terça-feira, 10 de julho de 2012

Os Princípios e os Para

Praticamente todo mundo precisa de princípios para se encontrar, se posicionar no mundo, achar seu caminho na vida, viver em sociedade, conseguir conviver com os outros e consigo mesmo.

Também toda organização social tem seus princípios; os das empresas costumam ser para conseguir lucro de modo socialmente aceito, os dos países procuram (ou deveriam) ser para o bem-estar de seus cidadãos... e para viver bem - entenda-se estar física, emocional, espiritual e socialmente bem - os princípios religiosos deveriam servir.

Dadas as inúmeras diferenças culturais, etnogeográficas e históricas envolvidas, deixemos os princípios das religiões de lado, e olhemos algo mais simples, como alguns princípios filosóficos do Reiki:
1- Somente por hoje, não se zangue;
2- Somente por hoje, não se preocupe;
3- Somente por hoje, expresse sua gratidão;
4- Somente por hoje, seja aplicado e honesto em seu trabalho;
5- Somente por hoje, seja gentil com os outros.

ou do Yoga:
- Yama ==> cinco princípios de harmonia com os outros:
1- Satya --> benevolência
2- Ahimsa --> não-ferir
3- Asteya --> não-roubar
4- Aparigraha --> simplicidade
5- Brahmacarya --> consciência universal
-Nyama ==> cinco princípios de harmonia consigo mesmo:
6- Shaoca --> pureza
7- Santos'a --> contentamento
8 - Tapah --> serviço
9 - Svadhyáya --> leitura espiritual
10 - Iishvara pran'idhána --> busca da consciência da unidade

Mesmo parecendo mais simples que os dogmas e mandamentos religiosos, esses princípios não são fáceis de entender, aceitar e aplicar.
Essa constante luta cotidiana de todos nós com os princípios para nortear nossa vida nos leva a alguns comportamentos esquizofrênicos, quase sempre inconscientes, e é aí que surgem os três Para:

O primeiro é o Paradigma; para ajudar a entendê-lo, vou usar algumas definições que estão no livro "Quem somos nós?" (What the bleep we know?), de William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente:

"Um paradigma é como uma teoria, mas um pouco diferente. Uma teoria, como a de Darwin sobre a evolução, é uma ideia que procura explicar alguma coisa. Ela deve ser testada, provada ou negada, apoiada ou contestada por meio de experimentação e reflexão.
Um paradigma, por outro lado, é um conjunto de premissas implícitas que não se pretende testar; na verdade, são essencialmente inconsistentes. São parte do nosso modus operandi como indivíduos, como cientistas ou sociedade...
... Um paradigma jamais é questionado, porque ninguém pensa sobre ele.
O paradigma também pode ser visto como um sistema de crenças.
Um paradigma é como o sistema inconsciente de crenças de uma cultura. Vivemos e respiramos essas crenças; pensamos e interagimos de acordo com elas...
... Mudança de paradigma: novos olhos enxergando uma situação antiga...
... Quando é pessoal, nós chamamos de atitude; se é cultural, chamamos de paradigma; se é universal, chamamos de lei. 'Como é dentro, é fora'."

Com isso, os princípios - ou a ausência deles - que elegemos, mesmo que inconscientemente, para guiar nossa vida, podem ser enquadrados como paradigmas. E geralmente funcionam bem, na maioria das vezes, até que então nos defrontamos com algo que nos faz querer ignorar, pois caso contrário ficamos muito desconfortáveis e podemos entrar em parafuso: Paradoxo, o segundo Para.

Paradoxo --> no dicionário Houaiss, tem uma porção de definições legais sobre ele:

1 proposição ou opinião contrária à comum
Ex.: o discurso despertou curiosidade pelos p. apresentados
2 aparente falta de nexo ou de lógica; contradição
Ex.: ter um romance platônico numa época de amor livre é um tremendo p.
3 Rubrica: filosofia.
pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, ou desafia a opinião consabida, a crença ordinária e compartilhada pela maioria
3.1 Rubrica: lógica.
no sentido lógico, raciocínio aparentemente bem fundamentado e coerente, embora esconda contradições decorrentes de uma análise insatisfatória de sua estrutura interna
3.2 Rubrica: filosofia.
no sentido existencial, presente em autores como Pascal (1623-1662) ou Kierkegaard (1813-1855), argumento chocante e inusitado por refletir o absurdo em que está imersa a existência humana

Resumindo todas essas definições: atitudes / ações / circunstâncias contraditórias, que não fazem sentido, apesar da base aparentemente coerente.
E assim chegamos ao terceiro Para: o Para-com-isso!

Para-com-isso é o resultado praticamente invariável de se aferrar a alguns paradigmas (princípios), segui-los sem questionar, sem racionar ou sem fazer as adaptações que a vida, sempre dinâmica, requer, e dar de cara com o paradoxo que nos chama à responsabilidade de sermos conscientes e assumirmos a responsabilidade por nós mesmos e pelo que fazemos.

Exemplo prático:
1- Paradigma: gosto dos animais, sou contra sua matança, então sou vegetariano - assim não é preciso abater animais para me alimentar. Gosto tanto de animais, que tenho gatos e cachorro - animais de estimação.
2- Paradoxo: eu não como carne, mas tenho de comprar carne e alimentos à base de carne, para alimentar os meus animais de estimação, que são carnívoros, e assim outros animais têm de ser abatidos para alimentar os meus bichinhos. Já me falaram de vegetarianos que passaram a dar ração exclusivamente vegetal aos seus cães e gatos, tentando assim fugir desse paradoxo. Funciona?
3- Para-com-isso: se levar o paradigma ao pé da letra, tenho de parar até de respirar, pois a cada inalação milhares de organismos unicelulares são mortos pelos processos de defesa e proteção do meu corpo. Como disse um conhecido meu, só falta os donos dos cães que recebem ração vegetariana quererem também que os totós parem de fazer au-au! e passem a fazer om-om!

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