quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Guardas! Guardas!

Guardas! Guardas! (Guards! Guards!, no original), do inglês Terry Pratchett, o livro que acabei de ler ontem, tem mais uma estória que acontece em Discworld, um mundo redondo e achatado, com as águas do Mar Círculo desaguando eternamente pela Borda do Mundo e magicamente sendo repostas... e mágica é a tônica desse mundo em forma de disco, apoiado sobre as costas de quatro elefantes gigantescos, que ficam em pé nas costas da Grande A'Tuin, a Tartaruga Estelar que nada pela noite cósmica.

Em Discworld, numa sociedade com conhecimento e ética (ou falta de) semelhantes às da Idade Média, a Magia é que é real, e Ciência é algo de que pouca gente ouviu falar, menos gente ainda acredita, e quase ninguém consegue colocar em prática - afinal, é muito mais fácil usar os serviços de um feiticeiro, mago, bruxa ou qualquer outro ser com poderes mágicos, do que observar algo, analisar, pensar, concluir e construir em cima disso...

A série de estórias de Discworld nos faz lembrar de Monty Python, ou das estórias do Guia do Mochileiro das Galáxias (de Douglas Adams), por seu humor baseado em nonsense, ironia, crítica mordaz e sutil (e às vezes nem tanto), e boa dose de sarcasmo. Os dois primeiros livros da série - A Cor da Magia e A Luz Fantástica - são os mais engraçados, dentro daquele estilo de humor inglês que se ama ou se odeia.

Os demais livros, até chegar a Guardas! Guardas!, foram: Direitos Iguais, Rituais Iguais; O Aprendiz de Morte; O Oitavo Mago; Estranhas Irmãs; e Pirâmides. Todas essas estórias alternam trechos divertidos e outros nem tanto.

Em Guardas! Guardas!, os Irmãos Esclarecidos, uma minúscula sociedade secreta obscura, inescrupulosa e não muito inteligente (exceto por seu ambicioso Grande Mestre Supremo) resolve tomar o poder em Ankh-Morpork - as cidades gêmeas onde o resto da população também é, bem, obscura, inescrupulosa e não muito inteligente. Para isso, a sociedade secreta conta com um plano mirabolante: com o uso (não-autorizado) de magia (claro!) evocar um dragão - tipo de ser há muito tempo desaparecido em Discworld - e armar uma farsa onde um suposto descendente dos reis do passado, fantoche do Grande Mestre Supremo, enfrenta e elimina o dragão e assim, conforme a tradição, pode tomar o comando da cidade das mãos do patrício Lorde Vetinari, que é quem controla o Grêmio dos Ladrões, O Grêmio dos Assassinos, o Grêmio dos Mendigos e todas as outras instituições respeitáveis de Ankh-Morpork.

O plano vai bem, até o instante em que o dragão, que fora evocado contra sua vontade, e devolvido ao limbo mágico em que estava mais contra sua vontade ainda, consegue voltar a Ankh-Morpork por conta própria, e aí faz o que todo dragão inteligente e furioso faz: voa, queima, destrói, e é coroado rei...

Para enfrentar o novo soberano (que, conforme a tradição, quer devorar pelo menos uma donzela por mês) e impedir que Lady Ramkin - imensa, enérgica e aristocrática - seja devorada, entra em ação o pessoal da decadente e desacreditada Vigilância Noturna: capitão Vimes, sargento Colon, Nobby e policial-lanceiro Cenoura (um "anão" adotado, de 2m de altura); um verdadeiro Exército de Brancaleone. O problema é que o dragão voa, pesa 20 toneladas, tem pele encouraçada, já destruiu vários quarteirões da cidade e reduziu a cinzas todos que o enfrentaram, enquanto nossos herois (?) contam é com suas espadas, flechas e imensa falta de noção...

Com trechos cínicos  e divertidos, como "conhecimento é igual a poder; poder é igual a energia; energia é igual a massa; e a massa distorce o espaço. Assim, não só a biblioteca mágica da Universidade Invisível, mas toda biblioteca em geral, pode ser considerada como um buraco negro educado que sabe ler", a estória tem altos e baixos, mas cumpre seu papel de divertir e de não ser muito previsível.

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