segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Hora Certa

Quando vi que já passava de 10 de setembro de 2011, a divergência entre o calendário astronômico e o meu calendário psicológico interno chegou, no mínimo, a 10 dias e 20 anos.
Me senti, novamente, como se tivesse caído do bonde do tempo várias curvas atrás, quando ele acelerou loucamente para acompanhar um mundo cujos relógicos continuam a dizer que passam-se 24 horas por dia, mas que desconfio que, por fadiga do material, essas 24 horas estão valendo, na verdade, menos de 16...
Quero uma ampulheta aferida e certificada!

A letra de Time, do Pink Floyd - uma das minhas músicas favoritas - já dizia isso, na década de 1970:

"...And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines..."

("...Então um dia você se toca que já se passaram
ninguém lhe disse quando começar a correr, você perdeu a largada

E você corre e corre para alcançar o Sol, mas ele está se pondo
dando a volta para nascer novamente atrás de você
O Sol é o mesmo em seu caminho relativo, mas você está mais velho
com menos fôlego, e um dia mais perto da morte

Cada ano está ficando mais curto, parece nunca haver tempo
Planos que deram em nada ou meia página de linhas rabiscadas..."

Que o tempo passa e tudo muda, são verdades incontestáveis do Universo (ao menos deste). Por isso, todos nós já ouvimos que existe o tempo certo e a hora certa para tudo.

Mas como saber qual é o tempo certo para cada uma das coisas que fazemos, se nem ao menos percebemos o tempo passando na velocidade medida pelos relógios?

A dica é: estar presente naquilo que fazemos, ao invés de apenas reagirmos aos estímulos mentais e emocionais que nos bombardeiam continuamente.

Estando presente, agindo e não reagindo, começamos a calibrar nosso próprio mecanismo de tempo, e então faremos o que está em sintonia conosco, e não o que os estímulos nos empurram a fazer.

Claro que a teoria é mais fácil que a prática, mas se não praticarmos, até a teoria esqueceremos.

Nesses últimos dias, pude sentir na pele como é isso, graças ao meu próprio consumismo - que cria espaço no bolso, ao gastar mais do que preciso, e tira espaço da casa, ao empilhar coisas que me pediam para serem compradas, mesmo que eu não soubesse quando nem como aproveita-las.
No meu caso, gibis, revistas, livros, CDs e DVDs são meu calcanhar de Aquiles, e meu malabarismo é equlibrar os gastos e as pilhas de material que se acumulam (e acumulam pó!) à espera de serem lidos, escutados ou assistidos.

Revendo a pilha de coisas a ler, encontrei algumas raridades: um livro com uma estória de espionagem britânica da época da Guerra Fria, comprado em 1977 (!); outro de espionagem britânica no século XIX, comprado antes de 1980; outro com uma estória ligada ao projeto da bomba atômica americana na Segunda Guerra Mundial, que ganhei ainda nos anos 1970; e outro com a biografia de um imigrante italiano no início do século XX, comprado em 2000.

Raridades, interessantes, mas... que passaram da hora. Quando foram comprados, havia interesse por eles, mas hoje os tempos são outros, os interesses idem, e assim, num gesto difícil para quem adora livros e ler, dei liberdade a estes livros - que em algum sebo, alguém os aproveite - e a mim mesmo: continuo com as mesmas 24 horas por dia para fazer tudo, então a prioridade deve ser para o que HOJE me chame a atenção, me emocione, me atraia.

A hora certa de ler aquelas estórias já passou; da mesma forma, a hora certa de vivermos certos aspectos e acontecimentos das nossas vidas está sempre em movimento, num dado instante chegam, e noutro instante acabam.

Reconhecer isso é fundamental para não vivermos angustiados tanto pelo que não fizemos, quanto pelo que ainda faremos.

Estar presente, consciente e participativo, é libertar-se das amarras que aceitamos que nos coloquem, e das que nós mesmos criamos.

E também é ter todo o tempo do mundo, mesmo sendo "apenas" 24 horas a cada dia...

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