibras vegetais – para registrar as informações de
forma a serem decodificadas e compreendidas, e a capacidade de registrar e
depois recuperar a informação, levou ainda bastante tempo para se ampliar.
Saber ler e escrever foi, por séculos, assunto árduo e
acessível a poucos. O conteúdo dos livros tinha de ser desenhado letra por
letra, formando as palavras individuais que se juntavam em frases e assim estruturavam
os temas registrados.
Livros – e toda forma de conhecimento escrito – era coisa
preciosa e única. A divulgação de qualquer obra requeria o concurso deles, os monges
copistas, que podiam levar anos para duplicar um livro.
Devem ter sido tantas as preces desses monges, que
finalmente a imprensa foi inventada, e a duplicação dos textos passou a
acontecer de forma cada vez mais abundante.
Mas foi no século XX, com a Informática, os computadores e
os meios eletrônicos de armazenamento de dados, que duplicar e divulgar
praticamente qualquer tipo de informação – escrita, sonora ou visual – se
tornou possível. O Copy/Paste foi a
resposta definitiva aos séculos de preces dos monges copistas.
Só que ficou tão fácil Copiar e Colar, que cada vez mais
gente junta as informações, ajeita a apresentação (mesmo tipo e tamanho da
fonte do texto), ou às vezes nem isso, e já passa o produto adiante, sem
aproveitar o conteúdo ou nem mesmo se interessar pela consistência do que foi
feito e da importância que aquilo poderia – ou deveria – ter.
Tomara que os monges copistas tenham orado também pelo amadurecimento e iluminação de seus sucessores, para não ficarmos apenas replicando as informações sem saber direito para que elas servem.
Um comentário:
Mesmo sem ter a menor noção do que seja z13, adorei seu texto. Acredito estar na geração entre o pai e o filho citados no artigo. Pesquisei em bibliotecas físicas! Ficava horas lendo um livro da bibliografia, ou do assunto pesquisado, e dali minha mente divagava. Mas chegava a conclusões próprias. Acho maravilhoso termos o Google, acessar milhares de bibliotecas ao mesmo tempo, mas é necessário pensar, digerir e concluir por si.
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