quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Coisas difíceis de entender (III): Trânsito selvagem

Nestes dias que antedecem o Natal, o trânsito paulistano consegue bater novos recordes de congestionamento, poluição sonora e do ar, estressamento de pessoas e grosserias gratuitas.

Gente que, a pé, seria incapaz de fazer mal a uma mosca, quando entra em seu veículo se transforma em um incrível Hulk com quatro pneus. Parece que pilotar um veículo é a fórmula do Dr. Jekyll para virar Mr. Hyde.

Observando e tentando entender essa patologia espalhada por centenas de kms pela Paulicéia desvairada (e congestionada), acabei concluindo que é uma selvageria - retomada de aspectos selvagens -, pois além de mostrar o retrocesso ao primitivismo, há o estabelecimento de tribos bem específicas:

1- os "praondeuvô?": lerdos, perdidos ou atrapalhados.
Fáceis de identificar, pois dão seta para a esquerda e entram à direita, andam a 30 km/h na faixa da esquerda em vias de 60 km/h, andam devagar na sua frente sem motivo aparente e, quando o farol amarela, aceleram e te deixam pegar o farol fechado...

2- os "saidafrente!": entre outras coisas, não dão passagem, ultrapassam pela direita e pelo  acostamento, fazem retorno e conversões proibidas e arriscadas, são mais rápidos que a luz (antes do farol abrir já estão buzinando), querem revolucionar a física (acreditam que o deslocamento de ar causada pelo som de suas buzinas vai fazer o congestionamento fluir), fecham os cruzamentos... e acham que civilidade, gentileza e respeito são palavras abolidas em alguma dessas reformas ortográficas por aí.

3- os "motomen": quando abre o farol, parecem uma nuvem de marimbondos zumbindo, buscando todos os espaços visíveis e possíveis entre os carros.
Com manobras ágeis, radicais e velozes, arriscam o pescoço com a mesma facilidade com que xingam e ameaçam quem não os viu sair da primeira para a quarta faixa em menos de um segundo.
Coisa interessante é que seu número aumentou tanto que o maior obstáculo ao seu deslocamento entre os carros parados são eles mesmos: hoje há congestionamento de motos, no meio do congestionamento dos carros...

4- os "taxidriver": premidos pelo tempo, fator básico para fazer mais corridas e faturar mais (ou ter menos prejuízo), acabam, por necessidade, se comportando como um misto dos "saidafrente!" com os "motomen", buscando sempre avançar mais depressa e realizando manobras aparentemente impossíveis.
É justo dizer que, mesmo com essa pressão, vários deles conseguem se lembrar da cordialidade e da civilidade.

5- os "somnacaxa!": pilotam uma (gigantesca) caixa acústica sobre rodas, compartilhando com o mundo suas músicas e sons favoritos.
Identificáveis a um quarteirão de distância.

6- os "cargapesada": conduzem ônibus e caminhões pequenos, médios, grandes e muito grandes.
Tem uma baita responsabilidade (e habilidade) para conduzir toda aquela tonelagem.
Vale a pena ficar esperto e facilitar o trabalho deles - e ficar fora do caminho, também.
Em caso de dúvida no trânsito, eles sempre estarão certos, pois são maiores e mais pesados que os demais.

7- os "newbikers" (os "oldbikers" hoje vão de carro): de mochila, capacete e luzes piscantes - mas até hoje só vi com máscara para a poluição que o esforço físico os faz respirar em maior quantidade - eles são a "alternativa verde" para quem quer se locomover sem se preocupar com o suor nem precisar participar de reuniões corporativas.
Pena que muitos andem na contra-mão ou em calçadas, varem os faróis vermelhos e travessias de pedestres,
e achem que sempre serão vistos e respeitados pelas pessoas nos outros veículos e a pé.

8- os "tôcerto": aqueles que, como eu, acham que fazem tudo certo e sempre estão com a razão :-)

Um comentário:

Ilkinha disse...

Kkkkkkkkkkkk
Muito bom, Caozito!!!!!!!!!!! Não parei de rir!!!!!!!!
bjus