quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Solto
(Isto é um ótimo jeito de dizer que estou tão perdido quanto o mítico cachorro que caiu do caminhão em dia de mudança, que Alá o proteja).
Confuso, difuso, não-presente, por causa de reflexos da interferência de alguma outra realidade que não é esta aqui.
Um instante de dessintonia com o pulsar do universo.
Um dia daqueles que só deveriam existir em livros (ou blogs, para ser mais atual), para as pessoas saberem o que não fazer ou que não deveriam estar ali.
Mas, como Alice seguindo o tal coelho branco, caio no buraco do improvável, sonho acordado - ou alucino dormindo - e o mundo fica mais estranho do que já é naturalmente.
Ou, pior ainda, fica muito mais sem-graça, justamente porque ficou banal.
Vou vagando como o perdido elétron que saiu da camada mais externa de um átomo.
Enquanto outro átomo não me puxa para sua esfera de influência, vou aproveitando a viagem :-))
terça-feira, 20 de setembro de 2011
O cristal de inúmeras faces
Vejo a luz refletir-se em muitas delas, mas outras estão fora do meu campo de visão.
Quem está ao meu lado vê quase exatamente a mesma coisa que eu, com pequenas diferenças.
Quanto mais distante de mim, ao redor do cristal, para os lados, para cima e para baixo, mais diferente é a visão de quem estã nesses outros pontos.
E ainda assim, todas nossas visões são reais, corretas e concretas.
Esse cristal é a Verdade Absoluta, e as nossas visões parciais são nossas verdades particulares, relativas.
Para ver a Verdade Absoluta, preciso conseguir estar conectado e enxergar pelos olhos de todos os outros, ao mesmo tempo; seria estar em todos os lugares, ao mesmo tempo, e assim sempre ver a Verdade Absoluta, saber tudo.
Podemos até dar um nome específico para essa situação de conexão, onipresença e onisciência; pode ser Brahma/Vishnu/Shiva, Alá, Grande Arquiteto, Criador, Pai/Mãe Supremo, Deus...
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
O que é importante?
Fiquei dois dias sem acessar meu e-mail, e isso já foi o suficiente para quase 100 mensagens se empilharem, disputando meu tempo e minha atenção, com suas propagandas, powerpoints bonitinhos ou profundos ou descartáveis, avisos, recados, respostas...
Isso me lembrou de um estudo que dizia que atualmente uma edição do New York Times ou da Folha de São Paulo tem mais informação que uma pessoa comum do século XVII tinha durante sua vida inteira.
Some a isso os e-mails, facebook, tweeter, revistas, livros, sites, e tudo o mais que as pessoas têm para disputar sua atenção, e temos uma aceleração e sobrecarga dos processos mentais, sensoriais e cognitivos, como jamais houve na história do ser humano.
Assim como na minha pilha de e-mails, como se faz para distinguir o que é importante do que pode ficar para amanhã e do que amanhã já não terá sentido nem necessidade, sem precisar examinar item por item, gastando nesse processo as 24 horas do dia, a paciência, a energia e a sanidade?
Achei um indício de resposta no volume 4 de “Vagabond – A História de Musashi”, de Takehiko Inoue: num diálogo com o monge Takunen, este diz a Musashi:
“Se ficar apegado a uma folha, não enxergará a árvore.
Se ficar apegado à árvore, não enxergará a floresta.
Não deixar o espírito fixo sobre um único ponto.
Não ver o detalhe, para enxergar o todo.
Esse é o significado da verdadeira ‘visão’.”
Na minha interpretação, é parar de procurar quais são as coisas importantes e dar a elas a chance de se manifestarem, de serem sentidas. O que ainda não é importante terá o tempo certo de aparecer, e o que já não é mais importante, que siga para o arquivo morto do Tempo.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Férias do mundo (uma estória de solitude e solidão)
Hoje vi Sitar-rok na rua. Ele também me viu. E fizemos o que fazem todos os que se conhecem há séculos: agimos como perfeitos estranhos e nos ignoramos completamente.
Claro que hoje ele não se chama Sitar-rok. Este é o nome pelo qual o identifico, entre os tantos nomes que ele já teve. Assim como eu: tantos nomes, tantos corpos, tantas vidas, uma só existência, perdendo-se nas brumas do tempo...
Somos conhecidos como “As-mentes-incandescentes”, “Os-olhos-que-não-se-fecham”, “Aqueles-que-se-lembram”... Somos especiais, mas não únicos; outros como nós vagam espalhados por este mundo, entre a enorme maioria que passa por cada vida como que mergulhados num sonho vago e agitado, sem lembrarem-se de tudo o que já foram, de todos quem já foram, sem noção do que podem ser; apenas fiapos desencontrados de memórias, vagas sombras de outros dias e tempos fluindo pelos tortuosos corredores de suas mentes ainda imaturas.
Nós somos abençoados – alguns dizem amaldiçoados – com a capacidade de recuperar nossas memórias anteriores a esta vida. Perdemos a conta dos séculos e dos lugares que já percorremos. Rever, reconhecer, reencontrar os outros que também se lembram, já ficou monótono demais; constrangedor, até. Se há pessoas que não agüentam conviver com os outros por alguns dias, que dizer então de milênios? Então, nos damos um pseudo-esquecimento, evitamos encontros desajeitados e desconfortáveis, e seguimos em frente.
Já conquistamos o mundo, apenas para nos cansarmos dele. Reis, mendigos, mercenários, meretrizes, gênios, generais, ermitões, santos, monges, magos, guerreiros; o que ainda não fomos? Destruímos, criamos, inventamos descobrimos, alteramos, melhoramos; o que ainda não fizemos? Não podemos fazer mais por nós mesmos, que ainda não tenha sido feito.
Às vezes me sinto como que mergulhado num silencioso poço de pesar – que chamo de “meia-noite no poço das almas” - enquanto outros gritam ao vento; ecos do nosso passado inolvidável, tentando me alcançar. Estremeço quando tais vozes trazem lembranças tão doces, que até o coração há muito calejado dói ao ignorá-las, mas é o que deve ser feito. A saudade não prospera em nós; precisamos todos crescer e nos libertar – de tudo.
Eu escuto, deixo que as lembranças passem por mim e se dissipem como lágrimas na chuva, e espero a tempestade emocional amainar e o novo dia surgir. Veterano de mil guerras psíquicas, eu não caio mais no torvelinho vibracional dos que ainda se debatem contra a Lei. Nós somos grandes, mas a Lei é a Lei, e ela se sobrepõe a todos nós; nosso orgulho que se curve. Um dia, todos aqui aprenderão.
E que aprendam, amadureçam e se lembrem também os “sonâmbulos” que perambulam pelo mundo e dividem conosco a vida diária. Não podemos aprender por eles, mas precisamos que progridam, pois só quando houver tantos esclarecidos no mundo, atingindo massa crítica suficiente para mudar a psicosfera do planeta a ponto de alterar suas características físicas, é que poderemos romper nossa conexão energética com este mundo e com esta gente, e alçar vôo para outras plagas, voltando a percorrer o universo.
E percorrê-lo irei eu. Não sei o que os outros farão, mas eu já tenho em meu roteiro um punhado de buracos negros, supernovas e estrelas de nêutrons, tão remotos que mesmo o pensamento demora para chegar lá, e viv’alma não pensa em por ali se demorar. Depois de tantos milênios por aqui, entre bilhões de seres, preciso de umas férias do mundo.
Ser, Não Ser
Ser E Não Ser
Ser É Não Ser
Ser NO Não Ser
Eis as questões do Shakespeare Quântico-Zen, que nos levam a ser complementar, integral, universal, transcendente.
Assim, o antigo mandamento de Jesus, "amar o próximo como a si mesmo", quem diria, é quântico, ao nos levar a ver-nos no outro, não apenas em nossas igualdades, mas também em nossas diferenças, pois nossa fagulha divina é igual, e as semelhanças são as diferenças vistas sob a luz do Todo.
Se tememos o desconhecido e desconfiamos do que é diferente, é porque temos o desconhecido e o diferente também dentro de nós.
Fingimos não ver o interno, e assim o externo, que não conseguimos ignorar, nos incomoda.
Tentar suprimir a ambos (interno e externo) é igualmente imaturo, é uma tentativa de se refugiar em algo menor que o próprio Não-Ser.
Olhar para dentro, encontrar-se, aceitar-se e entender-se, traz a imediata integração com o externo; entedemos, então, que sempre Tudo foi uma Coisa Só - inclusive cada um de nós, com sua individualidade.
A Hora Certa
Me senti, novamente, como se tivesse caído do bonde do tempo várias curvas atrás, quando ele acelerou loucamente para acompanhar um mundo cujos relógicos continuam a dizer que passam-se 24 horas por dia, mas que desconfio que, por fadiga do material, essas 24 horas estão valendo, na verdade, menos de 16...
Quero uma ampulheta aferida e certificada!
A letra de Time, do Pink Floyd - uma das minhas músicas favoritas - já dizia isso, na década de 1970:
"...And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun
And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death
Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines..."
("...Então um dia você se toca que já se passaram
ninguém lhe disse quando começar a correr, você perdeu a largada
E você corre e corre para alcançar o Sol, mas ele está se pondo
dando a volta para nascer novamente atrás de você
O Sol é o mesmo em seu caminho relativo, mas você está mais velho
com menos fôlego, e um dia mais perto da morte
Cada ano está ficando mais curto, parece nunca haver tempo
Planos que deram em nada ou meia página de linhas rabiscadas..."
Que o tempo passa e tudo muda, são verdades incontestáveis do Universo (ao menos deste). Por isso, todos nós já ouvimos que existe o tempo certo e a hora certa para tudo.
Mas como saber qual é o tempo certo para cada uma das coisas que fazemos, se nem ao menos percebemos o tempo passando na velocidade medida pelos relógios?
A dica é: estar presente naquilo que fazemos, ao invés de apenas reagirmos aos estímulos mentais e emocionais que nos bombardeiam continuamente.
Estando presente, agindo e não reagindo, começamos a calibrar nosso próprio mecanismo de tempo, e então faremos o que está em sintonia conosco, e não o que os estímulos nos empurram a fazer.
Claro que a teoria é mais fácil que a prática, mas se não praticarmos, até a teoria esqueceremos.
Nesses últimos dias, pude sentir na pele como é isso, graças ao meu próprio consumismo - que cria espaço no bolso, ao gastar mais do que preciso, e tira espaço da casa, ao empilhar coisas que me pediam para serem compradas, mesmo que eu não soubesse quando nem como aproveita-las.
No meu caso, gibis, revistas, livros, CDs e DVDs são meu calcanhar de Aquiles, e meu malabarismo é equlibrar os gastos e as pilhas de material que se acumulam (e acumulam pó!) à espera de serem lidos, escutados ou assistidos.
Revendo a pilha de coisas a ler, encontrei algumas raridades: um livro com uma estória de espionagem britânica da época da Guerra Fria, comprado em 1977 (!); outro de espionagem britânica no século XIX, comprado antes de 1980; outro com uma estória ligada ao projeto da bomba atômica americana na Segunda Guerra Mundial, que ganhei ainda nos anos 1970; e outro com a biografia de um imigrante italiano no início do século XX, comprado em 2000.
Raridades, interessantes, mas... que passaram da hora. Quando foram comprados, havia interesse por eles, mas hoje os tempos são outros, os interesses idem, e assim, num gesto difícil para quem adora livros e ler, dei liberdade a estes livros - que em algum sebo, alguém os aproveite - e a mim mesmo: continuo com as mesmas 24 horas por dia para fazer tudo, então a prioridade deve ser para o que HOJE me chame a atenção, me emocione, me atraia.
A hora certa de ler aquelas estórias já passou; da mesma forma, a hora certa de vivermos certos aspectos e acontecimentos das nossas vidas está sempre em movimento, num dado instante chegam, e noutro instante acabam.
Reconhecer isso é fundamental para não vivermos angustiados tanto pelo que não fizemos, quanto pelo que ainda faremos.
Estar presente, consciente e participativo, é libertar-se das amarras que aceitamos que nos coloquem, e das que nós mesmos criamos.
E também é ter todo o tempo do mundo, mesmo sendo "apenas" 24 horas a cada dia...
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Trabalhadores invisíveis
Fiquei me perguntando como o distinto podia ser tantas coisas ao mesmo tempo, enquanto eu, embora tente também, mal dou conta de uma função principal na minha vida.
Revendo minha labuta diária, vi quanto tempo gasto com coisas banais, mas que tem de ser feitas: arrumar a cama, preparar a refeição, lavar os pratos, lavar a louça, lavar a roupa, cuidar do carro, pagar as contas, etc.
Isso toma tempo e gasta energia.
E não me lembro de ter visto, em nenhuma biografia, alusão a que o biografado fizesse alguma dessas tarefas mundanas, nem cuidar dos filhos; nossos ilustres desbravadores da mente e da criatividade tinham empregados e esposa para cuidarem dessas tarefas menos nobres, e assim podiam usar seu intelecto e sensibilidade para descobertas e criações que faziam avançar toda a raça humana.
Dessa forma, quando rendemos homenagem de admiração e reconhecimento a um Newton, por exemplo, devemos fazer o mesmo a tantos anônimos que criaram as condições propícias a que os gênios da ocasião pudessem dedicar-se exclusivamente a suas tarefas mentais e sensoriais.
Parabéns, trabalhadores invisíveis de ontem e de hoje! Qualquer um de nós que encare a louça suja do jantar e o passeio do cachorro saberá o quanto vocês (nós?!) também são importantes.