terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Coisas difíceis de entender (II): Halloween brasileiro

Em 27 de setembro comemorava-se - aliás, ainda se comemora neste nosso Brasil, em lugares onde a globalização não se enfronhou - o Dia de Cosme e Damião: dia de "fazer um agrado" às crianças, principalmente dando-lhes doce, pipocas ou guloseimas.

Com o contato cada vez maior entre os países e as culturas, aportou por aqui o importado o Halloween: comemoração americana do "Dia das Bruxas" (31 de outubro), onde o mote é sair fantasiado de algo mórbido ou "do mal", dar sustos nos outros e "pedir" - se bem que isso me soa mais como ameaçar - "gostosuras ou travessuras".

Conheci um americano que está há 30 anos no Brasil e ele quis me convencer que uma das coisas mais legais de sua adolescência no Oregon era o Dia das Bruxas, quando ele e seus amigos se fantasiavam de fantasma, monstro, lobisomem, vampiro ou algo assim, e ficavam a noite toda acordados pregando sustos nas pessoas ou pedindo (extorquindo?) guloseimas.

"It was fun!" (era divertido!) foi o que ele me disse, com olhos sonhadores relembrando aquilo. Ele é um cara legal, mas meu conceito de diversão é diferente disso... difícil de entender. No comprendo...

Divulgado em filmes, desenhos, internet, etc., esse conceito foi adotado por cada vez mais crianças e adolescentes por aqui, principalmente nos prédios de cidades como São Paulo. Até parece que o Dia de Cosme e Damião ficou só para os "caipiras" ou "atrasados".

Aos bandos, essa garotada sai pelos corredores, levando algazarra, gritaria, bagunça, até vandalismo, e com a anuência complacente (às vezes constragida de alguns) dos pais. Quem sabe esses pais pensem "antes lá fora no corredor do que aqui dentro"?

O fato é que, após anos indo pela via mais fácil - comprar balas ou chocolates para despachar logo da minha campainha os pidões pedintes (e ter sossego: o problema passa a ser do próximo vizinho), neste ano fui surpreendido pela algazarra e disparo incessante da campainha no dia 30 de outubro! Sem doces - que só compramos no próprio dia 31 - minha esposa escutou das crianças que, como o dia 30 era domingo, elas aproveitaram para pedir antes, pegar mais gente em casa e "livrar" seu próprio dia 31...Halloween com "jeitinho" brasileiro, folgado e descarado!

Desta vez elas saíram do meu - e de vários outros apartamentos - de mãos vazias.

Pensei  em falar para elas voltarem em 27 de setembro, mas diante da tarefa de ensiná-las sobre Cosme e Damião e de uma forma menos agressiva de interagir e receber guloseimas, percebi que deveria poupar meu latim e deixar que seus pais, ao receber os "pimpolhos" de volta mais cedo e mais frustrados, tivessem a oportunidade de exercer seu papel (dever!) de educadores.

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