segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Férias do mundo (uma estória de solitude e solidão)

Hoje vi Sitar-rok na rua. Ele também me viu. E fizemos o que fazem todos os que se conhecem há séculos: agimos como perfeitos estranhos e nos ignoramos completamente.

Claro que hoje ele não se chama Sitar-rok. Este é o nome pelo qual o identifico, entre os tantos nomes que ele já teve. Assim como eu: tantos nomes, tantos corpos, tantas vidas, uma só existência, perdendo-se nas brumas do tempo...

Somos conhecidos como “As-mentes-incandescentes”, “Os-olhos-que-não-se-fecham”, “Aqueles-que-se-lembram”... Somos especiais, mas não únicos; outros como nós vagam espalhados por este mundo, entre a enorme maioria que passa por cada vida como que mergulhados num sonho vago e agitado, sem lembrarem-se de tudo o que já foram, de todos quem já foram, sem noção do que podem ser; apenas fiapos desencontrados de memórias, vagas sombras de outros dias e tempos fluindo pelos tortuosos corredores de suas mentes ainda imaturas.

Nós somos abençoados – alguns dizem amaldiçoados – com a capacidade de recuperar nossas memórias anteriores a esta vida. Perdemos a conta dos séculos e dos lugares que já percorremos. Rever, reconhecer, reencontrar os outros que também se lembram, já ficou monótono demais; constrangedor, até. Se há pessoas que não agüentam conviver com os outros por alguns dias, que dizer então de milênios? Então, nos damos um pseudo-esquecimento, evitamos encontros desajeitados e desconfortáveis, e seguimos em frente.

Já conquistamos o mundo, apenas para nos cansarmos dele. Reis, mendigos, mercenários, meretrizes, gênios, generais, ermitões, santos, monges, magos, guerreiros; o que ainda não fomos? Destruímos, criamos, inventamos descobrimos, alteramos, melhoramos; o que ainda não fizemos? Não podemos fazer mais por nós mesmos, que ainda não tenha sido feito.

Às vezes me sinto como que mergulhado num silencioso poço de pesar – que chamo de “meia-noite no poço das almas” - enquanto outros gritam ao vento; ecos do nosso passado inolvidável, tentando me alcançar. Estremeço quando tais vozes trazem lembranças tão doces, que até o coração há muito calejado dói ao ignorá-las, mas é o que deve ser feito. A saudade não prospera em nós; precisamos todos crescer e nos libertar – de tudo.

Eu escuto, deixo que as lembranças passem por mim e se dissipem como lágrimas na chuva, e espero a tempestade emocional amainar e o novo dia surgir. Veterano de mil guerras psíquicas, eu não caio mais no torvelinho vibracional dos que ainda se debatem contra a Lei. Nós somos grandes, mas a Lei é a Lei, e ela se sobrepõe a todos nós; nosso orgulho que se curve. Um dia, todos aqui aprenderão.

E que aprendam, amadureçam e se lembrem também os “sonâmbulos” que perambulam pelo mundo e dividem conosco a vida diária. Não podemos aprender por eles, mas precisamos que progridam, pois só quando houver tantos esclarecidos no mundo, atingindo massa crítica suficiente para mudar a psicosfera do planeta a ponto de alterar suas características físicas, é que poderemos romper nossa conexão energética com este mundo e com esta gente, e alçar vôo para outras plagas, voltando a percorrer o universo.

E percorrê-lo irei eu. Não sei o que os outros farão, mas eu já tenho em meu roteiro um punhado de buracos negros, supernovas e estrelas de nêutrons, tão remotos que mesmo o pensamento demora para chegar lá, e viv’alma não pensa em por ali se demorar. Depois de tantos milênios por aqui, entre bilhões de seres, preciso de umas férias do mundo.

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