quarta-feira, 4 de julho de 2012

Dias de jogos


Hoje é quarta-feira, e como tem acontecido nas últimas semanas, tem jogo de futebol na TV, após a novela das 8 que começa às 9 e termina às 10.

Os fogos, comemorações e provocações começam antes do jogo, e se animam e crescem com o decorrer da partida.

Quando sai um gol, é possível ouvir na vizinhança, dos prédios mais estilosos até as casas mais simples, os gritos e palavrões que fazem mais barulho que os fogos - e, claro, muitos fogos, que assustam e traumatizam os cães e gatos, e não deixam ninguém dormir, inclusive quem não é fã ou fanático do glorioso esporte bretão que nas bandas tupiniquins os lusófonos tentaram chamar de ludopédio.

Gosto de futebol, assim como gosto de vários outros esportes - assisto jogo da segunda divisão da liga inglesa, rúgbi, futsal, não perco vôlei, etc. - mas o futebol é o mais emblemático do que vejo e não entendo: como tanta gente coloca num evento externo - o jogo de futebol - a responsabilidade por estar feliz ou não? 


Quando sai gol do seu time, o sujeito solta fogos - é barulhento, chato, assusta meus gatos e cachorro, mas ainda é razoavelmente aceito socialmente e "inofensivo". Só que junto com os gols, o dito cujo grita como um primata pré-Homo Sapiens, xinga qualquer um que não seja da sua tribo (torcedor do seu time) e provoca grosseiramente até a mãe.

Quando sai gol do time adversário, a coisa se repete, desta vez com os torcedores do time contrário e com os torcedores de qualquer outro time que foram xingados e ofendidos pelo primeiro torcedor...

Parece coisa de criança birrenta, mas são marmanjos que fazem isso.

O noticiário esportivo, muitas vezes pela falta de assunto enquanto não chega o dia dos jogos, incentiva rivalidades que acabam saindo do controle; as bebidas alcoólicas também incentivam a "paixão" e dão um bico, daqueles de beque de fazenda, na razão; dentro da lógica capitalista e consumista atual, torcedor bom é aquele que compra bastante - o jogo no pay-per-view, a camisa do clube (que muda regularmente e ainda tem o terceiro uniforme), cerveja, e várias outras coisas associadas ao time/esporte/jogo. Se começar a pensar, o sujeito não vai comprar tanto, então o estímulo constante, tanto explícito quanto sub-liminar, é levar o gajo a pensar cada vez menos, e reagir cada vez mais, e consumir, consumir, consumir...

E com isso, só reagindo, saem os palavrões, provocações, baderna, vandalismo, agressão gratuita...

Não sou contra a rivalidade; tirar sarro do adversário, fazer uma brincadeira, é parte da interação saudável, desde que se mantenha o respeito e a dignidade, e não ser mera desculpa para agressões verbais e físicas.

Em 1972, aos meus 10 anos e na minha primeira vez num estádio de futebol, meu pai me levou ao Pacaembu numa noite de rodada dupla, para ver Corinthians X Atlético Paranaense e Santos X Grêmio. Torcedores rivais se respeitavam, dividiam o mesmo espaço e aproveitavam o espetáculo que acontecia no gramado.

Sei que os tempos são outros, tanto dentro do estádio quanto no mundo todo, mas num planeta cada vez mais cheio (lotado) e globalizado, com interação cada vez maior das pessoas e a mesma quantidade de mesmos recursos naturais, se não nos esforçarmos em conviver melhor, com civilidade, respeito, dignidade, consciência e responsabilidade, que mundo deixaremos - inclusive com nossos exemplos - para as próximas gerações?

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