sábado, 11 de agosto de 2012

Espírito olímpico, atualizado

Nesses últimos dias dos Jogos Olímpicos em Londres-2012 relembro o que assisti em várias modalidades e li na cobertura dos eventos, e o tão divulgado "espírito olímpico" - simplificação da frase atribuída ao Barão Pierre de Coubertin, "o importante é competir" - me parece ter sido reduzido a mero artifício de marketing.

Como assim? Em primeiro lugar, vi americano naturalizado brasileiro, ucraniano naturalizado espanhol, técnico argentino comandando time brasileiro, uma ginasta em sua quinta olimpíada e pelo terceiro país, e por ai vai... efeitos da globalização, ou da profissionalização também na prática esportiva, onde o atleta-técnico-trabalhador vai exercer sua função onde tem melhor remuneração?

Nada contra o sujeito buscar a melhor remuneração para seu trabalho; só não dá para engolir o discurso de patriotismo de políticos, dirigentes e parte da imprensa. Me lembra da famosa legião estrangeira, onde soldados de qualquer nacionalidade lutavam, por dinheiro, pela França (existem inúmeros outros exemplos na história, mas este talvez seja o mais conhecido).

Há muito tempo não se luta pela vitória do país, mas sim do empregador - seja ele um banco, fabricante de eletrônicos, cerveja, refrigerante, ou governo de país. O conceito de país ou de nação foi sendo minado pelo conceito da corporação que dá trabalho e gera recursos e riquezas? Hum, coisa para se pensar...

A segunda contradição a "o importante é competir" é ver as tantas críticas a quem não chega ao topo do pódio, principalmente aqueles que estavam com resultados vitoriosos ou considerados em boa fase. A crítica é ácida, implacável, e ignora no mínimo duas coisas muito básicas: assim como o Highlander, primeiro colocado só pode ter um; e a outra coisa é que retrospecto só cria expectativa, não ganha nada por antecipação.

E a pá de cal nesse conceito de que competir é mais importante que ganhar, vem nos muitos casos de doping e a busca constante de produtos e substâncias que aumentem o desempenho e não sejam (ainda) considerados ilegais, ou não possam ser detectados em exames.

Ah, e sem esquecer que outra frase muito divulgada - "esporte é saúde" - também é enganadora: esporte de alto nível, competitivo e contínuo faz mal à saúde, pelas lesões que causa e o custo ao organismo e ao equilíbrio (físico, emocional, psicológico, mental, espiritual, social) da pessoa.

 Como não vejo uma volta aos tempos mais românticos e patrióticos nos Jogos Olímpicos - e nos demais esportes, também - proponho parar com os eufemismos e discursos hipócritas/vazios, e criar outras categorias de disputa:

- Jogos Olímpicos Profissionais: para os atletas profissionais, os que hoje disputam as diversas modalidades dos Jogos Olímpicos. Essa categoria manteria as disputas de alto nível que hoje existem e os "empregos" desses atletas;

- Jogos Olímpicos Vale-Tudo: sem exame antidoping, sem controle de substâncias, uso de próteses e equipamentos adicionais liberados... já que na prática é "o importante é competir, desde que o vencedor seja eu". Produto direto da cultura de videogames e da mentalidade de querer vencer a qualquer custo;

- Jogos Olímpicos Amadores: só para atletas amadores, aqueles que trabalham em outra profissão e praticam algum esporte por hobby. Uma recompensa ao sujeito que realmente pratica esporte por gostar e sem necessidade de atropelar a ética. Tais atletas seriam cadastrados em seus países e escolhidos por sorteio do COI poucos meses antes dos jogos, para evitar que esses amadores ficassem com as mesmas condições dos atletas profissionais;

- Jogos Olímpicos do Povão (ou "Pelada Olímpica"): só para pessoas comuns, não-atletas, como aqueles que trabalham a semana toda e batem uma bolinha no domingo. Essas pessoas também seriam escolhidas por sorteio poucos meses antes dos jogos.
Essa categoria seria o maior incentivo a que os governos.desenvolvessem e mantivessem programas para cuidar da saúde da população e de desenvolver atividades esportivas e de lazer, pois qualquer pessoa poderia ser chamada a representar a pátria e mostrar a verdadeira cara do país, e não apenas os poucos profissionais patrocinados como acontece hoje.

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